domingo, 21 de março de 2010

Dilma x Serra: os discursos

Por mais que os marqueteiros invistam na diluição dos discursos como estratégia eleitoral e insistam na abordagem "produto-imagem" dos candidatos, a formulação e veiculação de discursos políticos são decisivos não só para o debate público qualificado de programas e projetos, mas também para fixação das identidades dos dos atores em disputa.
A próxima eleição presidencial vai se desenrolar na conjuntura sui generis da consolidação dos feitos da gestão federal do PT (e da liderança de Lula) e de consagração de um novo fenômeno: o "lulismo". Portanto, a racionalidade da escolha presidencial por uma eleição "plebiscitária" parece mais do que evidente. Nesse cenário ser oposição é uma tarefa deveras difícil (só eventualmente facilitada pelos erros cometidos pela situação!). A oposição sabe que não pode fazer uma campanha contra-Lula, sob pena de um massacre eleitoral. Esse é o contexto da emergência da bandeira do pós-Lula. A pergunta fundamental é: quem pode encarnar o paradima do pós-Lula, a candidata oficial ungida pelo presidente e peça orgânica do seu bem sucedido governo ou o governador de S.P. e líder tucano inconteste? Confira abaixo o resumo das atitudes discursivas daqueles que disputam o legado de Lula:

"É muito difícil quando você faz a discussão política não comparar realidades, porque não é só projeto que deve ser comparado, é a nossa capacidade de fazer o futuro e a capacidade do outro candidato, da pessoa em questão, de dizer o seguinte: eu tenho condições de fazer porque eu fiz. Nós não vamos abrir mão de dizer: nós temos condições de fazer porque nós fizemos." (Dilma)

"O Lula fez dois mandatos, está terminando bem o governo. O que nós queremos para o Brasil? Que continue bem e até melhore". (Serra)

3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Gustavo,

Vou fazer uma provocação à você, que se estende também ao seu companheiro de blog Douglas da Mata e também ao Roberto Moraes, que adora debater este assunto em seu blog.

O governo Lula está incentivando e financiando, através do BNDS, que é um banco público(eu sei que você sabe que é um banco público, mas quero apenas destacar isso), grandes operações de concentração de riqueza, que são os monopólios privados. Incentivou e financiou a Oi com a Brasil Telecon; a Votorantim com a Aracruz Celulose, e agora a Petrobrás com a Odebrecht. Inclusive, neste caso específico, a Petrobrás financiou o negócio, mas, sabe-se lá porque, vai ter minoria no conselho gestor, ou seja, uma empresa privada do porte da Odebrecht vai controlar sozinha o setor petroquímico. Pior, o governo abriu mão de controlar o negócio.

Aí eu pergunto, isso é ou não é a face mais pervessa do capitalismo? E financiada por quem? Por um governo que se diz socialista...

O monopólio privado é um terror para os trabalhadores, é um terror para as relações comerciais entre setores, e é um terror para os consumidores finais, em todos os sentidos.

Com isso, pergunto, o governo Lula está ou não está dando continuidade ao governo de FHC?

Porque será que o Setubal adora o Lula?

PSDB e PT pretendem ou não o mesmo fim para a economia e para a sociedade brasileira?

Dilma e Serra não poderiam formar uma chapa só?

Gostaria que você, mas também o Douglas da Mata e o Roberto Moraes respondessem a estas perguntas. Faça um convite ao Roberto Moraes para ele fazer um visitinha a este blog (sem ironia).

Abs,
Gabriel

Gustavo Carvalho disse...

Pois bem Gabriel, como diz o serial killer "vamos aos pedaços": 1º obrigado pela participação (provocações consistentes são sempre benvindas!); 2º o dianóstico do professor Luiz Werneck Viana está correto: o governo Lula salvou o capitalismo brasileiro! Portanto, o Governo Lula não é socialista e nem pode ser. Mesmo reconhecendo isso, tal processo tem gradações e ênfases setoriais. Por exemplo, as fusões das teles visa dar sustentabilidade para o setor que passou pelo processo de privataria tucana: privatização com bancos públicos e fundos de pensão como maiores acionistas. Com relação à fusão de empresas de perfil exportador (ambeve, sadia + perdigão, etc) os argumentos do govrno são no sentido de fortalecimento desses setores no mercado externo! O caso específico citado por ti preciso de mais informações para opinar. 3º Com relação à pretensa afinidade eletiva entre os govs FHC e Lula, é recorrer aos dados objetivos da economia: criação de empregos, crescimento do PIB, reconstrução da máquina pública, queda progressiva dos juros, e por último, vale comparar as diferentes "receitas" de combate às respectivas crises fianaceiras internacionais: pró-cíclica (FHC) x anti-cíclica (Lula).
Continua...

nucleolenilsonchaves disse...

Grande Gabriel,

Algumas de suas críticas são pertinentes.

Não compreendi ainda, e ninguém no governo ainda foi capaz de me mostrar, o que o BNDES ou qualquer outro fundo público deveria fazer na fusão Brasil Telecom e Oi.

Ainda mais se considerarmos a quantidade de nebulosidade envolvida na questão: Opportunity, TIM, Operação Satiagraha, etc.

Mas em linhas gerais, as outras ações, como o Banco Votorantim, e o caso da Odebrecht no setor petroquímico(fusão Braskem x Quattor)atendem a redefinição de uma política industrial agressiva por parte do Estado brasileiro, ou em outras palavras:

Se o governo não fizesse, o setor privado não faria, como não fez.

Quanto a questão dos monopólios privados, eu concordo, mas nenhum país capitalista do mundo conseguiu "ainda" dar conta de um problema:

Certas operações, como telefonia, extração de petróleo, petroquímica,
geração e distribuição de eneregia, etc, tendem, por sua necessidade de operar em escala(grandes negócios)a o oligopólio.

Os marcos regulatórios dessas atividades fracassaram em todo mundo, quer com as agências estadunidenses, quer com o nosso arremedo de agências importados dos EEUU pela sanha neoliberal de FFHCC.

O debate está aberto para recolocar esses setores sob controle da sociedade.

Mas você já observou que qualquer tentativa de controle é rechaçada com ardor "religioso", ainda que a "desregulamentação" tenha levado o mundo a quebradeira?

Um abraço.