"Devemos saber que existem dois modos de combater: um, com as leis; o outro, com a força. O primeiro modo próprio do homem; o segundo, dos animais. Porém, como o primeiro muitas vezes se mostra insuficiente, impõem-se um recurso ao segundo. Por conseguinte, a um príncipe é necessário saber valer-se dos seus atributos de animal e de homem. (...)
E pois que um príncipe precisa saber realmente valer-se da sua natureza animal, convém que tome como modelos a raposa e o leão: posto que a raposa mostre-se indefesa contra os lobos e o leão contra as armadilhas do homem, o príncipe proverá às suas carências com aquela conhececendo as armadilhas do homem e com este espavorindo os lobos. Com efeito, aqueles que agem unicamente como leões revelam a sua inabilidade. (...) Todavia, terás de saber usar os atributos de raposa, fazendo-te um grande simulador e um dissimulador. Ademais, são tão simples os homens e tão simplesmente eles conformam-se às exigências do seu presente, que aquele que sabe enganar encontra sempre um outro que, justamente, se deixa enganar. (...)
Os homens, in universali, mais julgam pela visão que pelo tato, uma vez que todos podem facilmente ver; somente una poucos sentir. Cada qual vê o que pareces ser; poucos têm o sentimento daquilo que de fato és; e estes poucos não ousam contrapor-se à opinião dos muitos, que contam, em sua defesa, com a majestade do Estado. Ademais, das ações de qualquer homem e mormente das ações de um príncipe consideramos simplesmente os seus resultados. Em sendo assim, o príncipe deve fazer por onde alcançar e sustentar seu poder: os meios serão sempre julgados honrosos e por todos elogiados, e isto porque apenas às suas aparências e às suas consequências ater-se-á o vulgo, este vulgo cuja presença é predominante no mundo. De resto, pouco contam as minorias quando as maiorias têm onde se apoiar."
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