sexta-feira, 23 de abril de 2010

Ciro, o ressentido!



Na noite da última quinta-feira (22/04/2010) Ciro Gomes concedeu entrevista ao portal IG. Num desabafo calculado, Ciro desempenhou seu papel preferido: um misto de político outsider, enfant terrible irascível e "idiota da vila". Na verdade, um personagem já gasto e previsível, como a inconsistência político-partidária de suas pretensões presidenciais. A única coisa autêntica dessa encenação toda foi a vitalidade de seu ressentimento. E como todos sabemos, o ressentimento é um péssimo motivador para a ação estratégica. Portanto, movido por esse "envenenamento" do espírito, Ciro não consegue diminuir a "dissonância cognitiva" entre suas pretensões napoleônicas e sua real estatura. Por isso tudo, acabou degenerando numa espécie de "corvo" da ruína coletiva e adesismo "racional" ao antigo desafeto. Confira a seguir os "melhores momentos" da entrevista:


“Lula está navegando na maionese. Ele está se sentindo o Todo-Poderoso e acha que vai batizar Dilma presidente da República. Pior: ninguém chega para ele e diz ‘Presidente, tenha calma’. No primeiro mandato eu cumpria esse papel de conselheiro, a Dilma, que é uma pessoa valorosa, fazia isso, o Márcio Thomaz Bastos fazia isso. Agora ninguém faz”.

“Tiraram de mim o direito de ser candidato. Mas quer saber? Relaxei. Eles não querem que eu seja candidato? Querem apoiar a Dilma? Que apoiem a Dilma. Estou como a Tereza Batista cansada de guerra. Acompanho o partido. Não vou confrontar o Lula. Não vou confrontar a Dilma.”

“Em 2011 ou 2012, o Brasil vai enfrentar uma crise fiscal, uma crise cambial. Como estamos numa fase econômica e aparentemente boa, a discussão fica escondida. Mas precisa ser feita. Como o PT, apoiado pelo PMDB, vai conseguir enfrentar esta crise? Dilma não aguenta. Serra tem mais chances de conseguir”.

“Minha sensação agora é que o Serra vai ganhar esta eleição. Dilma é melhor do que o Serra como pessoa. Mas o Serra é mais preparado, mais legítimo, mais capaz. Mais capaz inclusive de trair o conservadorismo e enfrentar a crise que conheceremos em um ou dois anos.”

“Não me peçam para ir à televisão declarar o meu voto, que eu não vou. Sei lá. Vai ver viajo, vou virar intelectual. Vou fazer outra coisa”.

“Sabe os aloprados do PT que tentaram comprar um dossiê contra os tucanos em 2006? Veremos algo assim de novo. Vai ser uma merda.”

"Ele não é Deus."

14 comentários:

Ana Paula Motta disse...

Parafraseando o Pessoa, o Ciro diria
o da minha altura
"Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não, do tamanho da minha altura..."
ou a Helena Kolody "No poema e nas nuvens, cada um vê o que quer."
Mas ele não merece reflexões poéticas...

Gustavo Carvalho disse...

Pois é Ana Paula, 1º seja sempre bem-vinda, realmente o cara não merece o auxílio luxuoso da poesia, no máximo uma tipologia psiquiátrica! Na verdade está se tornando um babaca de um traíra...
Abç

Roberto Torres disse...

Muito engracado essa coisa de ressentido, como se fosse um grande pecado. As críticas que Ciro faz ao PT sao quase todas certeiras, e as que faz a Lula também. Além do mais, sua pretensao de ser candidato a presidente é mais do que legítima, inclusive como alternativa dentro do projeto Lula. Acho também que ele tem total razao no diagnóstico de que é o Serra quem ganha com sua saída.

Gustavo Carvalho disse...

Caro Roberto, como Ciro sobrevive ao princípio da não-contradição? Como o Governo Lula pode ser o sucesso que é (discurso de Ciro) e, ao mesmo tempo, a crise econômica-fiscal prevista de forma genial por Ciro ser uma força iminente da natureza? Além do mais, ninguém aqui do PT coloca em questão a legitimidade da pretensão presidencial de Ciro. O problema do projeto cesarista do cara é a falta de voto/partido/base social. Assim, quando ele conseguir essas condições de possibilidade talvez ele não precise pedir uma rebarba da base parlamentar do governo! Por fim uma perguntinha: vóis micê acredita, como Ciro diz acreditar, que o problema da aliança com o PMDB é de ordem moral?
Aguardo retorno. Abç

Roberto Torres disse...

Meu caro, nao é o Ciro que nao sobrevive ao princípio da nao contradicao, mas sim que o governo, por mais que seja um sucesso, nao sobrevive ao princípio da contradicao. O governo Lula é um marco na história social e política do Brasil, mas o aprofundamento das transformacoes iniciadas só é possível se vier para a agenda do debate as contradicoes do que foi possível. Se o diagnóstico dele sobre a crise fiscal estiver errado, isto nao invalida sua maior bandeira, que é o resgate de uma estratégia de hegemonia. E é precisamente o comprometimento desta estratégia de uma hegemonia republicana que está claramente apontada nesta alianca com o que há de pior no PMDB. A prova incostetável da tese de Ciro está na relacao do governo com o congresso, via PMDB.

Ciro, além do mais, ve e deseja discutir a qualidade da vocacao política que temos de produzir com o tipo de profissional que o campo tende a exigir sob a lideranca de Temer, Renan etc.

Agora francamente, "projeto cesarista" é demais. Ciro é um republicano, sem a vinculacao raríssima com base social como só tem Lula (muitíssimo além do PT), mas com uma prática e com um partido de tradicao convictamente democrática. Compara-ló com o "lastro social de Lula" nao tem sentido, até porque ninguém (nem no PT) reedita isso.

Gustavo G. Lopes disse...

Salve Roberto,
A questão do "resgate de uma estratégia de hegemonia" realmente é decisiva. Resgate ou construção dinâmica mas também manutenção. Obviamente, todos sabemos que não há hegemonia que prescinda dos atores do campo político que existe de fato.
A sustentação política do primeiro mandato assumiu um contorno quase varejista. A aproximação com o PMDB está longe de ser tranquila.
Mas na perspectiva geral do jogo e dos vários atores envolvidos, não há espaço político para outsiders. Até a Marina soube se articular partidariamente e encontrar um novo ator coletivo.
Neste sentido, tendo a a concordar com o xará quando aponta o "cesarismo" de quem está construindo o seu caminho para a mudança de lado e um retorno ao ninho tucano que carece de quadros renovados e não tem as "blindagens" do PT. Poderíamos dizer um "protótipo de cesarismo" com vistas em 2014.
Em clima de campanha, resumiria: traíra!

Roberto Torres disse...

Voce viu a entrevista de Ciro na redetv? Traíra para voce é sinonimo de quem critica. Quando foi que Ciro traiu o projeto Lula? Ciro é leal, sincero e coerente em suas posicoes. Raros sao os quadros do PT que se assemelham a ele em termos de estatura política, republicanismo e e desejo de aprofundar o processo de aprendizado político.

Sobre a questao do ator coletivo. Porque Marina tem mais base social do Ciro? De onde voce tira isso? Voce acha que a base social que apóia o governo é do PT?

Meu caro, o PT está numa encruzilhada histórica, com o enorme desafio de renovar seu potencial crítico tendo que ser continuidade, e Ciro pode ser um aliado e um conselheiro decisivo neste processo. Infelizmente existe um coorporativismo partidário, alimentado por gente insignificante que se acha herdeiro da popularidade e da autoridade política de Lula, que nao enxerga um palmo à frente do nariz.

Gustavo Carvalho disse...

Prezado Roberto, viva o debate! Como superarmos o solipsismo e a ´parcialidade de perspectiva que todo posicionamento possui sem um debate "à vera"?! Pois bem, constato que sua admiração pela figura pública do Ciro é um caso sério. Contudo, todos sabemos que em política não existe lealdade incondicional e que sempre foi do INTERESSE de Ciro e de seu projeto (podemos fazer uma epoche na sua classificação!) continuar parasitando o governo Lula para ser seu herdeiro eleitoral. Quando perecebeu a sua inviabilidade iniciou a sua escalada "purista" e pseudo-outsider de denúncia da aliança estratégica com o PMDB. Enquanto ministro ele ignorava tamanho infortúnio político coletivo? Aliás, se é tão autenticamente republicano e "moral" como alega ser, como foram suas relações com Roberto Jefferson, mentor intelectual/operacional de uma de suas campanhas eleitorais? Ou será que quando lhe é conveniente ele veste o "véu da ignorância"??? Com relação à base social, não me refiro ao fenômeno do lulismo e sua extra-ordinária base de simpatia/apoio (não orgânica), estou designando a base social clássica para ação coletiva: entidades da sociedade civil com capacidade de portar e projetar interesses/valores/propostas com um mínimo de vida orgânica (sindicatos, associações, PARTIDOS, etc). Ou será que Ciro vai conseguir isso apoiando Skaff/Fiesp em SP?
No mais, debate que segue...

Roberto Torres disse...

Ciro nao foi ministro no segundo governo Lula, quando passou a vigorar a alianca com o PMDB. Claro que ele tem interesse em ser presidente, mas a questao é como os interesses sao realizados ou buscam se realizar.
O papel que ele desempenhou em 2005, na época da tentativa de golpe, mostra que seu interesse tinha uma vinculacao com uma idéia de república.

A base social clássica nao ganha eleicao no Brasil meu caro. É por nao compreender as limitacoes que esta base tem e teve na história política do Brasil que o PT padece intelectualmente hoje. Lula só é o que é porque conseguiu sustentacao na sociedade civil desorganizada, no "subproletariado", como diria o André Singer. A questao, que nao existe para os cegos e surdos do PT, é que o lulismo nao representa (ainda?)hegemonia com esta base social desorganizada, que no passado recente compunha a forte hegemonia da mídia.

Por perceber e ter ousadia para discutir estas questoes, além de sua trajetória, é que admiro Ciro Gomes. Caso sério rs rs? Caso sério é a Fundacao Zunbi dos palmares e de resto a mediocridade do PT local.

Gustavo Carvalho disse...

Pois é Roberto, acho esse gran finale vóis micê deve ter acabado com a substãncia de seu argumento. Mas veja, esse espaço do Núcleo de base do PT não teve nenhum dos seus membros em governo local, muito menos em fundação zumbi!? Quanto a mediocridade, temos o mesmo dilema com relação ao senso comum: ou você opta por uma posição autoritária-aristocrática e olha a mediania "de cima" ou participa e tenta adicionar elementos críticos/reflexivos criando o debate. desqualificar atores (individuais e coletivos) nunca serviu à democracia!
Abraço

Roberto Torres disse...

Pois é Gustavo, pimenta no dos outros é refresco. Desqualificar atores nunca serviu a democracia (também acho, desde que os atores se coloquem enquanto tais no espaco de debate), mas veja o trabalho de desqualificacao de Ciro que, subalternamente, (eis o exemplos das postagens deste Núcleo)vem sendo feitas.

Gustavo Carvalho disse...

Roberto, tenho a impressão de vivenciar uma forte "dissonância cognitiva". A crítica aos atores públicos (com capital de campo social consagrado e trajetória política consolidada) não pode ser confundida com desqualificação! Por mais que você nutra admiração pela figura de Ciro, do ponto de vista objetivo como operar com esse nível de identificação? As CRÍTICAS POLÍTICAS aqui publicadas (as quais reafirmamos TODAS!) não podem ser confundidas com desqualificação pessoal. Por que subalternas? Estamos aqui publicamente argumentando nosso ponto de vista, sem subalternidade e ambiguidade nenhuma! São opiniões políticas que você tem o direito de discordar (e aqui terá todo espaço para fazê-lo!). Agora: "pimenta nos olhos dos outros"? Que outros? A interlocução aqui é "mano a mano" conosco. Não temos a pretensão de refletir o discurso "oficial" do PT sobre Ciro (e nem queremos!), até porque o ator político coletivo vai sempre se comportar de forma estratégica (daí a falta de uma crítica fronyal e publica à atitude de Ciro!). Essa é a vantagem de ser militante de base: a liberdade de ponderar "responsabilidade" com "convicção"! Contudo, o ato de designar o debate de medíocre é altamente deselegante e desqualificador, além de se implicar diretamente com seu próprio diagnóstico. E de novo: como sobreviver a auto-contradição? Além disso, apelar para esse tipo de "denúncia" rasteira sobre Fundação Zumbi(?) é o pior sintoma de falta de argumento. Repito: nós aqui do Núcleo Lenilson Chaves não temos "rabo preso" com ninguém, manifestamos nossas opiniões e sempre as sustentamos.
Saudações petistas!

Roberto Torres disse...

Gustavo, voce nao fez uma crítica ao Ciro que nao fosse repeticao do discurso oficial do PT, (traíra e contraditório por defender e ao mesmo tempo criticar o governo Lula),ou seja, desqualificacao pessoal.

Nao fiz nenhuma denúncia. Elas foram feitas a tempo. Eu apenas lembrei um caso sério, que demonstra a rendicao do PT local ao garotismo arnaldista no passado recente, é que o partido nao prestou contas.

Quando falei da mediocridade do PT local, nao falei deste blog, nem de pessoas (poucas das quais conheco), falei de capacidade que tem o partido hoje para se diferenciar do garotismo e de oferecer uma alternativa de poder para a cidade.

Mas se voce preferir se apegar a isso para reafirmar as críticas políticas (que voce nao fez... ) faca.

Gustavo Carvalho disse...

Pois bem, a discordância transcendental é sobre a natureza da crítica política. Por exemplo, quem apela o tempo todo para o pessoal para fazer política é próprio Ciro, referindo-se aos atributos pessoais dos outros para se qualificar, veja o seu último (?) comentário sobre Serra: "Competente, tenebroso, autoritário"! Só faltou chamar de feio e bobo. Repito, apontar as contradições das ATITUDES PÚBLICAS dos atores é o basal da crítica POLÍTICA (O PT não produziu nenhum discurso crítico porque espera contar com o apoio de Ciro). Se você só leu o traíra e não é capaz de refutar o cesarista, o problema não é nosso. Com relação à alegada mediocridade do PT local, você não percebeu o real problema: não basta constatá-la e "tapar o nariz" com nojinho é preciso fazer alguma coisa. É justamente essa velha postura intelectual convencional (de nunca disputar a hegemonia!) que rejeitamos categoricamente. Pois acreditamos, como Gramsci: "O modo de ser do novo intelectual deve consistir num tomar parte ativo na vida prática, como construtor, organizador, "persuador permanente", sem isso limita-se a ser "especialista" e não chega a ser "dirigente"."
Abç