sexta-feira, 26 de março de 2010

Por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento.

Mais uma contribuição do nosso Tadeu. Essa é sobre o "moço das alterosas":

Voo rasteiro do tucano Aécio Neves

Um dia depois de o governador Aécio Neves anunciar nesta segunda-feira, em entrevista à imprensa, ao lado do presidente da Assembléia Legislativa de Minas, que estava encaminhando projeto-de-lei para reajustar em 10% o salário de cerca de 900 mil servidores, as reações terão sido as esperadas pelo provável candidato ao senado pelo PSDB mineiro? Dificilmente.

A presidente do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE), Beatriz Cerqueira, por exemplo, avisou que está mantido o indicativo de greve para o dia 8 de abril, pois, após o reajuste, o salário dos professores mineiros continua sendo o oitavo pior do Brasil.

Em seu blog, o ex-ministro José Dirceu, escreveu na terça-feira: “Uma observação pertinente: na oposição ninguém acusa o aumento concedido por Aécio a nove dias de deixar o governo de eleitoreiro, ou de infringir a legislação, ou de propaganda ilegal, ou mesmo de demagogia. Tampouco se lembra de recorrer à Justiça Eleitoral. Já se fosse o presidente Lula ou um governador ou prefeito do PT que o concedesse, a reação seria muito diferente”.

Sem dúvida. Na grande imprensa, sim.

Mas a reação não é muito animadora entre aqueles que importam a Aécio, os eleitores funcionários públicos estaduais mineiros. Há muitos anos sem ter sua aposentadoria reajustada, uma Analista de Educação Básica com curso superior em Psicologia e duas pós-graduações, não se animou, aos 61 anos, com a perspectiva de receber a partir de 1º de maio um reajuste de 10%. “Como meu vencimento básico é de R$ 670,74, é possível que eu ganhe a mais R$ 67,07. Na melhor das hipóteses, vou ganhar R$ 115,47 de aumento, ou 10% sobre o líquido mensal de minha aposentadoria”, raciocinou, desanimada.

O presidente do Sindpol, sindicato dos policiais civis, Antônio Marcos Pereira, também não se alegrou com o reajuste de 15% para cerca de 30 mil servidores que desempenham atividades de natureza policial no Estado, como policiais civis e militares, bombeiros militares e guardas penitenciários. “Infelizmente, acreditamos no Aécio e no Anastásia quando disseram que, em 2010, a polícia de Minas teria um dos melhores salários do país”, lamentou Pereira, acrescentando: “Um auxiliar administrativo que recebe um salário de R$ 380,00 não será contemplado com o reajuste de 15%”.

A maior queixa dos líderes sindicais é que não houve diálogo antes do anúncio do reajuste feito pela imprensa. A presidente do Sind-UTE critica Aécio: “Ele ainda tem a coragem de dizer que discutiu intensamente com os servidores! Quem sabe, durante a greve, Anastásia decide conversar”, ponderou Beatriz Cerqueira. E ironizou: “O piso de um professor do ensino médio é de R$ 336,00. Pelo projeto do governo, ele terá um substancial aumento de 36 reais”.

Aécio Neves, porém, deve estar contente. Ele nunca, em mais de sete anos de governo, deu um reajuste tão grande à maioria dos servidores ativos e inativos. (A exceção foi em 2003, quando todo o primeiro escalão do governo teve reajuste de 59%.) Ao fazer o anúncio, o governador disse que o reajuste aos servidores terá um impacto sobre a folha de pagamento do Estado de R$ 1,1 bilhão por ano. É muito dinheiro, até mesmo para quem não titubeou em investir cerca de R$ 1,7 bilhão para construir o Palácio Tiradentes e outros edifícios e complementos da magnífica Cidade Administrativa de Minas Gerais (sem contar, nesse cálculo, o que se investe em publicidade para convencer os mineiros – e os servidores públicos – de que essa obra é do maior interesse deles).

Como dificilmente os servidores serão convencidos disso – e como os 10 ou 15% de reajuste pouco significam para quem tem um salário tão reduzido, resultado de anos e anos de incúria de um Estado que se dizia impossibilitado de pagar mais aos seus servidores –, é possível que o silêncio da oposição, criticado por José Dirceu, seja o silêncio dos que se quedam, envergonhados, diante desse espetáculo grotesco encenado por um candidato tucano às eleições de outubro.

José de Souza Castro

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