sexta-feira, 5 de março de 2010

Morte ao Homo Eleitoralis

Os atuais exemplos de corrupção denunciados pela mídia e que tramitam na justiça (que, esperamos, em vias de punição!) só confirmam a identificação do maior fator de risco para democracia: o financiamento das campanhas eleitorais. Portanto, fazendo o esforço de abstrair a dimensão eminentemente ética da política e o caráter dos atores em questão, resta-nos uma abordagem de tipo estrutural. A captura sinistra da representação política pelos esquemas de financiamento e seus “operadores” leva ao esgotamento da vitalidade cívica e ao cinismo metódico dos atores públicos. É o império non sense no qual os meio$ justificam os fins. O infernal dessa constatação é a certeza de que esse inimigo íntimo da vida democrática, principal responsável pela criminalização permanente da atividade política, só tende a se ampliar. Pois, a complexidade crescente do jogo político e da competição eleitoral exige cada vez mais recursos. Isto é, os agentes políticos não mais governam ou legislam, somente reciclam as condições de sua reprodutibilidade eleitoral. E essa “profissionalização” dos atores políticos é diretamente proporcional ao cotidiano desencanto coletivo. Além, é claro, de grande atrativo para picaretas e predadores sociais. Por isso tudo, é papel fundamental da cidadania informada não só o conhecimento dos projetos político-ideológicos, mas o monitoramento permanente das formas de financiamento eleitoral e dos comprometimentos políticos correspondentes. Do ponto de vista de uma verdadeira reforma política, só nos resta lutar pelo financiamento público exclusivo!

3 comentários:

Anônimo disse...

NOTA DEZ PARA ESTE BLOG. TEM ÓTIMOS TEXTOS.

douglas da mata disse...

Caro companheiro bacalhau,

Esse é o ponto central. Discutimos isso no post sobre Obama e a Esfinge.

Veja que esse dilema, ou problema: qual é o limite do poder financeiro sobre a representação política, ou seja, o quanto é tolerável de influência do capital sobre as decisões que afetam a vida de todos, e não só do capital.

Exageremos esse exercício de problematização, ao enxergarmos que o capital decide para si, muitas vezes em detrimento dos outros. Logo enfraquece a noção de Estado-protetor, e acirra as diferenças que favorecem a sua prevalência sobre os demais atores da sociedade. Um círculo vicioso.

Como se não bastasse o fato de que o capital dispões de mais e melhores ferramentas de enfrentamentos de suas demandas(segurança particular, boas escolas, saúde privada, moradias melhores, mais acesso a bens culturais, etc), ele ainda aprisiona o Estado e sua possibilidade de expandir esses fatores e migrá-los da categoria de privilégios para direitos.

Esse não é um fenômeno só nosso. Veja que Obama se debate com a negativa dos bancos(através do lobby que enxarcam campanhas de congressistas de ambos os lados:republicanos e democratas)de permitir qualquer regulação ou punição pelos males causados pelo sistema financeiro que controlam.

O lucro é de uns, o prejuízo, de todos.
Abraços.

Gustavo Carvalho disse...

Camarada Douglas, comandante em chefe dessa Nau, só para corroborar esse argumento vou contar um episódio: estava eu num evento do Sebrae-RJ/FACERJ (em Itaperuna) sobre oportunidades e potencialidades do Noroeste Fluminense. Um evento de natureza plural, todos os segmentos da sociedade da soc. civil reunidos, mas uma fala profundamente destoante surgiu. Na mesa oficial, levantou um "empresário cosmopolita" e começou a discursar contra a proposta de redução da jornada de trab. de 44hs p/ 40 hs semanais. Como se essa proposta legislativa, que pelos menos cabe discussão legítima, fosse mais uma manifestação do "chavismo" delirante. Num discurso típico "de classe" ("Nós empresários somos os verdadeiros criadores da prosperidade nacinal..."), com estilo autocrático dos atávicos donos do poder, conclamou seu pares a cobrar dos "seus" (financiados!) deputados e senadores a abortarem a medida. Muito didático...