"As recessões são comuns, mas as depressões são raras. Até onde eu sei, apenas dois períodos da história econômica foram chamados na sua época de "depressões": os anos de deflação e instabilidade após o Pânico de 1873 e os anos de desemprego em massa após a crise de 1929 a 1931.
Nem a Longa Depressão do século 19 nem a Grande Depressão do século 20 foram períodos de declínio ininterrupto - pelo contrário, ambas tiveram momentos em que a economia cresceu. Mas esses episódios de melhoria nunca foram suficientes para desfazer os danos do choque inicial e foram seguidos de recaídas.
Receio que estejamos nos primeiros estágios de uma terceira depressão. A probabilidade é que ela seja mais parecida com a Longa Depressão do que com a Grande Depressão. Mas o custo - para a economia mundial e, acima de tudo, para os milhões de vidas arruinadas pela falta de empregos - será ainda assim, imenso.
E essa terceira depressão será resultado de um fracasso das políticas econômicas. Em todo o mundo - mais recentemente na desanimadora reunião do G-20 no último final de semana - os governos estão obcecados com a inflação, enquanto que a grande ameaça é a deflação, recomendando cortes de gastos, ao passo que o verdadeiro problema são os gastos inadequados.
(...)
É quase como se os mercados financeiros conseguissem entender o que os legisladores não conseguem: apesar de a responsabilidade fiscal de longo prazo ser importante, o corte repentino de gastos em uma depressão, que aumenta mais ainda essa depressão e precede a deflação, é também uma estratégia autodestrutiva.
E quem pagará o preço pelo triunfo desse conservadorismo? Dez milhões de trabalhadores desempregados, muitos deles, inclusive, que ficarão sem trabalho por anos ou até mesmo pelo resto da vida."
(*) Paul Krugman é economista, professor da Universidade de Princeton e colunista do The New York Times. Ganhou o prêmio Nobel de economia de 2008.
Fonte: Carta Maior
Um comentário:
Don Cabezza,
Lúcida a percepção do Krugman.
Os sinais estão no ar, e há nessa conjuntura um fato que assusta ainda mais:
a incapacidade dos governos dos países centrais da crise(EEUU e e Zona do Euro)em absorver os custos políticos da regulamantação dos mercados, e a insistência em adotar recietas ortodoxas.
outra questão:
nos parece que a depressão fará emergir um novo desenho geopolítico, de viés desequilibrado e assimétrico. a julgar pelas conseqüências das outras depressões, acho que sentiremos saudades da "pax americana".
se o Brasil e outros souberem evitar ao atritos decorrentes da corrida pela ocupação de uma hegemonia instável(inicio de épocas), poderemos ter uma rearrumação pacífica(dentro do possível).
mas se tudo convergir para o que sempre ocorre, vem por aí mais um conflito de escala mundial.
um abraço.
Postar um comentário