Nos EUA como no Brasil a direita (e seus representantes políticos) não têm nada a dizer, não possuem nenhum projeto político sustentável para o conjunto dos cidadãos e para o futuro de suas Nações. Confira abaixo as principais passagens do último artigo (NYT 24/02/2010) do prêmio Nobel de Economia Paul Krugman:
Conservadores americanos são verdadeiros defensores da falência do Estado
Está certo, a besta está passando fome. E agora, o quê fazer? Essa é a pergunta diante dos republicanos. Mas eles estão se recusando a respondê-la, ou mesmo a se envolver em qualquer discussão séria sobre o assunto.
Para os leitores que não sabem do que eu estou falando: desde Reagan, o Partido Republicano tem sido administrado por pessoas que querem um governo muito menor. Nas famosas palavras do ativista Grover Norquist, os conservadores querem que o governo diminua “para um tamanho que possa ser afogado na banheira”.
Sempre houve, porém, um problema político nesse programa. Os eleitores talvez digam que se opõem a um governo grande, mas os programas que dominam os gastos federais -Medicare, Medicaid e Previdência Social- são muito populares. Então como o público pode ser persuadido a aceitar grandes cortes de gastos?
A resposta conservadora, desenvolvida no final dos anos 70, poderia ser chamada de “matando a besta de fome” na era Reagan. A ideia -proposta por muitos membros da inteligência conservadora, desde Alan Greenspan até Irving Kristol- era basicamente que os políticos simpatizantes deveriam fazer um jogo de propaganda enganosa. Em vez de propor cortes de gastos pouco agradáveis, os republicanos promoveriam os populares cortes de impostos, com a intenção deliberada de piorar a posição fiscal do governo. Os cortes nos gastos então seriam vendidos como uma necessidade, e não uma escolha, a única forma de eliminar um déficit orçamentário insustentável.
E o déficit foi feito. Verdade, mais da metade do déficit orçamentário deste ano resultou da Grande Recessão, que tanto deprimiu a receita quanto exigiu um aumento temporários nos gastos para conter os danos. Mas mesmo quando a crise acabar, o orçamento vai continuar profundamente no vermelho, em grande parte como resultado dos cortes de impostos da era Bush (e de suas guerras infundadas). A combinação de uma população que envelhece com o aumento de custos médicos vai levar a um crescimento explosivo da dívida após 2020, a não ser que algo seja feito.
Então, a besta está passando fome, conforme planejado. Deveria ser a hora, então, para os conservadores explicarem quais partes da besta eles querem cortar. (...)
Por que os republicanos estão relutando em sentarem-se para discutir? Porque seriam forçados a se expor ou a se calar. Como se opõem fortemente a reduzir o déficit com um aumento de impostos, eles teriam que explicar quais gastos gostariam de cortar. E adivinhe só? Após três décadas preparando o terreno para este momento, ainda não estão dispostos a fazer isso.
De fato, os conservadores evitaram cortar os gastos que eles mesmos propuseram no passado. Nos anos 90, por exemplo, os republicanos no Congresso tentaram forçar a aprovação de fortes cortes no Medicare. Agora, contudo, eles se opuseram a qualquer esforço para cortar fundos dos Medicare, o centro de sua campanha contra a reforma da saúde. (...)
Nesta altura, então, os republicanos insistem que o déficit deve ser eliminado, mas não estão dispostos nem a aumentar os impostos nem a apoiar cortes em qualquer um dos grandes programas do governo. E tampouco estão dispostos a participar em sérias discussões apartidárias, porque isso poderia forçá-los a explicar seu plano -e não há nenhum plano, exceto reconquistar o poder.
Mas há um tipo de lógica que explica a atual posição republicana: com efeito, o partido está dobrando sua aposta na estratégia de matar a besta de fome. Como o corte na receita do governo não foi suficiente para levar os políticos a desmantelarem o estado de bem-estar social, agora a estratégia é se opor a qualquer a ação responsável, até que estejamos no meio de uma catástrofe fiscal. Você está lendo em primeira mão aqui.
3 comentários:
Caro Gustavo,
Nesse texto estão implícitos vários "nós" que atam a democracia estadunidense.
O pano de fundo desse debate, que na verdade significa: quem ficará com a grana: Bancos/mercado ou a sociedade/setor produtivo/rede de proteção social é mediado por uma intrincada malha de lobby, que determina(com bilhões de dólares)o sentido para o qual as decisões rumarão.
A expressão pública desse debate/embate foi o recente mal estar causado pela pressão do mercado em rejeitar medidas de regulação, ainda que esse setor tenha provocado boa parte do rombo que onerará as contas públicas dos EEUU para os próximos anos pós-crise.
Como não poderia deixar de ser, esse entrave econômico se reflete na esfera política e ideológica.
Perdida em seus próprios planos(como o artigo diagnosticou), a direita reverbera uma miríade de bandeiras ultra-conservadora e que explicita essas contradições: reclamam do abandono do Estado que querem ver morto.
Um abraço.
Camarada Douglas, paroxismo da direita à parte o governo Obama continua prisioneiro dessa agenda arcaizante (vide também a política externa reciclada da era Bush!) e da mediocridade ideológica da mídia. A coisa tende a se agravar de modo diretamente proporcional com a piora dos seus índices de aprovação e a aproximação de novas disputas eleitorais.
Avante!
Galera, estou tentando acompanhar o blog de vcs, mas o ritmo ta muito frenético, vou tentar ler tudo.
Abraço
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