A última edição da principal publicação analítica do PT/Fundação Perseu Abramo, a histórica revista Teoria e Debate (jan/fev 2010), tem a honra de reverberar os sábios argumentos da emérita economista Maria da Conceição Tavares. Confira a seguir algumas das passagens mais instigantes
(http://www.fpabramo.org.br/uploads/TD86-conctavares.pdf):
(http://www.fpabramo.org.br/uploads/TD86-conctavares.pdf):
"Há características do eleitorado que vão determinar de alguma maneira o que o PT tem de fazer se quiser prosseguir com sua trajetória vitoriosa e tentar levar a população um pouco para a esquerda. A maioria das votações se apresenta polarizada, pobres contra ricos. Entre os pobres, é claro que Lula ganha. (...)
Quando se veem as faixas de renda, é claro o quadro pobres contra ricos, a barreira é até cinco salários mínimos. O problema é que o subproletariado também tem um conservadorismo popular. Se as pesquisas da Fundação Perseu Abramo estiverem corretas, são tanto de esquerda quanto de direita, já o centro é classe média. (...)
Outro fator relevante que a esquerda tem mania de esquecer é que estabilização é uma coisa que interessa ao povo. Os outros têm indexação dos títulos, indexação da renda, e se prejudicam menos. Como que a inflação não tem importância, se quem se ferra mais com ela é o povo?
A combinação políticas sociais, aumento do salário mínimo, previdência social para os do campo – aqueles que não teriam esse direito contributivo – ajudou muito a melhorar a distribuição de renda e a incorporação social. E essa gente que é incorporada não necessariamente é de esquerda.
Agora tem de separar o lulismo do petismo. Uma coisa é a próxima eleição, pode ser – e espero que assim seja – que Lula consiga passar seus votos para Dilma, mas isso não tira a necessidade de o PT propriamente dito ser majoritário no eleitorado lulista.
O PT tem como opção organizar esse subproletariado, que não é a sua raiz, pois o partido organizou o campo com as bases da Igreja, o proletariado com as bases sindicais e os intelectuais de classe média com a base ideológica. Na base ideológica está perdendo, disso não há dúvida,
mas a direita também está perdendo. A população atual parece mais desideologizada que a das décadas anteriores. A escola de quadros do partido tem de prestar atenção aos dados sociais, não adianta formular táticas e estratégias de mobilização eleitoral e partidária que atinjam apenas a base antiga.
O partido tem de trabalhar mais com os jovens e com a faixa enorme do subproletariado, provavelmente organizando. E isso não significa organizá-la apenas por intermédio da base dos movimentos sociais, pois estes têm altos e baixos. É preciso algo mais estrutural, quero dizer, além dos segmentos clássicos, como mulher, jovem, raça, o partido deve se dedicar ao subprolerariado. Talvez tenhamos de avançar nas pesquisas, é preciso ver os cruzamentos.
Eu acho que tem de pôr o acento nas desigualdades, regionais, de renda, de acesso. Pela análise dos dados e pelo que vejo na rua, foram o ataque às desigualdades e a linguagem popular de
Lula que permitiram a identificação. Os núcleos do partido estão muito desativados e há algumas lutas fratricidas nas prévias pré-eleitorais. O PT precisa ficar atento à sua organização em todos os níveis, se quiser ter o partido mais aderente à realidade socioeconômica do país.
Outra coisa pela qual o PT deve lutar, e diz respeito a todos os partidos, é a reforma política, pelo menos ofinanciamento público. (...)
No fundo, o maior problema é como que se passam as modificações táticas e estratégicas e de estrutura do partido para colar mais no fenômeno eleitoral, e não menos. (...)
Penso que o PT tem a obrigação de consolidar a sua estrutura, adequar a sua linguagem de comunicação de massa para colar no lulismo. Tem de colar nos problemas da sociedade,
não adianta dizer que tem de ser ético, tem de colar nos movimentos sociais. Sim, mas vai fazer isso a partir de análises objetivas? No século 20 fomos um partidaço, agora é século 21. O PT, como entidade, tem de fazer o que Lula fez."
6 comentários:
Vocês precisam pensar o PT de Campos, fazer estas análises na realidade campista. Vamos pensar nossa cidade, como chegar no povão que quer cheque cidadão, bolsa para os filhos em escolas particulares e passagem a R$ 1,00.
Caro anônimo, 1º obrigado pelo comentário, 2º você está totalmente certo! A questão é que esse trabalho de convencimento político e ampliação do debate tem "mão dupla". Ao mesmo tempo que tentamos estimular o debate e formular posições políticas temos que fazer a comunicação com a "realidade campista". Realmente, não dá para "acumular massa crítica" e só depois nos dirigir ao "distinto público". Mas não há alternativa o movimento é meio zigue-zague e passo a passo, mas em alguns momentos o inesperado pode acontecer...
Saravá misifio!
Nao entendi nada!
Esta análise é claramente voltada para o público interno petista obviamente interessado num projeto de poder e não num projeto de país.
Parafraseando o velho Brisola, o Lulismo é a vanguarda do atraso.
Quanto ao PT nacional vejo esta questao bem definida, queria ouvir mesmo é: em quem o PT de Campos vai colar? Acho que isso que não é claro pra ninguém em Campos.
Vai colar em Arnaldo Viana? Vai colar na Folha da Manha? Até se colasse em Garotinho eu não me surpreenderia. Enfim, em quem PT de Campos vai colar?
A vida sem debate é um tédio, portanto saúdo a participação crítica dos comentaristas. 1º) caro "Turcão" além projeto de poder (pois se tratando de partido político é a aspiração mais racional e legítima que existe!), o PT não só possui um projeto de Nação como governa guiado por essa concepção. Além disso, com qual governo vois micê pretende comparar a gestão do Presidente Lula? (Aliás: Brizola assim se escreve!). 2º) Camarada Brand, como você já perecebeu, o argumento metafórico da Mª da C. Tavares se refere à crítica ao falso dilema petismo x lulismo e busca agravar a percepção coletiva para as gigantescas tarefas partidárias no pós-Lula. O PT de Campos não deve "colar" em ninguém e sim reconstruir sua identidade como partido de oposição com obrigatória candidatura própria (isso, meu amigo, é consenso automático no partido!). Contudo, os limites e mazelas do PT local não são diferentes do PT do estado do Rio. Ao se limitar a um comportamento parasitário de projetos de poder alheios tornou-se descaracterizado e e sem consistência popular e eleitoral. Portanto, para nós do Núcleo Lenílson Chaves, vivemos uma situação de "não retorno": ou avançamos na construção de uma vida partidária com vínculos orgânicos com as lutas populares e na defesa da cidadania ou fenecemos!
Continua...
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