Desastre na Serra
Fiquei indignado com as referências feitas a mim na matéria de capa da FSP deste sábado. Sou tratado como um simplório ou irresponsável que acha ser um mero detalhe a não remoção das famílias das áreas de risco. Sempre lutei por isto, garantindo instrumentos, verbas, acionei prefeitos irresponsáveis, participei de ações no terreno. Como secretário estadual do Ambiente, de janeiro de 2007 a maio de 2008, destinei recursos ao mapeamento de risco de diversas áreas, incluindo a Região Serrana, também à montagem de uma rede de hidrometria, para enviar alertas da cheia dos rios às prefeituras, o que efetivamente foi feito com antecedência neste desastre, para Friburgo, e a Defesa Civil Municipal não estava preparada para tomar as providências cabíveis. Acabamos com o lixão de Teresópolis e municípios vizinhos, criando o aterro sanitário intermunicipal. Como deputado estadual, investi contra a ocupação ilegal das encostas com apoio de órgãos públicos do MP, acompanhado pela mídia em dezenas de ações. Inclusive em Teresópolis, na APA Jacarandá, contra autorizações ilegais concedidas pelo então prefeito Mario Tricano para construções populares em áreas protegidas. Como ministro do Meio Ambiente, dobrei a área do Parque Nacional da Serra dos Órgãos, em setembro de 2008, de 10 mil para 19 mil ha, nos municípios agora afetados. E garantimos recursos no PAC para o saneamento e recuperação dos rios Paquequer e Piabanha, em Teresópolis e Petrópolis. Entre maio de 2007 e abril de 2010, estive à frente do Ministério do Meio Ambiente, garantindo o menor desmatamento da história da Amazônia e que o Brasil fosse o primeiro país em desenvolvimento a adotar metas de redução de emissões de CO2. Meu comentário foi claro: não basta a definição da área de risco, para o que contratamos a UFRJ, mas uma série de procedimentos complexos para desocupá-la. Há mais de 15 anos sabemos quais são as áreas de risco na cidade do Rio de janeiro, onde moram 25 mil pessoas, e só agora com as UPPs e vontade política e também com o PAC das comunidades, o processo avança. Relatei o que fizemos: mapa de risco e início da rede de hidrometria, e o que faltou, política municipal séria de remoção. E a matéria me coloca como um ingênuo que diz que faltou um pequeno detalhe. Sinceramente, é inaceitável. Em nossas grandes obras contra as inundações que executamos na Baixada Fluminense, de recuperação das bacias do Iguaçu, Sarapuí e Botas, já realocamos duas mil famílias que viviam às margens destes rios, e o trabalho prossegue. Com isto muitas vidas foram salvas. Nossa postura é conhecida e merece respeito, que faltou nesta matéria.
Carlos Minc, secretário estadual do Ambiente RJ, foi ministro de Estado do Meio Ambiente (2008/2010)
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