terça-feira, 15 de junho de 2010

É dia de futebol!


No dia da estréia da Seleção na Copa da África cabe celebrar nossa paixão coletiva maior e prestar homenagem ao nosso delírio. Na sequência confira o insólito diálogo entre dois amantes do "Jogo do Povo", o escritor (e torcedor do Totteham) Salman Rushdie e o poeta vascaíno de coração Carlos Drummond de Andrade que dialogam sobre a impossibildade de "explicar" a condição do torcedor de futebol:

No contexto da Copa de 1994, Rushdie levanta a questão:

“Como transmitir a idéia de beleza, aplicada a um esporte que interessa tão pouco aos americanos? Como explicar as relações entre times de futebol e caráter nacional? Qualquer torcedor sabe o que significa jogar como os brasileiros (com estilo, elegância e ritmo intoxicante), como os alemães (com disciplina, força física incansável e determinação de ferro) ou como os italianos (na defesa, mas com repentinos e devastadores contra-ataques). Como explicar não só os mistérios do jogo, mas uma condição que ultrapassa todos os limites do esporte _ a de ser um torcedor?”

Pois Drummond, em O Mistério da Bola, reflete:

“(...) Fico imaginando que há no futebol valores transcendentes, que nós, simples curiosos, não captamos, mas que o bom torcedor vai intuindo com a argúcia apurada em uma longa educação da vista. Confesso que o futebol me aturde, porque não sei chegar até o seu mistério. Entretanto, a criança menos informada o possui. Sua magia opera com igual eficiência sobre eruditos e simples, unifica e separa como as grandes paixões coletivas. Contudo, essa é uma paixão individual mais que todas. (...) A estética do torcedor é inconsciente; ele ama o belo através de movimentos conjugados, astuciosos e viris, que lhe produzem uma sublime euforia, (...). Finalmente, grande ilusão do gol confere alta dignidade à paixão popular, que não visa a um resultado positivo ou duradouro no plano real, mas se satisfaz com uma abstração: 22 homens se atiram uns contra os outros, e era de se esperar que os mais combativos ou engenhosos, saindo triunfantes, deixassem os demais no campo, arrebentados. Não. O objeto de couro transpõe uma linha convencional, e o que se chama de vitória aparece aos olhos de todos com uma evidência corporal que dispensa imolação física. Não podemos acusar de primitivismo aos que se satisfazem com esse resultado ideal.”

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