Quem já jogou pelada sabe: quando o peladeiro é ruim ninguém se incomoda em marcar pois "a natureza marca"! No futebol como na política a correlação de forças pode ficar bastante assimétrica devido ao comportamento errático dos atores. Ontem a grande mídia noticiou a grande contribuição do PSDB (projeto de Tasso Jereissati) para o "aprimoramento" do Bolsa Família. A singela ideia resume-se em impor a condicionalidade do desempenho escolar ao acesso e manutenção do benefício. Trata-se da típica política pública soma-zero: zero como assitência social e zero como proposta pedagógica. Para não parecermos imparciais (rs rs rs) deixemos o "serviço sujo" para um dos melhores quadros da oposição, o César Maia:
"SENADOR TASSO JEREISSATI: ISSO NÃO É FUNÇÃO DA BOLSA FAMÍLIA! E É UM EQUÍVOCO CONCEITUAL!
1. O Bolsa Família é um programa de renda mínima com vinculações a obrigações sociais em relação ao filho estar na escola, ser vacinado, etc. Dirige-se a famílias abaixo da linha de pobreza e em especial a nível de indigência. São famílias, em geral, dirigidas pela mulher, com vários filhos. A vinculação à escola é um elemento que ajuda a reduzir a evasão, permite que dentro da escola, a criança identificada no cadastro tenha uma atenção focalizada da direção da escola e sua professora.
2. Vincular valores de Bolsa Família ao aproveitamento do aluno na escola, suas notas e avaliações, é um grave equívoco conceitual. Essa é tarefa da escola que em programas dos estados e municípios e com apoio federal, podem criar estímulos que reconheçam o desempenho do aluno. Incluir isso no Bolsa Família é confundir assistência social com educação. E ainda criar insegurança em relação ao programa. Não ajuda seu candidato a presidente."
15 comentários:
Aprofundando as metáforas futebolísticas:
Tremendo golaço, CONTRA.
Como já dissemos aqui e em outras searas.
bater em uma oposição dessas é como empurrar bêbado ladeira abaixo.
Vale lembrar que é cruel também!
Imagina só um menino ou menina de 6 anos de idade ser o responsável se sua mae e irmaos vao ter o direito de comer ou vao morrer de fome!!!!!
É muita insensibilidade!!!!
Isso, Brand, é o mais próximo que o demotucanato consegue expressar de sensibilidade "social".
Cruz credo.
Galera, tenho uma dúvida importante. Alguém sabe precisar o conteúdo do projeto de lei do Tasso? Pelo que eu vi nos jornais e pela reacao do governo, no congresso e com Lula, o recebimento do Bolsa Família nao é condicionado ao desempenho dos meninos. A novidade é a de um acrescimo, este sim condicionado pelo desempenho escolar. Inclusive a bancada do PT e do governo, menos Ideli Salvati, votaram a favor.
O próprio Lula ironizouo: "Se todo o mal que o meu governo puder causar é os meus adversários tentarem aprovar mais políticas sociais, ótimo".
É uma questao difícil sem dúvida avaliar o impacto deste acréscimo na vida dos afetados, mesmo sem o risco de perder o Bolsa Família. Mas de todo modo eu discordo de que se tratem de confundir conceitos (assistencia social e educacao), mas de uma possibilidade de vincular as duas coisas. Uma coisa é a renda mínima, que nao é posta em questao, outra coisa é a possibilidade de um plus. Nao sei se isto seria tao devastador para os afetados. Existe competicao entre eles, como em todo lugar. E as criancas, nao raro, ja sao afetadas pela necessidade de ampliar a renda. Nao sei... mas me pareceu uma possibilidade de vincular competicao com uma seguranca minima, o que é um pressuposto para a emancipacao sócio-economica.
um abraco,
Caro Roberto,
O debate é ótimo, mas veja:
Se houvesse alguma intenção de vincular a escolaridade com alguma competição, a proposta teria que ser outra:
Ao invés de punir o aluno com a retirada do benefício(a condição está expresa na proposta), o senador tucanalha deveria ter copiado a idéia de Cristóvão Buarque, que foi o primeiro a pô-la em Brasília, quando era governador do DF pelo PT.
A cada ano que houvesse desempenho satisfatório, uma bolsa adicional(13º)era depositado em uma poupança, sem possibilidade de resgate até o término do 2º grau.
Se queremos competição temos que premiar os melhores, sem esquecer que o aprendizado é um processo assimétrico(ainda mais em comunidades carentes), e que portanto, não se pode punir quem está em desvantagem dentro de um ambiente super desvantajoso.
Um abraço.
Vale lembrar que o bolsa familia beira entorno de 79 reais e mesmo que seja mais, ainda é muito pouco. Qualquer ganho adicional é decisivo para a família. Colocar esta responsabilidade em uma crianca é muito cruel.
Nao tem cabimento trazer o ideário da competicao selvagem do liberalismo "meritocrático" para quem vive na extrema miséria.
Os mecanismos tem que ser outros.
Eu discordo completamente disso.
Salve Ideli Salvatti!
Existe entao a coisa da retirada do benefício?
Por isso Brand, defendo a idéia da poupança, a cada fim de ano.
Ou seja, esse "plus" não se incorpora ao "patrimônio" da família, e fica como um simbolo da dedicação.
Eu prefiro(por mais ingênuo que pareça)enxergar esse "plus" como um símbolo de premiação pela dedicação, e não como um incentivo a competição liberal desenfreada.
Enxergar os pobres como incapazes de competir não seria também uma forma de segregá-los?
Ou seja, é preciso, pouco a pouco, inserir conceitos, que uma hora ou outra, essas crianças terão que enfrentar.
Ou não? O debate está aberto.
Roberto: eu vou procurar detalhes da proposta, mas o que saiu na mídia, parece que funcionaria como punição, sim.
PS: outro ponto para refletirmos:
Não são as crianças e a própria pobreza já um resultado acabado dessa competição meritocrática liberal?
Por que não ensiná-los a competir?
Douglas concordo que a competicao é inerente a vida, nao tem como fugirmos dela. Só que acho que importante que em estágios iniciais da vida exista um esfera de "benefícios" incondicionais. O principal deles é o afeto. O que é decisivo no sucesso dos alunos no colégio nao é o seu esforco pessoal(eu acho), mas sim o que está entorno da colégio, como a família. Mas isso é um outro papo.
Acho que os melhores alunos devem ser incentivados dentro da lógica escolar, e nao fora dela. Assim os melhores alunos podem ganhar cursos extras (linguas, esportes e etc), ou outros bens ligados a vida escolar. E nao no auxilio do sustendo do lar.
temos que garantir o direito a infancia para as classes pobres. Só as criancas da classe média tem direito a infancia. Isso significa tempo livre para estudar e brincar. nao devem se ocupar com atividades relacionadas ao trabalho e o sustento da vida doméstica, como é o caso das criancas pobres do Brasil.
Acho cruel criar este peso para criancas. Acho que isso nao é tutelá-las.
Mas isso sao impressoes vagas, podemos discutir mais.
Vamos lá,
Meu caro Brand, de certa forma, as crianças da classe média estão imersas em outras competições que lhe privam a mesma "inocência".
Enquanto pobres têm que trabalhar nas ruas, ou estudar para ganhar o bolsa-família, os de classe média são sobrecarregados com cursos, línguas, esportes, tratamentos de beleza, etc.
São expressões distintas de como o princípio de competitividade se instala em um país desigual, mas a essência permanece: crianças sem ser crianças, ou pela pobreza, ou pela necessidade de ter sucesso.
Mas parece que você não entendeu: a idéia da poupança é pessoal e intransferível pou seja:o dinheiro só pode ser sacado ao final dos estudos e ou, com 18 anos.
É, assim, um prêmio pessoal.
Mas voltando ao outro tema: competição para "los niños e niñas":
Eu também acho desumano impor a uma criança a responsabilidade de sustento familiar, ainda que essa obrigação esteja vinculada a uma tarefa que lhe dará maiores chances no mundo: estudar.
Mas veja que essa competição se dará de qualquer forma: quer se estiver no estudo, quer se esteja nas ruas, nos sinais, vendendo bala.
O problema é anterior:
Diminuir as diferenças de classe, para que essa competição seja menos assimétrica(pobres lutam por comida, e médios e ricos lutam por sucesso), e também medir(ou dosar)o quanto de competição é saudável e aceitável sobre crianças.
E lembre-se: até nas brincadeiras de criança essa competição se manifesta.
Caso contrário, não tem evolução.
Um abraço.
A responsabilidade de trazer uma renda decisiva para casa realmente é um fragelo. O cálculo meritocrático nao é e nao deve ser a lógica da vida familiar. A racionalidade economica nao pode se estabelecer enquanto critério para o valor que os filhos recebem dos pais. Mesmo que na classe média exista comepticao por sucesso, acho que o cálculo economico tende a ser mais impositivo justamente em famílias com menos renda, onde a luta é por sobrevivencia.
No entanto, a família nao esta solta no mundo e dentro dela, nas famílais de classe média também, se comeca a antecipar o que acontece "lá fora". Se as famílias pobres nao conseguem recursos para fazer esta antecipacao isto pode decretar a derrota de seus filhos.
Entao o desafio é como empoderar famílias para que elas, além de lares seguros, sejam este espaco de preparacao para a competicao social. Neste sentido, nao é so uma questao do liberalismo, é um fato social que se impoe a todos.
A proposta da poupanca é interessante, mas vejo um problema. O postergar do premio para um prazo muito longo, pouco tangível. Nao acredito nessa coisa de planejar o futuro, acho que ninguem faz isso. O que existe sao atualizacoes presentes da crenca no futuro, e isto depende de premios. O afeto dos pais, e a culpa por comprometer o futuro com nossas acoes presentes, parece ser o que faz uma crianca agir orientada pola idéia de futuro.
Por isso Brand nao acho a lógica da escola seja capaz de produzir, sozinha, o tipo de adesao e comportamento estudioso que ela pressupoe. Sem que, desde o comeco, as questoes da escola importem na relacao em casa, ou mesmo em outras relacoes com pessoas significativas, creio ser muito improvável a crianca desenvolver uma disposicao para os estudos.
A questao espinhosa aqui é como produzir nas pessoas determinadas disposicoes para agir assim ou assado.
Outra coisa que nao podemos perder de vista nisto é que nao é obvio que o futuro melhor sentido pela crianca como sendo o seu possível futuro passe por se tornar alguem estudioso. A vida rural nao é coisa do passado e o trabalho infantil no contexto da família e como forma de socializacao familiar nao é algo obviamente condenável, nem na cidade.
Um abraco,
Acho que Roberto traduziu, em linguagem científica o que disse:
trata-se de equiparar o ambiente meritocrático que incide sobre as famílias, e não extinguir as famílias desse ambiente, de forma artificial.
depois, ou durante o processo, medir e dosar o quanto de competição é desejável, e o quanto dessa competição não tolhe as escolhas de cada um sobre o próprio futuro a seguir, e no fim das contas, o que cada um entende como sucesso.
não dá para repetir, por exemplo, modelos como o coreano(alardeado sempre como bem sucedido).
a extrema pressão e cobrança elevou o número de suicídios entre jovens a níveis alarmentes.
mas por outro lado, nenhuma cobrança também não funciona.
a questão da poupança, meu caro pode ser melhorada para uma possibilidade de saque sazonal, desde que deixado algum para o "futuro".
eu concordo com você, Roberto, que a perspectiva de futuro nunca foi, culturalmente aceita aqui. mas o problema é esse: não tinha futuro.
na medida que essa possibilidade começa a se apresentar, temos que incluir na vida dessas pessoas esse traço de planejamento, ou pelo menos, incutir esses valores, por vários motivos:
para aproveitarem melhor o que as intervenções econômicas vão permitir, mas acima de tudo, para aumentar as possibilidades competitivas desse pessoal, que não mais terá a "desculpa" da carência daqui e duas ou três gerações.
um abraço.
Repeti o que disse mesmo rs.
Mas ainda tenho ressalvas quanto a idéia de que a direcao do futuro, enquanto uma dimensao que orienta a vida das pessoas, seja algo assegurado pelo fato do indivíduo poder internalizar esta orientacao. Acho que dispor de um futuro é muito mais dispor de condicoes sociais e institucionais (familia, escola, exemplos)que confirmem permanentemente a crenca no futuro, que vale a pena adiar o os premios e os prazeres.
Acho que a idéia de que existem indivíduos que projetam o futuro e outros que nao essencializa nas pessoas um processo social. Claro que existem estas diferencas, mas é preciso ver que as decisoes individuais sao encadeamentos fora da consciencia. bo
Na verdade Roberto, não há o conflito que você imagina entre as duas variáveis, elas são, a meu ver, indissociáveis:
É preciso TER, obejtivamente, esse futuro, ou seja, as condições materiais para que aconteça;
Mas essas condições não serão NADA se não houver a decisão de inaugurar o DEVIR.
Um é papel do Estado e da sociedade, mediado pelas instituições.
Outro está mais adistrito ao círculo pessoal do indivíduo(família), que mediará sua intervenção na realidade.
Mas não há um limite preciso entre essas duas esferas, e nem há como definir qual é causa é qual é efeito.
Bom, pelo menos isso não estava nas "orelhas" dos livros que não li.
Um abraço.
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