segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Maquiavelianas II






Para o sábio florentino, a passagem de homem (privado) a príncipe (ator protagonista) não se sustenta com os meros acasos da fortuna (sorte) pois depende essencialmente do exercício da virtù política. Na passagem a seguir ele explica porque os "grandes" são dignos de admiração e devem ser "imitados":

"Ora, visto que os homens avançam quase sempre por caminhos traçados por outros homens e que dirigem seus atos com base na imitação _ ainda que sem poder trilhar a mesma via nem alcançar o mesmo mérito (virtù) dos que lhe servem de modelo _, o homem prudente deverá constantemente seguir o itinerário percorrido pelos grandes e imitar aqueles que se mostram excepcionais, a fim de que, caso seu mérito ao deles não se iguale, possa ele ao menos recolher deste uma leve fragância: procederá assim agindo como o prudente arqueiro, que, sabendo da distância que a qualidade (virtù) do seu arco permite-lhe atingir, e reconhecendo como demasiado longínquo o alvo escolhido, fixa a pontaria num ponto muito mais alto que o estipulado, esperando, não que a sua flexa uma tamanha altura, mas poder, ajudado pela mira mais alta, atingir o ponto visado.

Digo, então, que a dificuldade em conservar-se um principado novo sob a autoridade de um novo príncipe será maior ou menor de acordo com o caráter mais ou menos virtuoso daqueles que conquistou. E dado que este evento da passagem de homem (no sentido privado) a príncipe pressupõe que este possua méritos (virtù) e muita sorte (fortuna), fica a impressão de que uma ou outra dessas duas condições podem, em parte, atenuar muitas dificuldades. Todavia, o príncipe que depende menos da fortuna mantém-se por mais tempo enquanto tal. (...)

Examinando os feitos e trajetórias dos grandes, não podemos concluir que da fortuna eles hajam recebido mais do que a ocasião que a materialidade das suas vidas ofereceu-lhes de poderem nela mesma introduzir a forma que lhes parecia justa. Sem esta ocasião suas virtudes espirituais ter-se-iam perdido, e, sem essas virtudes, a ocasião haveria sido vã."

2 comentários:

Anônimo disse...

devido aos varios livros de o principe, qual é o seu, pois tenho tentado comprar e não o acho

Gustavo Carvalho disse...

Caro anônimo, vóis micê vai encontrar Noblesse: recomendo a edição de bolso da editora LPM! Abç