terça-feira, 9 de março de 2010

Para uma alternativa de esquerda à democracia

Topando o desafio reflexivo do "irmão em armas" Roberto Torres, dobro a aposta através do delírio dialético de Slavoj Zizek:
"A democracia é hoje o principal fetiche político, a rejeição dos antagonismos sociais básicos: na situação eleitoral, a hierarquia social é momentaneamente suspensa, o corpo social é reduzido a uma multidão pura passível de ser contada. (...) A ordem política democrática é por sua própria natureza suscetível à corrupção. A escolha última é: aceitamos e endossamos essa corrupção com um espírito de sabedoria resignada e realista, ou reunimos a coragem para formular uma alternativa de esquerda à democracia para quebrar esse círculo vicioso de corrupção democrática e a campanha direitista para se livrar dela?"

4 comentários:

Roberto Torres disse...

Gustavo,

só nao entendi como ele vincula democracia e corrupcao.

abraco,

Gustavo Carvalho disse...

Oi Roberto, o que depreendo da fala do Zizek (recorrente em alguns livros e entrevistas) é que o potencial de relações sociais corruptas/corruptoras é maior no sistema democrático (aonde há participação/negociação sistemática e cotidiana) do que em regimes de exceção (se nós sulamericanos tivemos ditaduras militares, e experiência política do leste não foi menos significativa!). De todo modo, o outro aspecto decisivo desse problema é a captura ideológica desse tema pela direita udenista. O que só serve para amesquinar a vida pública e aprisionar o caráter criativo da política na falsa categoria populismo. Continua...

Roberto Torres disse...

Sim. Onde há mais a ser negociado há mais chance de corrupao. Mas pelo que eu entendi do trecho, o Zizek defende uma alternativa em direcao a um regime que supere a corrupcao.

Eu provoco: nao seria talvez o caso de aceitar a inevitabilidade da corrupcao como um preco a se pagar pela democracia? Ou, mais ainda, questionar o fundamento perfeccionista da utopia de uma sociedade sem vícios?

Gustavo Carvalho disse...

O "triunfo da vontade" política de Zizek considera a hipótese da inevitabilidade da mediania (segundo Tocqueville um correlato da democracia!) algo sumamente intolerável. Realmente, sem esse componente épico-existencial a ação política se distingue muito de qualquer ação instrumental? Sem o limiar do trágico (e a possibilidade do sublime) a luta política supera a mera administração das fraquezas humanas (inclusive a fissura do jogador no meio da disputa)???