segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O palpite de Norbert Elias por Mário Furley

Por que, naquelas circunstâncias, uns se tornam bandidos e outros não?
Seria por opção individual? Uns escolhem não ser bandidos, os outros optam por este caminho?
O primeiro problema para explicações baseadas em escolhas individuais é precisar o grau de liberdade de individual de escolha.
Liberdade de escolha individual que, por causa das circunstâncias, pode variar de indivíduo para indivíduo!
Eis aí o palpite de Norbert Elias:
"Mas, em diferentes sociedades e em diferentes fases e posições numa mesma sociedade, a margem individual de decisão difere em tipo e tamanho. E aquilo a que chamamos "poder" não passa, na verdade, de uma expressão um tanto rígida e indiferenciada para designar a extensão especial da margem individual de ação associada a certas posições sociais, expressão designativa de uma oportunidade social particularmente ampla de influenciar a auto-regulação e o destino de outras pessoas. Quando, por exemplo, o poder social de pessoas ou grupos de uma mesma área social é excepcionalmente desigual, quando grupos socialmente fracos e de posição subalterna, sem oportunidades significativas de melhorar sua posição, são pareados com outros que detêm o controle monopolista de oportunidades muito maiores de poder social, os membros dos grupos fracos contam com uma margem excepcionalmen te reduzida de decisão individual. Nesse caso, quaisquer dons destacados ou características intensamente individualizadas entre os membros dos grupos fracos não podem ser desenvolvidos, ou só o podem ser em direções havidas por anti-sociais do ponto de vista da estrutura social existente. Assim, para os membros isolados das classes camponesas socialmente fracas que vivem à beira da inanição, por exemplo, a única maneira de melhorar. Sua sina consiste, muitas vezes, em abandonar a terra e adotar uma vida de banditismo. A posição de liderança nesses grupos, a posição de "chefe dos ladrões", constitui, nesses casos, a única oportunidade de eles tomarem uma iniciativa pessoal significativa. Dentro da estrutura da existência social normal de ssas classes pobres e desfavorecidas, é mínima a margem que resta para a inicíativa pessoal. E é absolutamente certo que a posição social e o destino desses grupos, dada a enorme discrepância na distribuição dos instrumentos do poder social, só pode ser alterada pela estatura e energia especiais de um de seus membros que se haja transformado em seu líder."

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