Nas conversas cotidianas, há muito, tornou-se lugar comum a apreensão generalizada de falta de planejamento urbano pelos gestores municipais. A degradação do espaço urbano da nossa cidade já se tornou um ritornelo: fantásticos problemas do trânsito automotivo, ciclístico, bípede e - por que não lembrar - quadrúpede; vergonhosa concentração vertical pela especulação imobiliária; favelização; falta de saneamento básico; uso pra lá de irregular dos espaços públicos e o já proverbial enfeiamento da cidade.
Além de todos estes problemas, arriscamos dizer que os cidadãos de campos vivem numa profunda crise de identidade visual da cidade. Não falo de embelezamento superficial da cidade, de fachadas e adornos ou de limpeza. Me refiro a uma identidade visual que esteja marcada pelos espaços de vivência coletiva, lugares de afirmação educadora de atualização da memória, enfim, espaços de afirmação da cidadania.
Em exposição aí no lado direito, nova série de fotos antigas da cidade de Campos. Acreditamos que a apreciação de fotografias antigas nos oferece duas possibilidades complementares da consciência histórica.
Uma, o estranhamento com o presente através das diferenças em relação aos olhares e lugares. A segunda, a possibilidade de reconstruir visualmente um processo de transformações na cidade. Complementares, nos ajudam a ter coragem e a projetar.
Campos tem um precioso acervo fotográfico, especialmente sobre as transformações urbanas. O problema fundamental é que estes acervos estão dispersos em algumas instituições e nem sempre estão devidamente organizados e disponíveis para a consulta pública.
Outros bons acervos estão sob a guarda ou são propriedade de particulares. Neste caso, a consulta depende da disponibilidade e boa vontade dos seus guardiões. Via de regra, tais particulares demonstram grande amabilidade e vontade de divulgar o estudo iconográfico relacionado à cidade. A guarda privada realizada de formas heterodoxas e nem sempre em situação plenamente regular tem salvado documentos que, de outro modo, teriam sido consumidas pela ação do tempo, pelo furtos impunes ou pelo "descarado" desleixo.
Este é apenas um dos vários cenários que configuram a frágil rede de preocupações em torno do Patrimônio Histórico da cidade: um significativo acervo que é tornado raro ou pelo abandono público ou pelo cuidado particular.
[Durante a exposição anterior, recebi algumas mensagens que buscavam identificar os lugares e as épocas das fotos. Desta vez, quem arrisca?]
2 comentários:
Belo texto Gustavo.
Essa cidade era bonita. . . E a pergunta que nao quer calar: onde, em que momento, essa Campos se perdeu?
Seu texto toca também no que acho que seja um dos maiores problemas dessa cidade, a falta de auto-estima do seus moradores, todos parecem ter vergonha da cidade, e acho que isso tem a ver com a falta memória do município.
Um abraco.
Caro professor Gustavo Lopes,
Sem o valioso arquivo do "Monitor Campista" ofereço(a título de empréstimo,já que se encontram praticamente esgotados) os livros "Campos depois do Centenário" -3 volumes- Waldir Carvalho onde são encontradas imagens de nossa Campos antiga com as referidas datas.
Walnize Carvalho
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