O laureado jornalista e escritor Elio Gaspari, sempre atento à consistência do debate público, escreveu interessante análise sobre o DNA escravocrata da direita brasileira (F. de S. Paulo; 08/03/2010):
A teoria negreira do DEM saiu do armário
O senador Demóstines Torres é uma espécie de líder parlamentar da oposição às cotas. O principal argumento contra essa iniciativa contesta sua legalidade, e o caso está no STF, onde realizaram-se audiências públicas destinadas a enriquecer o debate.
Na 4ª feira o senador Demóstenes foi ao STF. Argumentou contra as cotas e disse o seguinte:
"Fala-se que as negras foram estupradas no Brasil. Fala-se que a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freire, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual."
O senador precisa definir o que vem a ser "forma muito mais consensual" numa relação sexual entre um homem e uma mulher que pela lei, podia ser açoitada, vendida e até mesmo separada dos filhos. (...)
Demóstenes Torres disse mais:
"Todos sabemos que a Africa subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos mas chegaram. (...) Até o princípio do século XX, o escravo era a principal item de exportação da economia africana."
Nós, quem, cara-pálida? Ao longo de três séculos, algo entre 9 e 12 milhões de africanos foram tirados de suas terras e trazidos para a América. O tráfico negreiro foi um empreendimento das metrópoles européias e de suas colônias americanas. Se a instituição fosse africana, os filhos brasileiros dos escravos seriam trabalhadores livres. (...)
Ademais, não existia "economia africana", pois o continente fora partilhado pelas potências européias. Demóstenes Torres estudou história com o professor de contabilidade de seu ex-correligionário José Roberto Arruda.
O senador exibiu um pedaço do nível intelectual mobilizado no combate às cotas.
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