quarta-feira, 20 de abril de 2011

O futuro da comunicação


Do Observatório do Direito à Comunicação:


A Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular (Frentecom) lançada nesta terça-feira(19) tem o desafio de pautar no Congresso Nacional a reformulação no marco regulatório do setor. Quase 50 anos depois que o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT) protagonizou embates políticos nacionais,em 1962, 190 deputados federais de dez partidos - até o momento - têm o apoio de mais de 70 entidades da sociedade civil para enfrentar a falta de cumprimento e regulamentação da Constituição de 1988 nos capítulos destinados à comunicação.


A pressão sob o Congresso se intensifica pelo fato de a legislação vigente estar defasada em um ambiente de convergência tecnológica. A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) explicou o processo de construção da Frente: "A ideia vem da necessidade de um novo marco regulatório, que acompanhe os avanços tecnológicos e as necessidades da sociedade". Para a deputada, escolhida coordenadora da Frente, esta é uma continuação do processo que se iniciou com a I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em 2009.


A reativação do Conselho de Comunicação Social pelo Congresso foi pauta ratificada pelas entidades da sociedade civil presentes no auditório da Câmara dos Deputados. Rosane Bertotti, representante da Central dos Movimentos Sociais (CMS), reafirmou a necessidade da repercussão das atividades da Frente nos estados. "A luta pela democratização da comunicação começa no Congresso, mas deve iniciar a criação de frentes e conselhos regionais de comunicação", disse Rosane.


Já o deputado Emiliano José (PT-BA) ressaltou que os empresários foram convidados para participar da Frentecom, mas liderados pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert), várias entidades do segmento não formalizaram seu ingresso na Frente. Do campo empresarial, somente a Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom) e Associação dos Jornais do Interior do Estado de São Paulo (Andijor-SP) integram a Frentecom.


O deputado Emiliano avaliou que a concentração abusiva da propriedade é marca do panorama do setor no país. "Existe expropriação do direito da sociedade se comunicar corretamente. Não podemos continuar com um grupo de família interpretando o Brasil sob sua lógica e ideologia", completou o parlamentar baiano.


Outro assunto citado no lançamento foi o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) defendeu que o Fundo não deve ser usado nem por empresas privadas, nem para o superávit primário. Além disso, entidades da sociedade civil lembraram que a banda larga deve ser transformada em um serviço público com metas de universalização e não de massificação.


As atividades da Frentecom já começam no dia 27 de abril, quando a coordenação da frente se reunirá pela primeira vez. No dia 28 de abril, haverá uma audiência pública com o ministro das Coumunicações Paulo Bernardo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011


Contra todos os maus agouros recebidos depois que deixou a presidência, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, não poderia estar melhor - no âmbito internacional, lembrem-se. Apesar de a mídia tupiniquim insistir em desdenhá-lo, ele só recebe loas pelos lugares onde passa. Agora, segundo o historiador Eric Hobsbawm, Lula “ajudou a mudar o equilíbrio do mundo ao trazer os países em desenvolvimento para o centro das coisas”.

Do site uol: Ícone da historiografia marxista, ele se reuniu nesta quarta-feira (13) com Lula na residência do embaixador brasileiro em Londres, Roberto Jaguaribe. O convite foi feito pela equipe de Lula. Autor do clássico “Era dos Extremos”, Hobsbawm é considerado um dos maiores intelectuais vivos. Na saída da embaixada, ele deu uma rápida entrevista quando já estava sentado no banco de trás do carro, ao lado da mulher. Falando com dificuldade, o historiador teceu elogios ao governo Lula e disse que espera revê-lo mais vezes. O encontro durou cerca de uma hora e meia. “Lula fez um trabalho maravilhoso não somente para o Brasil, mas também para a América do Sul.” Em relação ao seu papel após o fim do seu mandato, Hobsbawm afirmou que, “claramente Lula está ciente de que entregou o cargo para um outro presidente e não pode parecer que está no caminho desse novo presidente”. “Acho que Lula deve se concentrar em diplomacia e em outras atividades ao redor mundo. Mas acho que ele espera retornar no futuro. Tem grandes esperanças para [tocar] projetos de desenvolvimento na África, [especialmente] entre a África e o Brasil. E certamente ele não será esquecido como presidente”, disse. Sobre o encontro, disse que foi uma “experiência maravilhosa”, especialmente porque conhece Lula há bastante tempo. “Eu o conheci primeiro em 1992, muito tempo antes de ser presidente. Desde então, eu o admiro. E, quando ele virou presidente, minha admiração ficou quase ilimitada. Fiquei muito feliz em poder vê-lo de novo.”
A respeito da presidente Dilma Rousseff, Hobsbawm afirmou que só a conhece pelo que lê nos jornais e pelo que lhe contam, mas ressalta a importância de o país ter a primeira mulher presidente. “É extremamente importante que o Brasil tenha o primeiro presidente que nunca foi para a universidade e venha da classe trabalhadora e também seja seguido pela primeira presidente mulher. Essas duas coisas são boas. Acredito, pelo que ouço, que a presidente Dilma tem sido extremamente eficiente até agora, mas até o momento não tenho como dizer muito mais”, falou.





sexta-feira, 8 de abril de 2011

Dilma e os 100 dias!!

Primeiro quero pedir desculpas pela nossa ausência. Estamos todos muito envolvidos com questões tantas, que, às vezes, nem dá tempo para escrever e para também evitar o "mais do mesmo."

Hoje, entretanto, achei um artigo interessante sobre a questão da religiosidade e a influência desta na campanha eleitoral:

Do jornal Valor:

Se a comparação são os oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva é de trégua que parece viver o poder nos primeiros 100 dias do governo Dilma Rousseff. Mas se a analogia é da presidente com a imagem que dela projetou a acirrada campanha eleitoral não é apenas de mais calmaria que se vive. Parece outro o país que há quatro meses parecia estar a caminho de se transformar numa república de incréus abortistas.

O tema sumiu de cena como entrou. A presença de uma presidente duas vezes divorciada no Planalto em nada altera a rotina de um país em que os abortos clandestinos continuam matando. Com ou sem bíblia a guiá-la, a oposição continua igualmente perdida.

Ainda parece difícil acreditar que uma campanha obscurantista como aquela chega e vai embora sem deixar sobras. Foi nesse rastro que, levado por um aluno, Antônio Flávio Pierucci acompanhou cultos de uma igreja pentecostal durante a campanha. O que assistiu ao vivo, do púlpito à internet, lhe dava conta da mais radical intromissão da religião numa disputa eleitoral.

Chefe do Departamento de Sociologia da USP e estudioso de longa data da religiosidade popular, Pierucci mergulhou no tema sob o temor de encontrar mais indícios do terreno que a fé havia ganho sobre a política.

Pois acabou concluindo o contrário. Em artigo que abre o mais recente número da Novos Estudos/Cebrap, chega a demolidora conclusão: a inflamada campanha teve um efeito secularizante.

s cultos a que assistiu na campanha não esqueceu dos sermões alertando os fiéis de que, eleita Dilma, os pastores seriam obrigados a fazer casamentos gays e a bíblia seria censurada. Em outros cultos, pastores conclamavam a audiência a gritar em uníssono em qual candidato eles não deveriam votar. Levantavam o braço direito e repetiam: Dilma, Dilma, Dilma.

Passando em revista os cultos, a internet, a imprensa, as cartas eclesiásticas e os santinhos, Pierucci está convicto de que a religiosidade das massas pregou uma peça naqueles que a tinham convocado a assumir o papel de protagonista da sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva.

Diz que o desfecho do primeiro turno, com a reação desordenada de Dilma à exploração de suas posições abortistas e a votação surpreendente de Marina Silva, contribuiu para reforçar as expectativas dos utilitaristas da religião. A confiança foi tanta que, no segundo turno, os estrategistas perderam o controle da direção.

O tiro saiu pela culatra, mas Pierucci achou por bem buscar nos estudos de comportamento eleitoral um nome para a coisa: efeito fariseu.

Baseou-se no termo cunhado por uma dupla de psicólogos da Universidade do Alabama, Larry Powell e Eduardo Neiva, que analisaram o insucesso do candidato republicano Roy Moore na campanha de 2006. Candidato ao governo do Alabama, Moore apresentava-se como justiceiro da moral e da religião - o "juiz dos Dez Mandamentos". Perdeu.

A derrota foi atribuída à tentativa excessiva de persuadir o eleitor da personalidade religiosa do candidato. Pierucci compara o slogan de Moore aos santinhos em que a foto de José Serra, por ele assinada, se fazia acompanhar da sentença "Jesus é a verdade e a justiça".

Os americanos recorreram a uma parábola do evangelho de São Lucas e apelaram ao efeito fariseu para explicarem a derrota de Moore. Na parábola, o fariseu exalta e se orgulha de sua prática religiosa fazendo-se passar por santo. Lucas diz que Jesus, nesta parábola, quis recriminar quem faz pose turbinada de devoto.

Pierucci não tem dúvidas de que, na campanha de 2010, o eleitor religioso viu excessos no emprego tático de um Serra piedoso explorando as fraquezas de uma pecadora. Isso teria neutralizado até mesmo reações desencontradas de Dilma, como o batismo televisionado do seu neto de 15 dias.

Ao fazer-se passar por santo, o candidato do PSDB desprezou o risco de que o bumerangue em brasa ardente do inferno poderia voltar. Foi o que Pierucci avalia ter acontecido quando, na metade de outubro, Sheila Canevacci Ribeiro relatou no Facebook o depoimento da esposa do candidato sobre sua experiência de aborto.

Filha de uma socióloga que havia sido candidata a vice-prefeita de Osasco (SP), pelo PSDB, Sheila foi aluna de dança de Mônica Serra na Universidade de Campinas.

Não se dizia portadora de uma denúncia porque Mônica, segundo relataria à jornalista Mônica Bergamo, da "Folha de S. Paulo", não havia confessado o aborto, mas usado sua experiência para demonstrar às alunas como traumas afetam os movimentos do corpo.

O relato ganhou a internet e logo chegou às igrejas. Eleitor costuma ter sua inteligência insultada durante as campanhas eleitorais de todas as cores ideológicas. Mas a de 2010 foi além. Dispôs-se a manipular a espiritualidade do eleitor.

Pierucci ficou até o fim do segundo turno na expectativa da reação. A insatisfação das igrejas com a terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos - um documento que se limita a tratar do aborto como questão de saúde pública e a recomendar o reconhecimento legal do casamento gay - era tamanha que ele não acreditava em capitulação. Some-se a isso o avanço da Igreja Universal - que não condena o aborto - no governo Lula e estava dada a medida do engajamento.

Ainda na quaresma, a campanha da fraternidade lançara o lema "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro" numa demonstração de que enfrentaria interesses materialistas satisfeitos no governo Lula.

E a reação efetivamente veio com o papa. Num encontro com bispos brasileiros às vésperas do segundo turno Bento XVI condenou a descriminalização do aborto e advogou o direito de os bispos emitirem "juízo moral sobre matérias políticas".

É à desproporção entre este engajamento e a resposta do eleitor que Pierucci atribui o efeito secularizante da campanha. E aposta que serviu de vacina ao uso desmensurado da religião em futuras disputas.

Entre o moralismo religioso mistificado e a liberdade de escolha na indevassável cabine de votação, o eleitor optou por esta última. Por mais desorganizada que pareça a orquestra, conclui, a religião consegue no máximo o papel de segundo violino.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política.

E-mail mcristina.fernandes@valor.com.br

quinta-feira, 17 de março de 2011

Dilma da Rede TV!

Li muitas críticas à presidenta Dilma na blogosfera quando ela começou a comparecer em programas de televisão, digamos, populares. Alguns diziam que ela estava se rendendo a grande mídia, a mesma que a descaracterizou durante toda sua campanha e agora estavam se aproximando para depois voltar à carga e detonar o Governo. Senti nesses textos um pouco de dor de cotovelo. Obviamente, o apoio recebido na campanha pela blogosfera foi positivo, enquanto a velha mídia se contorcia e tentava a todo custo desqualificá-la. O que não podemos esquecer é : apesar de não ser mais tão hegemônica, essa mídia ainda tem a maior audiência do que a internet. Muito pontual, ela foi ao programa da Ana Maria Braga e agora, ao da Hebe Camargo. Programas apresentados por mulheres e assistidos por mulheres de faixa etária específicas e que, talvez, acessem muito pouco a internet. Deu seu recado, se mostrou uma mulher simples, decidida e se disse igual a todas elas. Reforçou o seu objetivo como presidenta da República e mostrou seu orgulho por isso. Ponto para a presidenta. Ponto para a sua assessoria de comunicação.
Como dizia o velho Chacrinha: quem não se comunica, se trumbica. O resto, é dor de cotovelo !

terça-feira, 15 de março de 2011

Obama, quem diria, acabou na Cinelândia...


Depois da semana carnavalesca, centenas de blocos de arrastão e muito xixi nas ruas, quem diria, o carioca poderá conhecer ao vivo e em cores, o presidente dos EUA, Barack Obama. Segundo o site G1, ele fará um discurso à tarde, gratuito, aberto ao público e direcionado a todos os brasileiros?!!! A entrada será a partir de 11:30 h e o discurso do presidente será traduzido?!!!!
Resumo: finalmente se lembraram que o inglês não é nossa língua oficial, que o Brasil fica na América do Sul e que nossa capital não é Buenos Aires (será que lembraram disso mesmo?)
O site da embaixada dos EUA ainda promove um "concurso" e convida os internautas para que enviem mensagens em formato de vídeo ou texto para dar as boas-vindas ao presidente, também sugere que os participantes sejam criativos, “pois poderão ganhar um prêmio”. O primeiro lugar leva um Ipad, o segundo, um Iphone, e o terceiro uma camiseta do evento. Que coisa!! Estou pensando em participar com um cartaz, daqueles bem tradicionais: yankees, go home!
No cartaz postado acima, nas linhas pequenas abaixo você pode ler o seguinte: "importante: a fim de agilizar o seu acesso ao local do discurso, tenha em mãos somente sua carteira e documentos (bolsas e mochilas não serão permitidas)". Ou seja, se você conseguir passar pelo esquema de segurança num raio de 10 km, vai poder assistir esse momento histórico para o Brasil.
Alguns dirão que essa visita é simbólica, pode representar o reconhecimento dos EUA ao novo Brasil - mais forte economicamente e com sua política externa em dia - é, pode ser ou deve ser. Mas se fosse para optar, eu ainda preferirira mais uma semana atrás dos blocos de carnaval.

sábado, 5 de março de 2011

Nossa Fantasia

Bem, caros leitores, é Carnaval e embalada pela folia de Momo, saio de cena aqui no blog, e vou arrastar minha alegria por aí.

Deixo aqui a bela letra da Marchinha vencedora do Concurso Nacional de Marchinhas da Fundição Progresso e abaixo o vídeo.

Vou soltar umas serpentinas...

Nossa Fantasia
Eu quero a marcha mais bonita
Que toque em dias de folia
Quero eternas melodias
Embalando os blocos e seus foliões
Não quero a mera nostalgia
Que mora em carnavais de outrora
Quero é ser feliz agora
Com amor presente em nossos corações
Eu acredito que ainda exista espaço
Pra canção bonita que jamais morreu
Pois apesar de tantos descompassos
Posso ver palhaços loucos como eu
Vem, amor
Que hoje é carnaval
Vem cantar até raiar o dia
Vem, amor
Que hoje é carnaval
Ser feliz é nossa fantasia

quinta-feira, 3 de março de 2011

Quer ganhar uma eleição?

Na última eleição para a presidência ficou claro o que as posições conservadoras em relação ao aborto, religião e união civil entre casais homossexuais pesam na hora da escolha dos candidatos.
Algum candidato a uma eleição majoritária ganharia defendendo essas bandeiras hoje no Brasil?
O texto abaixo de Cynara Menezes  na Carta Capital analisa uma pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo, no ano passado.

Quer ganhar uma eleição?

Postado Por Cynara Menezes Em 2 de março de 2011 (17:02) Na Categoria Destaques CartaCapital


Então nunca defenda a descriminalização da maconha ou do aborto nem se declare ateu ou umbandista. Por Cynara Menezes. Foto: Istockphoto

O pesadelo do eleitor brasileiro é um candidato, homem ou mulher, que se declare a favor da legalização do aborto e da maconha, que diga não acreditar em Deus ou que professe religiões afro-brasileiras. Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc, divulgada com exclusividade por CartaCapital, aponta para um perfil assustadoramente conservador do eleitorado, que se reflete sobretudo na corrida pelos cargos majoritários. A guinada conservadora de José Serra na última campanha teve seu cálculo: está comprovado que ser progressista, em termos morais, tira votos.

A pesquisa foi feita em agosto do ano passado, antes da disputa pela Presidência. Foram ouvidos 3.546 eleitores de ambos os sexos em todo o País. O lado bom da história foi descobrir que nos últimos dez anos aumentou o interesse das mulheres pela política e que passou a ser considerado importante que existam mais representantes do sexo feminino em cargos públicos – está aí a presidenta Dilma Rousseff para confirmar. Também se viu que, para o eleitor atual, praticamente não existe diferença no fato de o candidato ser homem ou mulher. E até que seja gay, desde que não defenda a união civil entre homossexuais, razão de rejeição de um candidato por 43% do eleitorado. A maioria (52%), respondeu que sim, poderia votar em um político com essa bandeira.

Eleito deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro com pouco mais de 13 mil votos, Jean Wyllys se espanta com o resultado da pesquisa: “O bicho-papão dos eleitores sou eu”. Militante dos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), defensor da descriminalização da maconha e do aborto e praticante do candomblé, mesmo tendo se tornado bastante conhecido no País ao vencer uma edição do reality show Big Brother, Wyllys só chegou ao Congresso graças ao desempenho de seu companheiro de partido, Chico Alencar, que recebeu 240 mil votos na disputa e foi o segundo mais votado no estado.

Com a senadora petista Marta Suplicy, Wyllys reúne assinaturas para compor a Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT. O tabu é tal em torno do assunto que até agora ele só conseguiu 78 das 171 assinaturas necessárias para a criação da frente. E, mesmo assim, porque firmou o compromisso de não divulgar os nomes dos deputados, para não “contrariar as bases”. Sabe-se que tem gente do PT, do PMDB, do PSOL, do PPS, do PSDB e até do DEM, mas muitas vezes a questão religiosa supera a partidária. A petista Benedita da Silva, por exemplo, recusou-se a se unir ao grupo por ser evangélica.

No fim de janeiro, o portal de notícias G1 ouviu 414 dos 513 deputados para saber sobre sua opção religiosa. Quase 75% se disseram católicos, ou 309 parlamentares, enquanto 43 (10,4%) se declararam evangélicos, e 8 (1,93%) espíritas. Os possíveis praticantes de religiões afro-brasileiras – umbanda e candomblé – e os ateus ficaram ocultos entre os 41 parlamentares abrigados sob a nomenclatura “nenhuma religião, outras ou não respondeu”. Entre os deputados e senadores, existem pastores evangélicos e já houve ex-sacerdotes católicos. Nunca apareceu, porém, nenhum pai de santo.

“Muitos aqui devem praticar o candomblé ou a umbanda às escondidas, assim como devem ter levado companheiras para praticar o aborto às escondidas. Não têm coragem de vir a público nem para se dizerem praticantes de ritos afro-brasileiros nem para se manifestarem a favor da descriminalização do aborto. O mesmo ocorre com o eleitorado”, opina Wyllys.

Segundo o professor de Ciência Política da USP Gustavo Venturi, que coordenou a pesquisa, a discriminação das religiões de matriz africana já é velha conhecida no Brasil, principalmente pela demonização dos ritos feita por parte dos neopentecostais. O que não se sabia era como atingia o eleitor na hora de votar. “A pesquisa mostra que ainda existe um conservadorismo grande em termos de valores morais e comportamentais”, avalia Venturi. “São questões que não mudam mesmo com a inclusão no mercado de consumo das classes mais populares, porque são de maturação lenta.”

Um político, diz o pesquisador, que se apresentasse na campanha abertamente como praticante do candomblé e simpático à ideia de descriminalizar as drogas e o aborto, neste momento, jamais seria eleito para um cargo majoritário no Brasil. “Com a eleição em dois turnos, ter posições controversas deixa um candidato ainda mais longe da vitória.”

A solução estaria em promover discussões públicas. “Para chegar a uma liberalidade efetiva é necessário haver debates específicos, e fora do período eleitoral. Durante a campanha, é até melhor que esse debate nem aconteça, porque é superficial”, afirma Venturi.

E no Ibope… Nem 10% da população aceita que uma mulher aborte por vontade própria

Em novembro de 2010, A ONG Católicas pelo Direito de Decidir, favorável à descriminação do aborto, resolveu encomendar ao Ibope uma pesquisa para saber se, de fato, os brasileiros eram tão contrários à prática quanto pareciam, dado o interesse em explorar negativamente o tema na eleição presidencial. Os resultados foram ainda piores do que o esperado: apenas 9% dos 2002 entrevistados em 140 municípios do País se disseram favoráveis à realização do aborto no caso mais comum, quando o anticoncepcional falha. E só 8% quando a mulher diz não possuir condições econômicas para ter uma criança.

Os brasileiros demonstraram estar preparados para admitir o aborto somente em circunstâncias em que ele já é legal, como o risco de vida para a mãe e em casos de estupro, e na evidência de má-formação do feto, ainda sob apreciação do Supremo Tribunal Federal. “Tínhamos a expectativa de que a situação estivesse melhor, mas a posição conservadora se manteve”, diz Rosângela Talib, uma das coordenadoras da ONG. “Os setores mais conservadores colocaram a descriminação do aborto como se representasse assassinato de crianças. E, infelizmente, parece que esse discurso colou. Temos um caminho de discussão com a sociedade ainda longo pela frente.”

Os números da pesquisa indicam que o Brasil deverá demorar muito tempo até aprovar a descriminação do aborto, como aconteceu na Espanha, em Portugal e na Cidade do México. Lá, os temores de que, com a liberação, os casos de interrupção da gravidez aumentassem não se concretizaram. “O que ocorre num primeiro momento é que, como há uma demanda reprimida, o número de abortos cresce, mas logo se estabiliza”, defende Rosângela. “Ninguém em sã consciência é a favor do aborto, o ideal seria não precisar abortar. O fato é que, quando se descrimina a prática, amplia-se a conscientização e o uso de métodos contraceptivos, porque a mulher tem mais acesso à saúde pública. Este, sim, é o objetivo principal.”

Um dado positivo da pesquisa é que a maioria dos entrevistados opinou que a decisão de ter ou não um filho é exclusiva da mulher, não de uma igreja, do governo, do Judiciário ou do Congresso. Infelizmente, elas dependem dos legisladores para que essa decisão majoritariamente sua seja possível. Por ser a defesa do aborto um assunto proibitivo, do ponto de vista eleitoral, quem terá coragem de tomar a iniciativa de recolocá-lo em debate?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Partido dos Trabalhadores "cumple años"


O aniversário de 31 anos do Partido dos Trabalhadores se faz oportuno não só para celebrarmos o projeto político-partidário de maior êxito da esquerda brasileira, como também para exercício dialético da reflexão (auto)crítica.

O acúmulo de experiências dessa já longeva história permite um balanço mais detalhado do seu papel na vida pública nacional. Um dos aspectos mais interessantes desse ator coletivo é o fato de ter construído (e se constituído) uma trajetória inovadora no campo de esquerda, pois ao contrário do modelo revolucionário predominante de linha leninista-vanguardista ("guerra de movimentos") com vistas à tomada do Estado, o PT sempre exerceu seu desejo de protagonismo atuando como um ator gramsciano espontâneo. Isto é, na ausência um plano a priori da ação estratégica, o PT fez do trabalho de mobilização, organização e articulação dos diferentes atores da sociedade civil sua razão de ser e com isso jogou um papel decisivo no processo de redemocratização do Brasil. A sua polifonia interna, além de representar tendências ideológicas demarcadas da tradição de esquerda, serviu de reflexo da pluralidade de vozes oprimidas, excluídas e minoritárias de nossa vida política. Portanto, além contribuir para o fim da ditaduta militar, nas últimas 3 décadas o PT foi decisivo para a organicidade dos interesses e das vontades da cidadania brasileira.

Esse "triunfo da vontade" democrática ganhou concretude na década de 90 com as primeiras gestões estaduais e municipais do partido nas quais, sob a égide do "modo petista de governar", não só invertemos prioridades administrativas e orçamentárias como desenvolvemos um conjunto inovador de políticas públicas (nas quais destaca-se a noção de orçamento participativo!).

Contudo, foi na participação permanente nas campanhas presidenciais desde 1989 que o PT fixou sua marca e consolidou a sua principal liderança. A eleição de Lula para Presidente em 2002 (como também da 2ª maior bancada da Câmara dos Deputados) pode ser considerado a feliz conclusão de um trabalho árduo de construção coletiva. Entretanto, tamanho crescimento não se faz sem custos e crises. A aquisição progressiva de competitividade eleitoral equivaleu tanto a um pragmatismo político ideológico como a um desencanto de um certo essencialismo ético do qual o partido e sua militância julgavam-se detentores monopolistas. Ou seja, o processo de profissionalização da atividade política-partidária (com o hegemonismo interno da articulação e do modus operandi seus operadores), fundamental para a eficiência organizativa e para os sucessos eleitorais consecutivos, equivaleu a um estranhamento progressivo com relação as tarefas de vocalização da sociedade civil (fonte de força originária e democrática do PT). Aliás, a macro estratégia político-eleitoral PT de 2010, fator decisivo para a vitória presidencial de Dilma e para a eleição da maior bancada de deputados federais e a 2ª de senadores, reforça e legitima essa tendência. Pois, ao mesmo tempo em que consolida o poder central do PT e cristaliza o governo de coalizão com o PMDB, o descredencia nas esferas estadual e municipal. Na verdade, tal condomínio de poder do PT e PMDB consagra uma espécie de divisão de trabalho entre eles: dividir o poder reforçando suas áreas especializadas de atuação e influência (nacional e local). O que é no mínimo problemático para consistência das políticas públicas! É só observar o quadro tétrico em que se encontra a educação pública no nosso estado e contrastar com as instituições federais de educação.

O elemento trágico desse enredo, uma espécie de "pacto mefistofélico" contemporâneo, encontrou no caso "mensalão" sua tradução plenamente kitsch: a adesão eficiente à realpolitik ordinária de nosso campo político transformou-se no "maior caso de corrupção de todos os tempos". O ridículo dessa ópera bufa não intimidou os arroubos golpistas tanto da velha mídia como dos partidos da oposição neoliberal. Pelo contrário, esse veneno contaminou toda cultura política e interditou o debate qualificado de nossa esfera pública: ao contrário de debatermos os grandes temas nacionais somos cativos de ciclos de denuncismo pseudomoralizador. O mais irônico é que a causa estrutural da corrupção política, nosso "sistema" de financiamento eleitoral, nunca é debatida à vera!

Um outro fenômeno colateral dessa "crise de crescimento", e reflexo do sucesso inegável dos dois Governos do PT sob a liderança de Lula, é o chamado Lulismo. O fato é que se "vontade geral" do povo brasileiro vem convergindo para a "vontade de todos" das votações do PT, o seu portador pessoal e intransferível é Lula. O governo Dilma, de perfil gerenciador e carente de discurso político, tem em Lula uma espécie de fiador institucional oculto (nada como a expectativa, mesmo que virtual, de poder!).

Pois bem, essa intensa e vitoriosa história parece qualificar o PT para os novos e crescentes desafios coletivos. Esperamos que o partido e suas principais lideranças estejam a altura deles.

O irônico dessa avaliação, da existência do espaço desse blog (para além do "recorte geracional"!) e do sui generis orgulho político implícito contido nela, é que ela ocorre num dos "elos mais fracos" dessa vida institucional. Com certeza o PT do estado do Rio e de Campos são daquelas esferas partidárias que menos contribuem para a luta pela hegemonia política em nossa sociedade. Para além da qualidade nossa virtú política e organizativa, essa parece ser uma daquelas situações adequadas ao velho e sábio argumento estóico:

"Há o que depende de nós; há o que não depende de nós. Dependem de nós a opinião, o impulso, o desejo, a aversão, numa palavra, tudo aquilo de que somos os próprios agentes. Não ependem de nós o corpo, a riqueza, a reputação, os altos postos, numa palavra tudo aquilo de que não somos os próprios agentes."

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lula no FSM




Deu no Blog do Rovai:

A grande atração de hoje no Fórum Social Mundial foi a mesa da qual participaram o ex-presidente Lula e o presidente do Senegal Abdulaye Wade. Lula falou antes do senegalês. Sorte do público, que teve a liberdade de ir embora depois da fala do brasileiro sem ter de ouvir uma empolgada defesa do liberalismo econômico.

Lula deu sinais no discurso de hoje que começou a desencarnar. Na entrevista concedida aos blogueiros em dezembro ele disse que precisa de um tempo fora da presidência para poder começar a falar alguma coisas. Seu discurso voltou a ser mais petista. E de um petismo fora do governo. O que pode ser muito interessante para puxar o partido para uma linha menos recuada.

Lula falou sem meias palavras que a crise financeira de 2008 comprovou que o consenso de Washington e a agenda neoliberal fracassaram. Que os países ricos sempre trataram a periferia do mundo como problemática e perigosa e que só quando a crise atingiu o centro do capitalismo mundial é que eles buscaram dialogar com esse setor pra tentar resolver o problema deles.

Também deu pau na direita européia e estadunidense “que aponta a imigração como responsável pela corrosão do sistema econômico dos seus países”.

Chamou a elite africana na chincha e deu recados explícitos ao presidente senegalês. “Não há soberania efetiva sem soberania alimentar. As savanas africanas têm 400 mil hectares e só 10% disso é aproveitado para agricultura. Mesmo assim, 1/ 4 de toda a produção de alimentos do continente vem dali. É preciso começar a mudar essa situação”.

O futuro presidente de honra do PT também afirmou que “é fundamental a criação do Estado Palestino que tenha condições de se desenvolver e que conviva em paz com Israel”.

E lembrou que, em 2005, quando visitou a Ilha de Gore, pediu perdão em nome de todos os brasileiros pelo período de escravidão no seu país. Mas acrescentou: “a melhor maneira que temos de fazer essa reparação não é só pedir perdão, mas lutar por uma África justa”.

No âmbito das organizações internacionais, Lula disse que o G20 não tem sensibilidade para o problema da fome e para outras questões que deveriam ser prioridades no mundo. E que enquanto presidente do Brasil nunca foi chamado para uma reunião dos países ricos. “Só fomos chamados quando eles entraram em crise.”

Ao final Lula provocou os presentes dizendo que não bastava ser militante só durante o FSM, mas que era preciso sê-lo durante os 365 dias do ano. Depois desse discurso forte e posicionado de Lula, traduzido pelo sociólogo Emir Sader para o francês, o presidente do Senegal iniciou sua fala também de forma forte e posicionada.

Mas dizendo que era partidário da economia de mercado, porque a economia de Estado havia sido um fracasso onde tinha sido implantada. Mas que achava que a economia de mercado precisava de um regulação do Estado liberal. Para na seqüência perguntar à platéia: “Por que o liberal que eu sou abre as portas do seu país para um evento como Fórum? Para responder em seguida que é porque ele acha importante o debate de idéias.

A intervenção de Abdulaye Wade só não foi mais constrangedora, porque o público do FSM deu mais uma demonstração de grandeza e sabedoria política e não o deixeou falando literalmente sozinho. Algumas pessoas saíram do auditório durante sua “aula de neoliberalismo”, mas a maioria respeitou o contraditório. E ficou até o final.

Um pouco antes de terminar, Abdulaye Waded decidiu fazer uma pergunta meio boba à platéia, até de forma deselegante, dizendo que achava que nesses 10 ano o FSM não tinha conseguido nada de concreto e se tinha o que era?

Teve de ouviu um grito em uníssono de Lula, Lula, Lula que ecoou por uns 3 minutos na sala. Lula estava no 1º FSM, em 2001, antes de ser eleito presidente da República. E veio ao FSM de Dacar para fazer a seu primeiro discurso político público após deixar a presidência.

A provocação de Abdulaye Wade serviu para muitos altermundistas reivindicarem o ex-presidente Lula também como um símbolo internacional deste processo.

Aliás, não seria nada mal que Lula assumisse bandeiras do FSM e saísse por aí como um mascate de um outro mundo possível.

No comando mas sem igualdade

Reproduzimos o texto da jornalista argentina Matilde Sánchez, publicado no New York Times.
Sánchez aborda a questão do aumento significativo da representação política das mulheres na América Latina e ainda a questão do controle de natalidade e do aborto, tabu na maioria dos países do continente.

Buenos Aires

A eleição de Dilma Rousseff como presidente do Brasil gerou uma onda de euforia e colocou a América Latina na linha de frente da representação feminina na política mundial. A onda de mulheres eleitas presidentes vem, na verdade, dos anos 1990: Nicarágua, Chile e Panamá, aos quais se somaram na década seguinte Costa Rica, Chile, Argentina e agora o Brasil. Otimistas dizem que tal ascensão demonstra que as mulheres romperam o "teto de vidro" nesta região, onde o machismo ainda é disseminado.

A ascensão das mulheres às posições de poder é uma consequência direta das "leis de quotas" hoje adotadas por vários países da região, que preveem um mínimo de 30% de mulheres nos cargos eletivos.

Segundo a mais recente pesquisa encomendada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Equador lidera, em termos de participação feminina no Parlamento, com mais de 25%, seguido de perto por Costa Rica, Argentina e Peru.

Mas a ascensão das mulheres não se reflete em todos os setores da sociedade. Embora elas representem 53% da força de trabalho na América Latina, segundo o BID, poucas ocupam os altos escalões nas empresas e nas finanças, e os salários ainda são bem inferiores aos dos homens. E, em outros campos que afetam o bem estar feminino, como adolescentes grávidas e violência doméstica, a região também está bem atrás.

Uma das questões complicadas que os argentinos ouvem dos turistas que visitam Buenos Aires é por que o aborto só é legal para deficientes vítimas de abusos sexuais ou em gestações de alto risco, se a Argentina se tornou o primeiro país latino-americano a permitir casamentos homossexuais.

O casamento gay foi aprovado em 2010, e exatos seis países da região se preparam para seguir o exemplo.

Já a Cidade do México descriminalizou o aborto em 2007. No final de 2008, o então presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, vetou uma lei sobre aborto que havia sido aprovada no Congresso.

Em agosto do ano passado, a Human Rights Watch relatou proporções alarmantes de abortos na Argentina: 4 em cada 10 gestações no país eram interrompidas, uma das maiores taxas na América do Sul, apesar de um novo programa governamental que oferece acesso gratuito ao controle de natalidade. Segundo as pesquisas mais recentes da Human Rights Watch, em média 20% de todas as gestações na América Latina terminam em aborto -dos quais 4,5 milhões são feitos ilegalmente, e a gestante morre em 21% desses casos.

Algumas presidentes tentaram liberalizar suas políticas de gênero, mas isso fez delas alvos políticos. No Chile, Michelle Bachelet enfrentou forte oposição em seus esforços para oferecer gratuitamente a pílula do dia seguinte. Acabou tendo sucesso, em 2009, após quatro anos de luta. No Brasil, Dilma retirou suas declarações em favor do casamento homossexual e da descriminalização do aborto após sofrer duras críticas dos bispos e do papa Bento 16.

Nem sempre é possível contar com as líderes femininas na busca por políticas para as mulheres, disse Marta Lamas, antropóloga da Universidade Nacional Autônoma do México. "A lei de quotas não garante que as funcionárias cumpram uma agenda feminista", disse ela.

Lamas acrescentou que governos esquerdistas na região relutam em se voltar contra forças poderosas. "A Igreja Católica transformou sua luta contra o aborto em sua doutrina e bandeira, enquanto está claramente perdendo a batalha contra a homossexualidade."

Marianne Mollmann, diretora de ativismo da Divisão de direitos femininos da Human Rights Watch, lembra que nem todas as mulheres são feministas, e nem todos os homens são misóginos. "Embora a representação política seja chave, ela nunca será suficiente para gerar igualdade", disse ela.

A verdadeira paridade de gênero na América Latina, ao que parece, não pode ser alcançada pelo voto. As razões históricas para isso são a cultura machista predominante na região, e suas poderosas estruturas patriarcais e familiares, aliadas à Igreja Católica.

Mas a influência do Vaticano não é total. Em toda a América Central, templos e púlpitos são fóruns para a difusão de mensagens políticas, e poucos candidatos correm o risco de se indispor com a Igreja. Mas, segundo Lamas, há sinais de "pseudorreligiosos".

No México, por exemplo, 80% das mulheres em idade sexualmente ativa usam o controle da natalidade, mas, ainda assim, não deixam de se considerar crentes.

Mesmo depois de fazerem abortos, disse ela, poucas se dispõem a falar publicamente a favor da descriminalização. "Não é dos padres que elas têm medo, é da condenação social. É claramente uma questão de dois pesos, duas medidas."

Em seu romance "El País de las Mujeres", a nicaraguense Gioconda Belli satiriza os papéis de poder em sociedades impregnadas pelo sexismo. Ela atribui o progresso a um forte arquétipo feminino: o da mãe em oposição à da mulher trabalhadora. "Paradoxalmente, esse machismo flagrante permitiu que as mulheres ascendessem a posições políticas relevantes", diz Belli. "A matrona latino-americana é poderosa, enquanto no mundo desenvolvido a dispersão e a disfuncionalidade das famílias diluiu o arquétipo materno."

O latino-americano pode estar preparado para ver suas mães como chefes de Estado, mas ainda não está pronto para vê-las como parceiras em pé de igualdade.

Matilde Sánchez, editora do "Clarín" também escreve ficção. Envie comentários para intelligence@nytimes.com

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

PT nacional faz planejamento estratégico



Líder do PT aponta reforma política como prioridade do ano


O líder do PT na Câmara, deputado Paulo Teixeira (SP), afirmou nesta segunda-feira (7) que a reforma política é a prioridade do partido neste primeiro ano de governo Dilma Rousseff.
Segundo ele, os pontos principais são o financiamento público de campanha, a intensificação dos mecanismos de participação da sociedade no parlamento e o voto em uma lista pré-ordenada.

Teixiera explicou que uma das ideias é aumentar o número de plebiscitos e referendos para "saber o que o povo pensa sobre determinado assunto".

Para ele, o atual modelo de financiamento privado não ajuda a fortalecer os partidos. O líder do PT cita ainda a necessidade de ampliar a presença feminina no parlamento.
O tema foi tratado em seminário do partido, que acontece na tarde de hoje em Brasília, chamado de "Planejamento Estratégico".

O encontro teve início com uma explanação do presidente da Câmara, deputado Marco Maia (PT-RS), que falou sobre as perspectivas e desafios para a Legislatura.
O presidente da legenda, José Eduardo Dutra, e o ministro Luiz Sérgio (Relações Institucionais) também estiveram presentes.

O encontro continua amanhã com um aprofundamento nas discussões sobre reformas política e tributária, na comunicação social, Código Florestal, royalties do pré-sal, PEC 300, salário mínimo e Imposto de Renda.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Uma breve história do Fórum Social Mundial



O Fórum Social Mundial já tem história. Uma história que não pode ser entendida separada daquilo que lhe deu nascimento e a que ele está intrinsecamente vinculado: a luta contra o neoliberalismo e por um mundo posneoliberal – que é o sentido de seu lema central “Um outro mundo possível”.


Nas suas origens está o “grito zapatista” de 1994”, conclamando à luta global contra o neoliberalismo. Em seguida, veio o editorial do Le Monde Diplomatique, de Ignacio Ramonet, chamando à luta contra o “pensamento único”, seguida pelas manifestações em Seattle, que impediram a realização da reunião da OMC e as outras, em tantas cidades do mundo. Enquanto isso, se realizavam anualmente manifestações na Suiça, chamadas de anti-Davos.


Até que, com o crescimento da resistência ao neoliberalismo, se pensou no projeto de organizar um Forum Social Mundial em oposição ao Forum Economico de Davos. A idéia foi de Bernard Cassen, jornalista francês que naquele momento dirigia a Attac, que ao mesmo tempo propôs que a sede fosse na periferia do sistema – onde residem as vitimas privilegiadas do neoliberalismo -, na América Latina – onde se desenvolviam os principais movimentos de resistência, no Brasil – que tinha a esquerda mais forte naquele momento – e, em particular, em Porto Alegre – pelas políticas dos governos do PT, de Orçamento Participativo.


Depois do primeiro Fórum se constituiu um Conselho Internacional, com participação de todas as entidades que quisessem se incorporar, porém a direção continuou em um estrito grupo de entidades brasileiras, dominadas por ONGs. Este foi um limitante original do FSM, dado que o movimento se apoiava centralmente em movimentos sociais – de que a Via Campesina agrupa a parte significativa deles -, enquanto as ONGs – cujo caráter ambíguo, até mesmo neoliberal pela sua definição anti-governamental, mas também com várias delas com ações obscuras no seu sentido, no seu financiamento e nas suas alianças com grandes empresas privadas – se apoderava do controle da organização, imprimindo-lhe um caráter restrito.


Restrito, porque limitado a um suposta “sociedade civil”, o que já lhe imprimia um caráter liberal, oposto a governos, a partidos, a Estados, bloqueando a capacidade de construção de “um outro mundo possível”, que teria que ser um mundo global, com transformação das relações de poder, do Estado e da sociedade no seu conjunto. Também ficava fora um tema que passou a ser central no mundo conforme os EUA adotavam sua política de “guerras infinitas” – a luta pela paz -, que no entanto representou o momento de maior capacidade de mobilização dos novos movimentos populares no mundo, com as mobilizações de resistência à guerra do Iraque, em 2003.


O Conselho Internacional decidiu a alternância de sedes do FSM, que passou a se realizar em outros continentes, com o que se realizaram encontros na Índia e no Quênia. Também decidiu que os FSM seriam realizadosa cada dois anos, alternados por FSM regionais. No entanto o FSM passou realmente a girar em falso conforme a definição inicial de se limitar um espaço de troça de experiências entre entidades da “sociedade civil” foi limitando suas temáticas e sua capacidade de formular alternativas. Nem sequer balanços das maiores mobilizações populares jamais havidas, as contra a guerra do Iraque, foram feitas, para definir a continuidade da luta. A fragmentação dos temas se acentuou conforme foi decidido que as atividades dos FSM seriam “autogestionadas”, sem definição política dos temas fundamentais, que deveriam ser financiados centralizadamente, promovendo um imenso privilegio das ONGs e outras entidades que dispõem de recursos contra os movimentos sociais – que deveriam ser os protagonistas fundamentais do FSM.


Hoje, o FSM tem em governos latinoamericanos progressistas os agentes de construção da agenda proposta pelo movimento. Os movimentos sociais que souberam rearticular de maneira criativa suas relações com a esfera política – de que a fundação pelos movimentos bolivianos do MAS – e disputar a criação de novos governos e a construção de projetos hegemônicos alternativos, avançaram significativamente na criação do “outro mundo possível”. Enquanto que os que seguiram refugiados na chamada “autonomia dos movimentos sociais” – como os casos dos piqueteiros argentinos ou dos zapatistas – perderam peso ou até mesmo tenderam a desaparecer politicamente.


Em 2009, o Fórum voltou ao Brasil, sendo realizado em Belém, no Pará. O encontro foi marcado, entre outras coisas, pela presença de 5 presidentes latino-americanos – Evo Morales, Rafael Correa, Hugo Chavez, Fernando Lugo e Lula, líderes de governos que, em distintos níveis, colocam em prática políticas que identificaram, desde o seu nascimento, o FSM: a Alba, o Banco do Sul, a prioridade das políticas sociais, a regulamentação da circulação do capital financeiro, a Operação Milagre, as campanhas que terminaram com analfabetismo na Venezuela e na Bolívia, a formação das primeiras gerações de médicos pobres no continente, pelas Escolas Latinoamericanas de Medicina, a Unasul, o Conselho Sulamericano de Segurança, o gasoduto continental, a Telesul – entre outras. A cara nova e vitoriosa do FSM, nos avanços da construção do posneoliberalismo na América Latina.


O FSM 2009 foi marcado também pela forte presença dos povos indígenas e pelo Forum PanAmazonico, com os movimentos camponeses e a Via Campesina, os sindicatos e o Mundo do Trabalho, os movimentos feministas e a Marcha Mundial das Mulheres, os movimentos negros, os movimentos de estudantes, os de jovens.


O movimento anti-neoliberal passou da fase de resistência à fase de construção de alternativas. Este FSM demonstrará se permanece na fase de resistência, de fragmentação de temáticas, de limitação à “sociedade civil” ou se se coloca à altura da etapa atual de disputa hegemônica, já não mais a nível nacional ou regional, mas a nível global, quando a crise capitalista e o esgotamento do modelo neoliberal coloca para o FSM seu maior desafio: ser agente na construção concreta do “outro mundo possível” ou permanecer como espaço de testemunhos, ricos, mas impotentes.


O Fórum Social Mundial 2011 (que começa em 06 de fevereiro), em Dakar, ganhou uma nova agenda com a onda de protestos populares que já atingiu a Tunísia, o Egito, o Iêmen e a Jordânia. O mais significativo de todos, sem dúvida, é o Egito, em função do que o país representa em termos geopolíticos no Oriente Médio. Egito e Arábia Saudita são dois pilares centrais da aliança EUA-Israel na região. Uma mudança de regime político em um desses dois países pode significar um terremoto geopolítico de grandes proporções.


A aplicação da consigna do FSM aos problemas dessa região coloca a seguinte questão: “Outro Oriente Médio é possível?”. O que está acontecendo no Egito mostra que o castelo das autocracias apoiadas e sustentadas pelos EUA é menos sólido do que parecia. Milhões de jovens, homens e mulheres, estão nas ruas dizendo que é possível, sim. E necessário.


Emir Sader

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Egípcios lutam por democracia




Quando o governo vai começar?

Faço política há mais de vinte anos. É natural e saudável que lideranças locais participem de discussões e disputas fora de sua cidade. O que não é aceitável é priorizar essas questões em detrimento do cumprimento de suas obrigações como governante.

O que um cidadão campista acha quando em meio a tantos problemas estruturais, falta atendimento adequado na rede de saúde, a educação deixa a desejar e as ruas estão tomadas por transportes clandestinos e nos jornais, rádios e blogs o destaque é para as questões internas dos partidos aliados ao grupo político que governa o município?

Na última terça-feira visitei as obras de casas populares em Guarus, função natural de uma vereadora que é fiscalizar, no entanto no Parque Santa Rosa fui impedida de entrar no canteiro de obras. É direito de qualquer cidadão obter informações precisas sobre o cronograma da obra, custo final, previsão de entrega. Cumpro meu dever de parlamentar.

Para o cidadão de Campos dos Goytacazes é mais importante saber se Fulano ou Beltrano vai ser “fritado” porque privilegiou A ou B durante sua passagem por uma secretaria ou se os postos médicos e emergências dos hospitais funcionam como deveriam?

“Fritar”, “afastar”, “pedir a cabeça”. Expressões que demonstram bem a maneira de fazer política extremamente condenável. Há que se exigir fidelidade às promessas de campanha, às necessidades do povo, e não às lideranças personalistas que tomam como feudos secretarias e empresas públicas.

É normal haver troca de equipe durante um governo, o que não pode acontecer é a máquina pública ficar refém dessas mudanças e não funcionar corretamente. Há que se gastar mais tempo trabalhando de fato e não trocando farpas em meios de comunicação, remoendo rancores e trazendo a tona discussões que podem ser significativas para os envolvidos, mas que pouco ou nada interessa a maioria absoluta da população.

A posse dos atuais governantes aconteceu em janeiro de 2009, mesmo descontando o período em que permaneceram afastados pela justiça, tiveram tempo suficiente para conhecer a máquina pública e os eventuais entraves para que funcionasse corretamente. Não há mais desculpa. Já passou da hora de começar a governar.

Postado por Blog da Odisséia

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Slavoj Zizek: Por que temer o espírito revolucionário árabe?



O que não pode deixar de saltar aos olhos nas revoltas Tunísia e Egito é a notável ausência do fundamentalismo islâmico. Na melhor tradição democrática secular, as pessoas simplesmente se revoltaram contra um regime opressivo, sua corrupção e pobreza, e demandaram liberdade e esperança econômica. A sabedoria cínica dos liberais ocidentais - de acordo com os quais, nos países árabes, o genuíno senso democrático é limitado a estreitas elites liberais enquanto que a vasta maioria só pode ser mobilizada através do fundamentalismo religioso ou do nacionalismo - se provou errada.


Quando um novo governo provisório foi nomeado na Tunísia, ele excluiu os islâmicos e a esquerda mais radical. A reação dos liberais presunçosos foi: bom, eles são basicamente a mesma coisa; dois extremos totalitários - mas as coisas são simples assim? O verdadeiro antagonismo de longa data não é precisamente entre islâmicos e a esquerda? Ainda que eles estejam momentaneamente unidos contra o regime, uma vez que se aproximam da vitória, a sua unidade se parte e eles se engajam numa luta mortal, frequentemente mais cruel do que aquela travada contra o inimigo comum.


Nós não testemunhamos precisamente tal luta depois das eleições no Irã? As centenas de milhares de apoiadores de Mousavi lutavam pelo sonho popular que sustentou a revolução de Khomeini: liberdade e justiça. Ainda que esse sonho tenha sido utópico, ele levou a uma explosão de criatividade política e social de tirar o fôlego, experiências de organização e debates entre estudantes e pessoas comuns. Essa abertura genuína, que liberou forças de transformação social então desconhecidas, um momento no qual tudo pareceu possível, foi então gradualmente sufocada pela dominação do controle político e do establishment islâmico.


Mesmo no caso de movimentos claramente fundamentalistas, é preciso ser cuidadoso para não perder de vista o componente social. O Talibã é usualmente apresentado como um grupo fundamentalista islâmico que impõe suas leis pelo terror. No entanto, quando, na primavera de 2009, eles tomaram o Vale de Swat no Paquistão, o The New York Times noticiou que eles arquitetaram "uma revolta de classe que explora profundas fissuras entre um pequeno grupo de ricos donos de terra e seus inquilinos desprovidos de um chão". Se, ao "se aproveitar" dos apuros dos agricultores, o Talibã estava criando, nas palavras do New York Times, "um alerta sobre os riscos ao Paquistão, que permanece sendo largamente feudal", o quê impediu os democratas liberais do Paquistão e dos Estados Unidos de, da mesma forma, "se aproveitarem" desses apuros e de tentarem ajudar os agricultores sem terra? Ocorre de as forças feudais no Paquistão serem aliados naturais da democracia liberal?


A conclusão inevitável a ser delineada é que a ascensão do islamismo radical sempre foi o outro lado do desaparecimento da esquerda secular nos países muçulmanos. Quando o Afeganistão é retratado como sendo o exemplo máximo de um país fundamentalista islâmico, quem ainda se lembra que, há quarenta anos atrás, ele era um país com uma forte tradição secular, incluindo um poderoso partido comunista que havia tomado o poder lá sem dependência da União Soviética? Para onde essa tradição secular foi?


É crucial analisar os eventos em andamento na Tunísia e no Egito (e no Iémen e ... talvez, com esperança, até na Arábia Saudita) em contraste com esse pano de fundo. Se a situação for eventualmente estabilizada de modo ao antigo regime sobreviver, apenas passando por alguma cirurgia cosmética liberal, isso irá gerar um intransponível retrocesso fundamentalista. Para que o legado chave do liberalismo sobreviva, os liberais precisam da ajuda fraternal da esquerda radical. De volta ao Egito, a mais vergonhosa e perigosamente oportunista reação foi aquela de Tony Blair noticiada na CNN: mudança se necessário, mas deverá ser uma mudança estável. Mudança estável no Egito, hoje, só pode significar um compromisso com as forças de Mubarak na forma de ligeiramente alargar o círculo do poder. Este é o motivo pelo qual é uma obscenidade falar em transição pacífica agora: pelo esmagamento da oposição, o próprio Mubarak tornou isso impossível. Depois de Mubarak enviar o exército contra os protestantes, a escolha se tornou clara: ou uma mudança cosmética na qual alguma coisa muda para que tudo continue na mesma, ou uma verdadeira ruptura.


Aqui, portanto, é o momento da verdade: ninguém pode arguir, como no caso da Argélia uma década atrás, que permitir eleições verdadeiramente livres equivale a entregar o poder para fundamentalistas islâmicos. Outra preocupação liberal é de que não existe poder político organizado para tomar o poder caso Mubarak parta. É claro que não existe; Mubarak se assegurou disso ao reduzir a oposição a ornamentos marginais, de forma que o resultado acaba sendo como o título do famoso romance de Agatha Christie, "E Então Não Havia Ninguém". O argumento de Mubarak - é ele ou o caos - é um argumento contra ele.


A hipocrisia dos liberais ocidentais é de tirar o fôlego: eles publicamente defendem a democracia e agora, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e justiça seculares, não em nome da religião, eles estão todos profundamente preocupados. Por que aflição, por que não alegria pelo fato de que se está dando uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Tsé-Tung é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente".


Para onde, então, Mubarak deve ir? Aqui, a resposta também é clara: para Haia. Se existe um líder que merece sentar lá, é ele.


(*) Nota do Tradutor: o título original do livro de Agatha Christie é "And Then There Were None", conhecido aqui no Brasil como "O Caso dos Dez Negrinhos".



Traduzido por Henrique Abel para o Diário Liberdade.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Denúncia: estudantes têm o direito a uma política de bolsas transparente e digna!

Caro professor, Gostaria de deixar aqui, minha indignação. Não vou deixar o meu nome, pois se tratando desta cidade, é bem capaz de cortarem meu benefício por revelar o assunto em questão. É o seguinte, a prefeitura municipal de Campos, beneficiou os alunos de baixa renda uma bolsa de 70% referente à mensalidade do curso. Antigamente, esta bolsa era repassada de uma maneira injusta, uns com 100%, outros com 10%; enfim, agora ficou estabelecido um piso se igualdade de 70% para todos, independente do curso. Sendo assim, cada aluno assinou um tempo de compromisso, com a finalidade de realizar a contra-partida, para poder continuar recebendo o benefício. Estamos fazendo esta contra-partida toda a semana por 4h. Agora, nas férias esta contra-partida foi interrompida, mas voltaremos assim que o ano letivo começar. Até aí tudo bem. O que me deixa indignada é eu ir a secretaria da UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ, e receber a seguinte informação: O meu curso tem a mensalidade de R$ 873, 69 e o valor referente aos 70% sobre este valor que a prefeitura cobre é de R$ 611,58, certo? Não, errado. Pelos cálculos da secretaria o valor é de R$ 353,50. Das duas uma: ou eles não sabem fazer uma simples conta de porcentagem que qualquer um aprende no 2º grau do colegial, ou estão desviando meu benefício para outro lugar que eu ainda não conheço. Entrei em contato com alguns colegas que também recebem este benefício e todos estão com este mesmo problema. O atendente da secretaria teve a cara de pau de nos dizer (éramos um grupo de 4 alunos questionando este cálculo) que não é assim que se faz a conta. Que o nosso cálculo estava errado. Que o cálculo é outro, enfim, tirou o dele da reta quando falamos que íamos para o procon, blogs e afins. Ele disse que são ordens de cima e que não podia fazer nada. Por favor, eu não tenho condição de pagar R$ 520,19 na mensalidade. Tenho guardado a quantia de 30% do valor da mensalidade que é R$ 262,10. E se eu não me matricular terei a bolsa cortada. Estou de mãos atadas, desesperada, pois as aulas da Estácio de Sá começam amanhã, dia 31/01/2011. Por favor, me ajude a divulgar este desrespeito com nós bolsistas; que só queremos o nosso direito de estudar com dignidade. O meu boleto está nas minhas mãos, com os valores especificados, e amanhã eu e meus colegas iremos ao PROCON denunciar esta irregularidade. Vamos correr atrás do nosso direito e divulgar o que está acontecendo. Não vejo a hora de saber para qual bolso meu benefício está indo. Obrigada.

Obs.: Esqueci de dizer que os bolsistas contemplados tiveram seus nomes divulgados no Diário Oficial, ou seja, temos todas as provas necessárias para esta denúncia de desvio parcial de verba.

Egito: 1 milhão contra Mubarak


segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

أحرار

Hossam el-Hamalawy é um jornalista e blogueiro do site 3arabawy. Mark LeVine, professor da Universidade da Califórnia, conseguiu contactar Hossam por meio do Skype e conseguiu um informe em primeiro mão sobre os eventos que estão ocorrendo no Egito. Hossam destaca o papel que a juventude e o movimento sindical estão desempenhando nos protestos contra a ditadura egípcia e prevê momentos difíceis nas relações com os EUA. "Qualquer governo realmente limpo que chegue ao poder na região, entrará em um conflito aberto com os EUA, porque proporá uma redistribuição racional da riqueza e terminará com o apoio a Israel e a outras ditaduras".


About 3arabawy

Por que foi necessária uma revolução na Tunísia para tirar os egípcios das ruas em uma quantidade sem precedentes?

No Egito dizemos que a Tunísia foi mais um catalisador que um instigador, porque as condições objetivas para um levantamento existiam no país e durante os últimos anos a revolta estava no ar. Já tivemos duas mini-intifadas, ou “mini-Tunísia” em 2008. A primeira foi um levantamento em abril de 2008 em Mahalla, seguido por outro em Borollos, no norte do país.

As revoluções não surgem do nada. Não temos mecanicamente uma amanhã no Egito porque ontem ocorreu uma na Tunísia. Não é possível isolar esses protestos dos quatro últimos anos de greves de trabalhadores no Egito ou de eventos internacionais como a intifada al-Aqsa e a invasão do Iraque pelos EUA. A eclosão da intifada al-Aqsa foi especialmente importante porque nos anos 80 e 90 o ativismo nas ruas havia sido efetivamente impedido pelo governo como parte da luta contra insurgentes islâmicos. Só seguiu existindo nos campus universitários ou nas centrais dos partidos. Mas quando estourou a intifada em 2000 e a Al Jazeera começou a transmitir suas imagens, isso inspirou a nossa juventude a tomar as ruas, da mesma maneira que hoje a Tunísia nos inspira.

Como se desenvolvem os protestos?

É muito cedo para dizer como se desenvolveram. É um milagre que continuaram ontem depois da meia noite, apesar do medo e da repressão. A situação chegou a um ponto em que todos estão fartos, seriamente fartos. E mesmo que as forças de segurança consigam aplastar os protestos hoje não poderão aplastar os que ocorrerão na próxima semana, no próximo mês ou, mais adiante, durante este ano. Definitivamente há uma mudança no grau de coragem do povo. O Estado usou a desculpa do combate ao terrorismo nos anos 90 para acabar com todo tipo de dissenso no país, um truque utilizado por todos os governos, incluindo os EUA. Mas uma vez que a oposição formal a um regime passa das armas a protestos massivos, é muito difícil enfrentar esse tipo de dissenso. Pode-se planejar a liquidação de um grupo de terroristas que combate nos canaviais. Mas o que vão fazer diante de milhares de manifestantes nas ruas? Não podem matar a todos. Nem sequer podem garantir que os soldados o façam, que disparem contra os pobres.

Qual a relação entre eventos regionais e locais neste país?

É preciso entender que o regional é local no Egito. No ano de 2000, os protestos não começaram como protestos contra o regime, mas sim contra Israel e em apoio aos palestinos. O mesmo ocorreu com a invasão dos EUA no Iraque três anos depois. Mas uma vez que se sai para as ruas e se enfrenta a violência do regime, a pessoa começa a se fazer perguntas: por que Mubarak envia soldados para enfrentar os manifestantes ao invés de enfrentar Israel? Por que exporta cimento para Israel, que o utiliza na construção de assentamentos, ao invés de ajudar os palestinos. Por que a política é tão brutal conosco quando só tratamos de expressar nossa solidariedade com os palestinos de maneira pacífica? E assim os problemas regionais como Israel e Iraque passaram a ser temas locais. E, em poucos instantes, os manifestantes que cantavam slogans em favor dos palestinos começaram ma fazê-lo contra Mubarak. O momento decisivo em termos de protestos foi em 2004, quando o dissenso se tornou interior.

Na Tunísia, os sindicatos desempenharam um papel crucial na revolução, já que sua ampla e disciplinada organização assegurou que os protestos não fossem sufocados facilmente. Qual o papel do movimento dos trabalhadores do Egito no atual levantamento?

O movimento sindical egípcio foi bastante atacado nos anos oitenta e noventa pela polícia, que utilizou munição de guerra contra grevistas pacíficos em 1989 durante greves nas plantas siderúrgicas e, em 1994, nas greves das fábricas têxteis. Mas, desde dezembro de 2006, nosso país vive continuamente as maiores e mais sustentadas ondas de ações grevistas desde 1946, detonadas por greves na indústria têxtil na cidade de Mahalla, no delta do Nilo, centro da maior força laboral do Oriente Médio, com mais de 28 mil trabalhadores. Começou por temas trabalhistas, mas se estendeu a todos os setores da sociedade com exceção da polícia e das forças armadas.

Como resultado dessas greves, conseguimos obter dois sindicatos independentes, os primeiros de sua classe desde 1957, o dos cobradores de contribuições de bens imóveis, que inclui mais de 40 mil funcionários públicos e o dos técnicos de saúde, mais de 30 mil dos quais lançaram mês passado um sindicato independente daqueles controladas pelo Estado.

Mas é verdade que há uma diferença importante entre nós e a Tunísia. Ainda que fosse uma ditadura, a Tunísia tinha uma federação sindical semi-independente. Mesmo que sua direção colaborasse com o regime, os seus membros eram sindicalistas militantes. De modo que, quando chegou a hora das greves gerais, os sindicatos puderam se somar. Mas aqui no Egito tempos um vazio que pretendemos preencher rapidamente. Os sindicalistas independentes foram alvo de uma caça ás bruxas desde que trataram de se estabelecer; já há processos iniciados contra eles pelos sindicatos estatais e respaldados pelo Estado, mas eles seguem se fortalecendo apesar das continuadas tentativas de silenciá-los.

É certo que, nos últimos dias, a repressão foi dirigida contra os manifestantes nas ruas, que não são necessariamente sindicalistas. Esses protestos reuniram um amplo espectro de egípcios, incluindo filhos e filhas da elite. De modo que temos uma combinação de pobres e jovens das cidades junto com a classe média e os filhos filhas da elite. Penso que Mubarak conseguiu agrupar todos os setores da sociedade com exceção de seu círculo íntimo de cúmplices.

A revolução tunisiana foi descrita como fortemente liderada pela juventude e dependente para seu êxito da tecnologia das redes sociais como Facebook e Twitter. E agora as pessoas se concentram em torno da juventude no Egito como um catalisador importante. Trata-se de uma “intifada juvenil” e ele poderia ocorrer sem o Facebook e outras novas tecnologias midiáticas?

Sim, é uma intifada juvenil na rua. A internet desempenha um papel na difusão da palavra e das imagens do que ocorre no terreno. Não utilizamos a internet para nos organizar. A utilizamos para divulgar o que estamos fazendo nas ruas com a esperança de que outros participem da ação.

Como deve ter ouvido, nos EUA, o apresentador de programas de entrevistas Glenn Beck atacou uma acadêmica, Frances Fox Piven, por um artigo que ela escreveu chamando os desempregados a realizar protestos massivos por postos de trabalho. Ela recebeu inclusive ameaças de morte, algumas de pessoas sem trabalho que parecem mais felizes fantasiando sobre usar uma de suas numerosas armas do que lutando realmente por seus direitos. É surpreendente pensar no papel crucial dos sindicatos no mundo árabe atual, tendo em conta as mais de duas décadas de regimes neoliberais em toda a região, cujo objetivo primordial é destruir a solidariedade da classe trabalhadora. Por que os sindicatos seguiram sendo tão importantes?

Os sindicatos sempre são o remédio mágico contra qualquer ditadura. Olhe a Polônia, a Coréia do Sul, a América Latina ou a Tunísia. Os sindicatos sempre foram úteis para a mobilização das massas. Faz falta uma greve geral para derrotar uma ditadura, e hoje não há nada melhor que um sindicato independente para fazê-lo.

Há um programa ideológico mais amplo por trás dos protestos, ou o objetivo é mesmo livrar-se de Mubarak?

Cada um tem suas razões para sair às ruas, mas eu suponho que se nosso levante tiver êxito e derrubarmos Mubarak aparecerão divisões. Os pobres querem impulsionar a revolução para uma posição muito mais radical, impulsionar a redistribuição radical da riqueza e combater a corrupção, enquanto que os chamados reformistas querem colocar freios, pressionar mais ou menos por mudanças “desde cima” e limitar um pouco os poderes, mas mantendo alguma essência do Estado atual.

Qual é o papel da Irmandade Muçulmana e como influencia o cenário atual o fato de ter permanecido até aqui distante dos atuais protestos?

A Irmandade sofreu divisões desde a eclosão da intifada al-Aqsa. Sua participação no Movimento de Solidariedade à Palestina quando se enfrentou com o regime foi desastrosa. Basicamente, cada vez que seus dirigentes chegam a um compromisso com o regime, especialmente os acólitos do atual guia supremo, desmoralizam seus quadros da base. Conheço pessoalmente vários jovens que abandonaram o grupo. Alguns deles se uniram a outros grupos, outros seguem independentes. A medida que cresce o atual movimento de rua e os militantes da base participam, haverá mais divisões porque a direção superior não pode justificar por que não toma parte desse novo levante.

[N.T. Nesta segunda-feira (31), a Irmandade Muçulmana divulgou um comunicado rejeitando o novo governo e pedindo que prossigam as manifestações para a queda do regime do presidente Hosni Mubarak]

Qual o papel dos EUA neste conflito? Como as pessoas na rua avaliam suas posições?

Mubarak é o segundo maior beneficiário da ajuda externa dos EUA, depois de Israel. Ele é conhecido como o capanga dos EUA na região; é um dos instrumentos da política externa dos EUA, que implementa seu programa de segurança para Israel e assegura o fluxo sem problemas do petróleo enquanto mantem os palestinos confinados. De modo que não é nenhum segredo que esta ditadura goza do respaldo de governos dos EUA desde o primeiro dia, inclusive durante a enganosa retórica em favor da democracia protagonizada por Bush. Por isso, não há surpresa diante das risíveis declarações de Clinton, que mais ou menos defendiam o regime de Mubarak, já que um dos pilares da política externa dos EUA é manter regimes estáveis a custa da liberdade e dos direitos civis.

Não esperamos nada de Obama, a quem com sideramos um grande hipócrita. Mas esperamos que o povo estadunidense – sindicatos, associações de professores, uniões estudantis, grupos de ativistas – se pronunciem em nosso apoio. O que queremos é que o governo dos EUA se mantenha completamente fora do assunto. Não queremos nenhum tipo de apoio, simplesmente que corte imediatamente a ajuda a Mubarak e retire o apoio a ele, e também que se retire de todas as bases do Oriente Médio e deixe de apoiar o Estado de Israel.

Em última instância fará tudo o que for preciso para se proteger. De repente, pode adotar a retórica mais anti-americana que se possa imaginar se isso puder ajudar a salvar sua pele. No final das contas, está comprometido com seus próprios interesses e se avaliar que perderá o apoio dos EUA, se voltará em outra direção. A realidade é que, qualquer governo realmente limpo que chegue ao poder na região, entrará em um conflito aberto com os EUA, porque proporá uma redistribuição racional da riqueza e terminará com o apoio a Israel e a outras ditaduras. De modo que não esperamos nenhuma ajuda dos EUA. Só que nos deixem em paz.

(*) Mark LeVine é professor de história na universidade da Califórnia Irvine e pesquisador visitante sênior no Centro de Estudos do Oriente Médio na Universidade Lund, na Suécia. Seus livros mais recentes são Heavy Metal Islam (Random House) e Impossible Peace: Israel/Palestine Since 1989 (Zed Books). 

Fonte:http://english.aljazeera.net/indepth/features/2011/01/201112792728200271.html

Traduzido do inglês para o Rebelión por Germán Leyens


(*) Traduzido do espanhol para a Carta Maior por Marco Aurélio Weissheimer