sexta-feira, 7 de maio de 2010

Núcleo setorial: cultura



LOUVOR À DÚVIDA


Louvada seja a dúvida! Aconselho-vos que saudeis

serenamente e com respeito

àquele que pesa vossa palavra como uma moeda falsa.

Quisera que fostes avisados e não destes

vossa palavra com demasia confiança.

(...)

A dúvida, porém, mais formosa de todas

é quando os débeis e desalentados levantam a cabaça

e deixam de crer

na força dos seus opressores.

(...)

Em face dos irreflexivos que nunca duvidam,

estão os reflexivos que nunca atuam.

Não duvidam chegar à decisão senão

para eludir a decisão. As cabeças, só as utilizam

para sacudí-las. Com ar grave

advertem contra a água aos passageiros dos barcos

que se afundam.

(...)

De que serve poder duvidar

quem não pode decidir?

Pode atuar equivocadamente

quem se contenta com razões demasiadas escassas,

que necessite em demasia.

Tú, que és um dirigente, não olvides

que o és porque hás duvidado dos dirigentes.

Permita, portanto, aos dirigidos

duvidar.


Bertolt Brecht

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