sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A crença dos ateus


O Produto Ilusório Bruto (PIB) de Campos, por Roberto Moraes

PIB: Produto Ilusório Bruto - o caso de Campos

Novamente surge a notícia de destaque a nível nacional, sobre a pesquisa do IBGE, a respeito dos PIBs (Produto Interno Bruto) municipais incluindo Campos dos Goytacazes como um dos maiores PIBs brasileiros entre as principais capitais dos estados brasileiros.

Os resultados divulgados pelo IBGE (aqui e aqui), mais uma vez incorrem em distorções sérias. Desde 2005, este blog comenta e questiona a divulgação dos dados do PIBs municipais que inclui os municípios produtores de petróleo, no topo da lista, por considerar como riqueza do município, o valor total do petróleo extraído do litoral, quando apenas os royalties circulam por eles.

O fato produz uma distorção descomunal a ponto de identificar, agora em 2010, o município de Campos dos Goytacazes como o 9° maior PIB entre os mais de 5 mil municípios brasileiros.

Isto nada tem a ver com a extraordinária receita dos royalties que aumenta o PIB circulante pelo município, mas é apenas parte da riqueza dos royalties do petróleo e não todo o valor dos barris de petróleo que não circula pela cidade, nem fisicamente.

Este blogueiro no dia 18 de novembro de 2006 (leia aqui) já contestava esta metodologia em artigo publicado na imprensa de Campos.

Ao contrário, a Fundação CIDE em nosso estado, ao fazer tal cálculo separa o PIB do petróleo para não cair em tal distorção. Veja aqui comentários do blog sobre o assunto em 2005 e aqui em 2006. Mais: aqui (em 2006 - sobre a análise per capita)
Postado por Roberto Moraes às 13:04

IBGE: cresce a participação de Campos no PIB

Petróleo e minério ganham peso no PIB; RJ é o que mais cresce

Daniel Milazzo
Especial para o UOL Economia, do Rio
Pesquisa divulgada nesta sexta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que, em 2008, Estados e municípios com economias voltadas para a exploração de petróleo, gás natural e minérios, aumentaram sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. Os dados são de 2008, mas foram divulgados só agora pelo IBGE.

MAIS SOBRE PIB
SP perde força no PIB
Cidades médias enriquecem
PIB reduz ritmo no 3º tri

Impulsionada pela exploração de petróleo e gás, a atividade industrial do Rio de Janeiro foi a que mais cresceu no país. Em 2008, ela avançou 0,93 ponto percentual em relação ao ano anterior, chegando a 12,72% de toda a produção industrial brasileira. Minas Gerais e Pará obtiveram, respectivamente, a segunda (0,54 pontos percentuais) e terceira (0,49 pontos) maiores expansões no setor.Entretanto, o segmento do refino de petróleo e coque não teve um bom ano, pois o preço sofreu variação negativa de 75,1%. Nesse sentido, o resultado não foi dos melhores para São Paulo. Mas apesar do recuo de 1,49 ponto percentual no período, o Estado paulista era, em 2008, aquele com maior participação no país, responsável por 33,89% de todo o setor.Em comparação com 2007, o capital gerado na extração de petróleo e gás natural subiu 39,8%. Quanto ao minério de ferro, a variação no mesmo período foi de 117,5%, fator determinante para que a indústria extrativa aumentasse sua participação no PIB nacional: de 2,3% em 2007 para 3,2% no ano seguinte.O ano de 2008 também foi satisfatório para a fabricação de aço e derivados, já que os preços subiram 39,3%. No conjunto, toda a indústria nacional aumentou seu peso em apenas 0,1 ponto percentual no biênio, correspondendo a 27,9% do total do PIB em 2008.

Ascensão de Campos
O município de Campos dos Goytacazes (RJ) foi um dos que mais se beneficiaram com a expansão da produção de petróleo e gás natural. Campos aumentou sua participação no PIB nacional de 0,8% em 2007 para 1% no ano seguinte.Entre 2004 e 2008, Campos mais do que dobrou sua participação no valor adicionado bruto da indústria. No último ano de referência, o município do norte fluminense era o segundo com maior participação no setor, com 3,4%, atrás apenas da cidade de São Paulo, que representava 8,7%.

Agropecuária
Na pesquisa divulgada nesta sexta-feira (10), o IBGE calcula que, em 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu 5,2% em volume em relação ao ano anterior, ao passo que o aumento em preço foi de 8,3%.Dos grandes grupos de atividade econômica, a agropecuária foi a que mais cresceu. Se em 2007 ela representava 5,6% do PIB, esse dado saltou para 5,9% em 2008.O estudo do IBGE atribui o bom desempenho do setor a um num cenário internacional favorável e nas boas condições climáticas que favoreceram as plantações de soja e milho. Dos treze municípios que agregavam 5% da renda da agropecuária nacional, 7 deles estão no estado do Mato Grosso.Associado às menores taxas de variação de preços em 2008, o setor de serviços recuou 0,4 ponto percentual e representava naquele ano 66,2% do PIB nacional.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Diretório Municipal do PT indica a candidatura da Profª Odisséia Carvalho

Reunidos nesta noite de quinta-feira, o Diretório Municipal (DM) do PT de Campos confirmou a tendência pela candidatura própria e indicou por unanimidade a Profª Odisséia Carvalho para disputar as eleições municipais suplementares que serão realizadas em fevereiro de 2011. A oficialização da candidatura ocorrerá no dia 19 de dezembro. Com a união, o Diretório buscou sinalizar claramente que o PT de Campos superou suas recentes desavenças internas e caminha unido.

O DM  apontou a necessidade do partido buscar alianças para viabilizar uma candidatura que possa representar   a ruptura com os grupos que se alternam na nefasta política que tem marcado o nosso município. Com a unidade demonstrada e com o apoio ativo de lideranças estaduais  e nacionais, o PT se mostra fortalecido para a construção de alianças.

Em breve, mais detalhes...

Presidente do PT-RJ lança a candidatura de Odisséia

O Deputado Federal Luiz Sérgio (presidente do Partido dos Trabalhadores no Estado do Rio de Janeiro) e o Deputado Estadual Rodrigo Neves vão reunir a imprensa para uma entrevista coletiva amanhã.

O Senador Lindberg Farias teve alguns problemas e não virá amanhã, mas vai agendar uma visita a Campos para as próximas semanas.

Os parlamentares vão anunciar o nome de Odisséia Carvalho, Vereadora do PT em Campos como pré-candidata a prefeitura de Campos nas eleições de 6 de fevereiro.

A coletiva acontece às 11 da manhã no Auditório do Sindipetro NF, Av. 28 de Março, 485
Centro.

Nota atualiada pela ASCOM da Vereadora Odisséia Carvalho

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Informando e palpitando

Bombaram os comentários sobre o questionamento proposto no post abaixo pelo companheiro Gustavo "Louro" Carvalho. Então alguns informes e pitacos sobre a questão:
A Comissão Executiva Municipal do PT se reúne daqui a pouco, às 18:00 para deliberar sobre o assunto. Deve ser convocada uma reunião do Diretório para amanhã e produzido o edital convocando a Convenção que deve se realizar até o dia 19.
Na manhã de sexta voltam a se reunir dirigentes de cerca de 10 Partidos que conversaram hoje de manhã sobre as eleições. Há proposta de uma frente unitária para polarizar a eleição com o PR já no primeiro turno, mas como isso depende das deliberações de cada partido, o mais provável é que se tenha 2 ou 3 candidaturas no campo da oposição.
Respondendo a provocação do Gustavo, mesmo antes das reuniões das instâncias partidárias, posso adiantar que há um animador sentimento de unidade entre os principais grupos do nosso diretório, que deve apontar para o apoio majoritário à candidatura da Vereadora Odisséia Carvalho. Almocei hoje com ela e com os companheiros Eduardo Peixoto, presidente do DM, Helio Anomal e Marcão, secretário geral do DM. Consensuamos que o partido deve, ouvida a base, apresentar nossa candidatura, mas participar do diálogo com os demais partidos de oposição, observando na evolução dos fatos políticos nos próximos dias possibilidades de composição que possam produzir uma candidatura capaz de inaugurar um novo momento na história política dessa cidade. Responsáveis ainda com nosso papel de principal partido da frente que governa o Brasil e o Estado do Rio de Janeiro, devemos, ainda que ressaltando a independência do Diretório municipal, conduzir nossas decisões orientados também pelo diálogo com lideranças nacionais e regionais do PT, como o Senador Lindberg Faria, considerando ainda interlocução com o Governador Sérgio Cabral (PMDB), aliado do PT no Estado e forte cabo eleitoral em Campos, como revelam os números de sua votação na última eleição.

E agora PT?

O que o Partido dos Trabalhadores de Campos deve fazer frente à decisão do TRE-RJ que definiu nova eleição municipal em 06/02/11?
Nós, membros do Núcleo Lenílson Chaves e desse Blog, sempre defendemos a tese da candidatura própria como a única saída para o fortalecimento partidário e rara oportunidade para da participação do PT como protagonista na luta política local.
Contudo, se usarmos como referência obrigatória da análise da conjuntura política a última disputa eleitoral, as incertezas devem aumentar. Pois, o desempenho eleitoral das forças de oposição não comprometidas como o "modo garotista de governar" (seja com candidaturas locais ou no apoio a candidatos "de fora") além de não servir de demonstração de força consolidou a percepção pública de uma extrema debilidade.
Portanto, o presente questionamento político pode ser sintetizado numa questão direta ao ponto: qual é a opção mais consistente e realista para oposição ao garotismo, a aglutinação de forças numa candidatura de consenso e viável para chegar ao 2º turno ou uma pulverização de postulantes, cada um pensando no "acúmulo de forças" para a disputa de 2012?
Qualquer que seja a decisão final dos atores políticos e partidários, só espero que não continue vigorando o pior dos mundo possíveis rotinizado em Campos: "cada um por si e Deus contra todos"!

domingo, 5 de dezembro de 2010

Articulando no movimento sindical


Clique sobre a imagem para ler em tamanho maior e aqui para conhecer nosso blog.

Rio, drogas e violência

"As cenas de guerra no Rio de Janeiro evocam as soluções fáceis de sempre: colocar as Forças Armadas no morro até prender o último traficante (a favorita da direita) e descriminalizar as drogas (a campeã da esquerda).
Não discordo inteiramente. Acho que lugar de bandido perigoso é a cadeia mesmo e defendo a legalização de todos os entorpecentes. Receio, contudo, que, nenhuma dessas medidas, isoladamente ou mesmo em conjunto, constitua solução rápida para o problema da violência urbana, no Rio ou em qualquer outra cidade do país.
Em relação aos traficantes, o que temos é basicamente um problema de mercado. Estudo acadêmico citado na Folha de domingo estima que a indústria da droga empregue 16 mil pessoas na cidade do Rio de Janeiro (mais do que a Petrobras) e movimente R$ 633 milhões anuais (mais do que o setor têxtil no Estado).
A menos que, num passe de mágica, eliminássemos toda a demanda, para cada FB preso, surgirão três ou quatro jovens candidatos a substituí-lo. Muito provavelmente disputarão o posto à bala, tornando a situação ainda mais perigosa em alguns pontos estratégicos da cidade. A própria existência de milícias não é senão uma tentativa de certos membros de nossas valorosas polícias de morder um naco desse mercado.
Vale lembrar que, embora as autoridades paulistas o neguem até a morte, alguns estudiosos como a socióloga Camila Nunes Dias sustentam que um dos fatores que trouxeram relativa paz a São Paulo foi a unificação do comando do tráfico sob o PCC. A centralização não apenas acabou com as rixas entre criminosos como ainda impôs um rígido código de conduta aos bandidos. Quem cria confusão de graça é severamente punido.
Uma solução bastante cínica, portanto, seria ajudar alguma das organizações que disputam o tráfico no Rio a açambarcar o mercado, monopolizando o setor. A violência aparente, que é a percebida pela população, provavelmente se reduziria. O problema é que isso quase certamente agravaria um outro efeito pernicioso do tráfico, que é sua infiltração nas estruturas do Estado. Aqui, a ameaça ganha ares institucionais.
Os cartéis de drogas têm, como toda megacorporação, interesses a defender. A diferença entre os traficantes e executivos de grandes empresas é que os primeiros não precisam nem parecer que cumprem as leis. Enquanto uma multinacional contrata firmas de lobby e assessorias de imprensa na esperança de influenciar políticos e jornalistas, os cartéis simplesmente corrompem autoridades. Quem recusar a oferta pode ser eliminado.
O risco que o narcotráfico traz para a democracia foi uma das razões que levaram o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e seus colegas César Gaviria (Colômbia) e Ernesto Zedillo (México) a fundar a Comissão Latino-Americana sobre Drogas e Democracia, que defende o fim da 'guerra contra as drogas' e mudanças paulatinas rumo à legalização. (É incrível como ex-autoridades passam a ver as coisas com clareza depois que deixam seus cargos).
Isso significa que a saída é o 'liberou geral'? Sim e não. Se o que você deseja é um sistema minimamente racional para lidar com a questão das drogas, a resposta é afirmativa. Se seu objetivo é apenas reduzir a violência no curto prazo, então, a legalização não resolve muito.
Como já escrevi antes neste espaço, é até possível que, num horizonte de tempo mais dilatado, uma eventual legalização diminua os lucros e, consequentemente, o poder de fogo das quadrilhas, mas, no curto prazo, seria mais realista esperar um aguçamento dos crimes bárbaros.
A venda de cocaína e assemelhados não é exatamente uma vocação para jovens talentosos. Se a legalização ocorresse amanhã, é muito pouco provável que os traficantes de hoje vestissem uma gravata e se convertessem em respeitáveis homens de negócios.
Privados do lucro fácil das drogas --a única modalidade criminosa na qual as supostas vítimas (os usuários) fazem fila para ser voluntariamente 'prejudicadas'--, é quase certo que os integrantes do exército do tráfico se lançariam com fúria redobrada na consecução de delitos realmente violentos, como assaltos e sequestros, para os quais as vítimas não costumam fazer fila.
A grande verdade é que não existe solução para o problema das drogas. O mundo não é um paraíso idílico; ao contrário, é um lugar cheio de perigos, que incluem várias centenas de substâncias psicoativas pelas quais nossos cérebros pessimamente projetados têm uma fraqueza muitas vezes fatal. Não está no poder de nenhuma lei modificar essa realidade bioquímica. Pelo menos com o atual nível de tecnologia médica, só o que a sociedade pode fazer é tentar modular as repercussões desse indesejável pendor humano.
E o meu receio é o de que a linha proibicionista adotada ao longo do último século mais acrescenta do que subtrai dificuldades. A principal delas é que se trata de um contrassenso econômico. Investimos alguns bilhões de dólares por ano na repressão, cujo principal efeito é elevar o preço da droga, ampliando as margens de lucro e, assim, o poder de aliciamento dos traficantes. Como se não bastasse, na outra ponta ainda gastamos mais alguns bilhões em tratamento médico para os dependentes (aí também incluídos os usuários crônicos de tabaco e álcool).
O pressuposto é o de que, sem a proibição e a repressão, a prevalência do uso de drogas ilícitas seria significativamente maior. É difícil discordar. A oferta mais livre de substâncias viciantes tende a aumentar o número de pessoas que as experimentam e, por conseguinte, a fração dos que desenvolvem dependência química. O tamanho preciso dessa encrenca, entretanto, permanece uma incógnita. Como nenhum país experimentou ainda a legalização, não se tem a menor ideia de quanto a prevalência aumentaria.
Há aqui duas 'escolas' de pensamento. Para os que tendem a reforçar o aspecto bioquímico do fenômeno, não há limite para o vício. Se submetermos uma dada população de ratos a um regime de ingestão forçada de cocaína ou álcool, teremos, ao cabo de poucas semanas de uso contínuo, 100% de dependentes, que experimentarão tolerância, 'craving', síndrome de abstinência na retirada e demais sintomas clássicos.
Só que nem o mais entusiasta proponente da legalização está sugerindo que heroína seja despejada em nossos reservatórios de água. Há uma grande diferença entre permitir e obrigar. E, ao longo de centenas de milhares de anos, ocorreram inúmeros experimentos naturais de exposição de humanos a drogas. Até onde se sabe, por mais abundante que fosse a oferta, foi sempre uma minoria da população a que teve problemas mais sérios de dependência. Há quem sustente que, em condições 'naturais' (isto é, sem um cientista para entuchar cachaça e pó nas pobres cobaias), a predisposição para o vício resulta de uma interação entre as propriedades bioquímicas das substâncias e a personalidade do indivíduo que as utiliza. Nesse caso, a legalização não implicaria necessariamente uma explosão apocalíptica no número de viciados. As pessoas com propensão mais acentuada para a dependência já 'militam', seja no mercado legal, como alcoólatras, seja no ilegal, ou mesmo misturando um pouco de tudo. O incentivo ao consumo proporcionado pela legalização atingiria mais a população não tão afeita à dependência.
Há aqui um 'caveat'. A exemplo do que ocorreu com o álcool quando descobrimos o processo de destilação no século 12, inovações químicas têm tornado as drogas ilícitas bem mais poderosas do que eram no passado. Assim como o alcoolismo se tornou um problema mais grave com o advento do uísque, da vodca, da cachaça e de todas as bebidas destiladas, as novas variedades de maconha e as drogas sintéticas podem estar driblando os mecanismos naturais de defesa que o cérebro tem contra o vício. Embora nós não os conheçamos bem, eles existem. Acho que estamos há algumas décadas focando o elemento errado. A pergunta-chave não é por que as pessoas se viciam, mas sim por que a maioria dos humanos não sucumbe às drogas. Mesmo a mais prevalente delas, o tabaco, nunca escravizou mais de 30% da população adulta de um país.
É claro que, para uma estratégia de legalização parar em pé, ela precisa observar certas precondições da racionalidade que nem sempre são colocadas abertamente. Em primeiro lugar, é preciso que seja uma política ampla, que abranja todas as drogas e não apenas as preferidas pelos filhos da classe média influente. O 'statu quo' não muda se liberarmos a maconha, mas mantivermos a cocaína e a heroína proibidas.
É necessário ainda que as substâncias sejam efetivamente legalizadas e não apenas toleradas. Isso implica a criação de empresas que explorem a atividade, a abertura de pontos de venda e o recolhimento de tributos. Eu, de minha parte, criaria a Narcobrás. Aqui, as ineficiências típicas do setor estatal adquiririam uma virtude pública.
Evidentemente, nenhuma dessas ponderações é sólida o bastante para basearmos uma política nacional para as drogas, mas elas são suficientes para pelo menos questionarmos o automatismo das posições proibicionistas. Eu mesmo tenho dúvida em relação a vários pontos: será que não é melhor seguir fingindo que vivemos num mundo legal e que as leis nos protegem do mal que ronda lá fora? Se concluirmos pela legalização, devemos proceder de uma vez ou tateando, de modo a não criar nenhuma situação muito irreversível? Que sinais de alerta consideraríamos necessários para eventualmente rever a estratégia? Qual carga de impostos devemos estabelecer sobre esses produtos?
O que me faz pender definitivamente para o lado da legalidade não são as considerações epidemiológicas, mas a convicção filosófica de que existem limites para o poder de interferência do Estado sobre o cidadão. Nem eu nem ninguém que acredita um pouquinho na razão tomaria parte num contrato social no qual renunciaria a decidir o que pode ou não ingerir. Esse é um direito que, acredito, está no mesmo pacote do da liberdade de ir e vir e de dizer o que pensa.
Voltando à violência no Rio (e no resto do Brasil), tenho uma boa notícia. Não importa muito o que façamos, as coisas vão melhorar. Apesar de atuarem aí inúmeras variáveis, há o fator demográfico que é bem conhecido e extremamente poderoso. Como a esmagadora maioria dos crimes e demais atos de violência é cometida por homens entre 18 e 25 anos (isso vale para qualquer país e qualquer época), o envelhecimento da população, que já está em curso, é quase uma garantia de que todos os indicadores de crime irão cair nas próximas décadas. É claro que prender bandidos e trazer um pouco de racionalidade à questão das drogas ajudariam bastante."

Hélio Schwartsman, 44 anos, é articulista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha.com.
E-mail: helio@uol.com.br
Leia as colunas anteriores
Leia as colunas publicadas na Folha

Fluzãoooooooooooooooo