quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Partido dos Trabalhadores "cumple años"


O aniversário de 31 anos do Partido dos Trabalhadores se faz oportuno não só para celebrarmos o projeto político-partidário de maior êxito da esquerda brasileira, como também para exercício dialético da reflexão (auto)crítica.

O acúmulo de experiências dessa já longeva história permite um balanço mais detalhado do seu papel na vida pública nacional. Um dos aspectos mais interessantes desse ator coletivo é o fato de ter construído (e se constituído) uma trajetória inovadora no campo de esquerda, pois ao contrário do modelo revolucionário predominante de linha leninista-vanguardista ("guerra de movimentos") com vistas à tomada do Estado, o PT sempre exerceu seu desejo de protagonismo atuando como um ator gramsciano espontâneo. Isto é, na ausência um plano a priori da ação estratégica, o PT fez do trabalho de mobilização, organização e articulação dos diferentes atores da sociedade civil sua razão de ser e com isso jogou um papel decisivo no processo de redemocratização do Brasil. A sua polifonia interna, além de representar tendências ideológicas demarcadas da tradição de esquerda, serviu de reflexo da pluralidade de vozes oprimidas, excluídas e minoritárias de nossa vida política. Portanto, além contribuir para o fim da ditaduta militar, nas últimas 3 décadas o PT foi decisivo para a organicidade dos interesses e das vontades da cidadania brasileira.

Esse "triunfo da vontade" democrática ganhou concretude na década de 90 com as primeiras gestões estaduais e municipais do partido nas quais, sob a égide do "modo petista de governar", não só invertemos prioridades administrativas e orçamentárias como desenvolvemos um conjunto inovador de políticas públicas (nas quais destaca-se a noção de orçamento participativo!).

Contudo, foi na participação permanente nas campanhas presidenciais desde 1989 que o PT fixou sua marca e consolidou a sua principal liderança. A eleição de Lula para Presidente em 2002 (como também da 2ª maior bancada da Câmara dos Deputados) pode ser considerado a feliz conclusão de um trabalho árduo de construção coletiva. Entretanto, tamanho crescimento não se faz sem custos e crises. A aquisição progressiva de competitividade eleitoral equivaleu tanto a um pragmatismo político ideológico como a um desencanto de um certo essencialismo ético do qual o partido e sua militância julgavam-se detentores monopolistas. Ou seja, o processo de profissionalização da atividade política-partidária (com o hegemonismo interno da articulação e do modus operandi seus operadores), fundamental para a eficiência organizativa e para os sucessos eleitorais consecutivos, equivaleu a um estranhamento progressivo com relação as tarefas de vocalização da sociedade civil (fonte de força originária e democrática do PT). Aliás, a macro estratégia político-eleitoral PT de 2010, fator decisivo para a vitória presidencial de Dilma e para a eleição da maior bancada de deputados federais e a 2ª de senadores, reforça e legitima essa tendência. Pois, ao mesmo tempo em que consolida o poder central do PT e cristaliza o governo de coalizão com o PMDB, o descredencia nas esferas estadual e municipal. Na verdade, tal condomínio de poder do PT e PMDB consagra uma espécie de divisão de trabalho entre eles: dividir o poder reforçando suas áreas especializadas de atuação e influência (nacional e local). O que é no mínimo problemático para consistência das políticas públicas! É só observar o quadro tétrico em que se encontra a educação pública no nosso estado e contrastar com as instituições federais de educação.

O elemento trágico desse enredo, uma espécie de "pacto mefistofélico" contemporâneo, encontrou no caso "mensalão" sua tradução plenamente kitsch: a adesão eficiente à realpolitik ordinária de nosso campo político transformou-se no "maior caso de corrupção de todos os tempos". O ridículo dessa ópera bufa não intimidou os arroubos golpistas tanto da velha mídia como dos partidos da oposição neoliberal. Pelo contrário, esse veneno contaminou toda cultura política e interditou o debate qualificado de nossa esfera pública: ao contrário de debatermos os grandes temas nacionais somos cativos de ciclos de denuncismo pseudomoralizador. O mais irônico é que a causa estrutural da corrupção política, nosso "sistema" de financiamento eleitoral, nunca é debatida à vera!

Um outro fenômeno colateral dessa "crise de crescimento", e reflexo do sucesso inegável dos dois Governos do PT sob a liderança de Lula, é o chamado Lulismo. O fato é que se "vontade geral" do povo brasileiro vem convergindo para a "vontade de todos" das votações do PT, o seu portador pessoal e intransferível é Lula. O governo Dilma, de perfil gerenciador e carente de discurso político, tem em Lula uma espécie de fiador institucional oculto (nada como a expectativa, mesmo que virtual, de poder!).

Pois bem, essa intensa e vitoriosa história parece qualificar o PT para os novos e crescentes desafios coletivos. Esperamos que o partido e suas principais lideranças estejam a altura deles.

O irônico dessa avaliação, da existência do espaço desse blog (para além do "recorte geracional"!) e do sui generis orgulho político implícito contido nela, é que ela ocorre num dos "elos mais fracos" dessa vida institucional. Com certeza o PT do estado do Rio e de Campos são daquelas esferas partidárias que menos contribuem para a luta pela hegemonia política em nossa sociedade. Para além da qualidade nossa virtú política e organizativa, essa parece ser uma daquelas situações adequadas ao velho e sábio argumento estóico:

"Há o que depende de nós; há o que não depende de nós. Dependem de nós a opinião, o impulso, o desejo, a aversão, numa palavra, tudo aquilo de que somos os próprios agentes. Não ependem de nós o corpo, a riqueza, a reputação, os altos postos, numa palavra tudo aquilo de que não somos os próprios agentes."

5 comentários:

Comando de Greve - campus Cabo Frio disse...

Bravo, caro amigo, bravo!!

Anônimo disse...

Muito bom, Gustavo!
Abr,
Norma

Severino disse...

E isso ai sempre na luta!

Anônimo disse...

Estão de férias???

Anônimo disse...

Está fazendo falta a postagem de vocês!!!
Espero que depois do carnaval, voltem com bastante gás.
Bom carnaval!!!