quarta-feira, 20 de abril de 2011

O futuro da comunicação


Do Observatório do Direito à Comunicação:


A Frente Parlamentar pela Liberdade de Expressão e o Direito à Comunicação com Participação Popular (Frentecom) lançada nesta terça-feira(19) tem o desafio de pautar no Congresso Nacional a reformulação no marco regulatório do setor. Quase 50 anos depois que o Código Brasileiro de Telecomunicações (CBT) protagonizou embates políticos nacionais,em 1962, 190 deputados federais de dez partidos - até o momento - têm o apoio de mais de 70 entidades da sociedade civil para enfrentar a falta de cumprimento e regulamentação da Constituição de 1988 nos capítulos destinados à comunicação.


A pressão sob o Congresso se intensifica pelo fato de a legislação vigente estar defasada em um ambiente de convergência tecnológica. A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) explicou o processo de construção da Frente: "A ideia vem da necessidade de um novo marco regulatório, que acompanhe os avanços tecnológicos e as necessidades da sociedade". Para a deputada, escolhida coordenadora da Frente, esta é uma continuação do processo que se iniciou com a I Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), em 2009.


A reativação do Conselho de Comunicação Social pelo Congresso foi pauta ratificada pelas entidades da sociedade civil presentes no auditório da Câmara dos Deputados. Rosane Bertotti, representante da Central dos Movimentos Sociais (CMS), reafirmou a necessidade da repercussão das atividades da Frente nos estados. "A luta pela democratização da comunicação começa no Congresso, mas deve iniciar a criação de frentes e conselhos regionais de comunicação", disse Rosane.


Já o deputado Emiliano José (PT-BA) ressaltou que os empresários foram convidados para participar da Frentecom, mas liderados pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV (Abert), várias entidades do segmento não formalizaram seu ingresso na Frente. Do campo empresarial, somente a Associação Brasileira de Empresas e Empreendedores de Comunicação (Altercom) e Associação dos Jornais do Interior do Estado de São Paulo (Andijor-SP) integram a Frentecom.


O deputado Emiliano avaliou que a concentração abusiva da propriedade é marca do panorama do setor no país. "Existe expropriação do direito da sociedade se comunicar corretamente. Não podemos continuar com um grupo de família interpretando o Brasil sob sua lógica e ideologia", completou o parlamentar baiano.


Outro assunto citado no lançamento foi o Fundo de Universalização dos Serviços de Telecomunicações (Fust). O deputado Ivan Valente (PSOL-SP) defendeu que o Fundo não deve ser usado nem por empresas privadas, nem para o superávit primário. Além disso, entidades da sociedade civil lembraram que a banda larga deve ser transformada em um serviço público com metas de universalização e não de massificação.


As atividades da Frentecom já começam no dia 27 de abril, quando a coordenação da frente se reunirá pela primeira vez. No dia 28 de abril, haverá uma audiência pública com o ministro das Coumunicações Paulo Bernardo.

quinta-feira, 14 de abril de 2011


Contra todos os maus agouros recebidos depois que deixou a presidência, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, não poderia estar melhor - no âmbito internacional, lembrem-se. Apesar de a mídia tupiniquim insistir em desdenhá-lo, ele só recebe loas pelos lugares onde passa. Agora, segundo o historiador Eric Hobsbawm, Lula “ajudou a mudar o equilíbrio do mundo ao trazer os países em desenvolvimento para o centro das coisas”.

Do site uol: Ícone da historiografia marxista, ele se reuniu nesta quarta-feira (13) com Lula na residência do embaixador brasileiro em Londres, Roberto Jaguaribe. O convite foi feito pela equipe de Lula. Autor do clássico “Era dos Extremos”, Hobsbawm é considerado um dos maiores intelectuais vivos. Na saída da embaixada, ele deu uma rápida entrevista quando já estava sentado no banco de trás do carro, ao lado da mulher. Falando com dificuldade, o historiador teceu elogios ao governo Lula e disse que espera revê-lo mais vezes. O encontro durou cerca de uma hora e meia. “Lula fez um trabalho maravilhoso não somente para o Brasil, mas também para a América do Sul.” Em relação ao seu papel após o fim do seu mandato, Hobsbawm afirmou que, “claramente Lula está ciente de que entregou o cargo para um outro presidente e não pode parecer que está no caminho desse novo presidente”. “Acho que Lula deve se concentrar em diplomacia e em outras atividades ao redor mundo. Mas acho que ele espera retornar no futuro. Tem grandes esperanças para [tocar] projetos de desenvolvimento na África, [especialmente] entre a África e o Brasil. E certamente ele não será esquecido como presidente”, disse. Sobre o encontro, disse que foi uma “experiência maravilhosa”, especialmente porque conhece Lula há bastante tempo. “Eu o conheci primeiro em 1992, muito tempo antes de ser presidente. Desde então, eu o admiro. E, quando ele virou presidente, minha admiração ficou quase ilimitada. Fiquei muito feliz em poder vê-lo de novo.”
A respeito da presidente Dilma Rousseff, Hobsbawm afirmou que só a conhece pelo que lê nos jornais e pelo que lhe contam, mas ressalta a importância de o país ter a primeira mulher presidente. “É extremamente importante que o Brasil tenha o primeiro presidente que nunca foi para a universidade e venha da classe trabalhadora e também seja seguido pela primeira presidente mulher. Essas duas coisas são boas. Acredito, pelo que ouço, que a presidente Dilma tem sido extremamente eficiente até agora, mas até o momento não tenho como dizer muito mais”, falou.





sexta-feira, 8 de abril de 2011

Dilma e os 100 dias!!

Primeiro quero pedir desculpas pela nossa ausência. Estamos todos muito envolvidos com questões tantas, que, às vezes, nem dá tempo para escrever e para também evitar o "mais do mesmo."

Hoje, entretanto, achei um artigo interessante sobre a questão da religiosidade e a influência desta na campanha eleitoral:

Do jornal Valor:

Se a comparação são os oito anos de Luiz Inácio Lula da Silva é de trégua que parece viver o poder nos primeiros 100 dias do governo Dilma Rousseff. Mas se a analogia é da presidente com a imagem que dela projetou a acirrada campanha eleitoral não é apenas de mais calmaria que se vive. Parece outro o país que há quatro meses parecia estar a caminho de se transformar numa república de incréus abortistas.

O tema sumiu de cena como entrou. A presença de uma presidente duas vezes divorciada no Planalto em nada altera a rotina de um país em que os abortos clandestinos continuam matando. Com ou sem bíblia a guiá-la, a oposição continua igualmente perdida.

Ainda parece difícil acreditar que uma campanha obscurantista como aquela chega e vai embora sem deixar sobras. Foi nesse rastro que, levado por um aluno, Antônio Flávio Pierucci acompanhou cultos de uma igreja pentecostal durante a campanha. O que assistiu ao vivo, do púlpito à internet, lhe dava conta da mais radical intromissão da religião numa disputa eleitoral.

Chefe do Departamento de Sociologia da USP e estudioso de longa data da religiosidade popular, Pierucci mergulhou no tema sob o temor de encontrar mais indícios do terreno que a fé havia ganho sobre a política.

Pois acabou concluindo o contrário. Em artigo que abre o mais recente número da Novos Estudos/Cebrap, chega a demolidora conclusão: a inflamada campanha teve um efeito secularizante.

s cultos a que assistiu na campanha não esqueceu dos sermões alertando os fiéis de que, eleita Dilma, os pastores seriam obrigados a fazer casamentos gays e a bíblia seria censurada. Em outros cultos, pastores conclamavam a audiência a gritar em uníssono em qual candidato eles não deveriam votar. Levantavam o braço direito e repetiam: Dilma, Dilma, Dilma.

Passando em revista os cultos, a internet, a imprensa, as cartas eclesiásticas e os santinhos, Pierucci está convicto de que a religiosidade das massas pregou uma peça naqueles que a tinham convocado a assumir o papel de protagonista da sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva.

Diz que o desfecho do primeiro turno, com a reação desordenada de Dilma à exploração de suas posições abortistas e a votação surpreendente de Marina Silva, contribuiu para reforçar as expectativas dos utilitaristas da religião. A confiança foi tanta que, no segundo turno, os estrategistas perderam o controle da direção.

O tiro saiu pela culatra, mas Pierucci achou por bem buscar nos estudos de comportamento eleitoral um nome para a coisa: efeito fariseu.

Baseou-se no termo cunhado por uma dupla de psicólogos da Universidade do Alabama, Larry Powell e Eduardo Neiva, que analisaram o insucesso do candidato republicano Roy Moore na campanha de 2006. Candidato ao governo do Alabama, Moore apresentava-se como justiceiro da moral e da religião - o "juiz dos Dez Mandamentos". Perdeu.

A derrota foi atribuída à tentativa excessiva de persuadir o eleitor da personalidade religiosa do candidato. Pierucci compara o slogan de Moore aos santinhos em que a foto de José Serra, por ele assinada, se fazia acompanhar da sentença "Jesus é a verdade e a justiça".

Os americanos recorreram a uma parábola do evangelho de São Lucas e apelaram ao efeito fariseu para explicarem a derrota de Moore. Na parábola, o fariseu exalta e se orgulha de sua prática religiosa fazendo-se passar por santo. Lucas diz que Jesus, nesta parábola, quis recriminar quem faz pose turbinada de devoto.

Pierucci não tem dúvidas de que, na campanha de 2010, o eleitor religioso viu excessos no emprego tático de um Serra piedoso explorando as fraquezas de uma pecadora. Isso teria neutralizado até mesmo reações desencontradas de Dilma, como o batismo televisionado do seu neto de 15 dias.

Ao fazer-se passar por santo, o candidato do PSDB desprezou o risco de que o bumerangue em brasa ardente do inferno poderia voltar. Foi o que Pierucci avalia ter acontecido quando, na metade de outubro, Sheila Canevacci Ribeiro relatou no Facebook o depoimento da esposa do candidato sobre sua experiência de aborto.

Filha de uma socióloga que havia sido candidata a vice-prefeita de Osasco (SP), pelo PSDB, Sheila foi aluna de dança de Mônica Serra na Universidade de Campinas.

Não se dizia portadora de uma denúncia porque Mônica, segundo relataria à jornalista Mônica Bergamo, da "Folha de S. Paulo", não havia confessado o aborto, mas usado sua experiência para demonstrar às alunas como traumas afetam os movimentos do corpo.

O relato ganhou a internet e logo chegou às igrejas. Eleitor costuma ter sua inteligência insultada durante as campanhas eleitorais de todas as cores ideológicas. Mas a de 2010 foi além. Dispôs-se a manipular a espiritualidade do eleitor.

Pierucci ficou até o fim do segundo turno na expectativa da reação. A insatisfação das igrejas com a terceira versão do Plano Nacional de Direitos Humanos - um documento que se limita a tratar do aborto como questão de saúde pública e a recomendar o reconhecimento legal do casamento gay - era tamanha que ele não acreditava em capitulação. Some-se a isso o avanço da Igreja Universal - que não condena o aborto - no governo Lula e estava dada a medida do engajamento.

Ainda na quaresma, a campanha da fraternidade lançara o lema "Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro" numa demonstração de que enfrentaria interesses materialistas satisfeitos no governo Lula.

E a reação efetivamente veio com o papa. Num encontro com bispos brasileiros às vésperas do segundo turno Bento XVI condenou a descriminalização do aborto e advogou o direito de os bispos emitirem "juízo moral sobre matérias políticas".

É à desproporção entre este engajamento e a resposta do eleitor que Pierucci atribui o efeito secularizante da campanha. E aposta que serviu de vacina ao uso desmensurado da religião em futuras disputas.

Entre o moralismo religioso mistificado e a liberdade de escolha na indevassável cabine de votação, o eleitor optou por esta última. Por mais desorganizada que pareça a orquestra, conclui, a religião consegue no máximo o papel de segundo violino.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política.

E-mail mcristina.fernandes@valor.com.br

quinta-feira, 17 de março de 2011

Dilma da Rede TV!

Li muitas críticas à presidenta Dilma na blogosfera quando ela começou a comparecer em programas de televisão, digamos, populares. Alguns diziam que ela estava se rendendo a grande mídia, a mesma que a descaracterizou durante toda sua campanha e agora estavam se aproximando para depois voltar à carga e detonar o Governo. Senti nesses textos um pouco de dor de cotovelo. Obviamente, o apoio recebido na campanha pela blogosfera foi positivo, enquanto a velha mídia se contorcia e tentava a todo custo desqualificá-la. O que não podemos esquecer é : apesar de não ser mais tão hegemônica, essa mídia ainda tem a maior audiência do que a internet. Muito pontual, ela foi ao programa da Ana Maria Braga e agora, ao da Hebe Camargo. Programas apresentados por mulheres e assistidos por mulheres de faixa etária específicas e que, talvez, acessem muito pouco a internet. Deu seu recado, se mostrou uma mulher simples, decidida e se disse igual a todas elas. Reforçou o seu objetivo como presidenta da República e mostrou seu orgulho por isso. Ponto para a presidenta. Ponto para a sua assessoria de comunicação.
Como dizia o velho Chacrinha: quem não se comunica, se trumbica. O resto, é dor de cotovelo !

terça-feira, 15 de março de 2011

Obama, quem diria, acabou na Cinelândia...


Depois da semana carnavalesca, centenas de blocos de arrastão e muito xixi nas ruas, quem diria, o carioca poderá conhecer ao vivo e em cores, o presidente dos EUA, Barack Obama. Segundo o site G1, ele fará um discurso à tarde, gratuito, aberto ao público e direcionado a todos os brasileiros?!!! A entrada será a partir de 11:30 h e o discurso do presidente será traduzido?!!!!
Resumo: finalmente se lembraram que o inglês não é nossa língua oficial, que o Brasil fica na América do Sul e que nossa capital não é Buenos Aires (será que lembraram disso mesmo?)
O site da embaixada dos EUA ainda promove um "concurso" e convida os internautas para que enviem mensagens em formato de vídeo ou texto para dar as boas-vindas ao presidente, também sugere que os participantes sejam criativos, “pois poderão ganhar um prêmio”. O primeiro lugar leva um Ipad, o segundo, um Iphone, e o terceiro uma camiseta do evento. Que coisa!! Estou pensando em participar com um cartaz, daqueles bem tradicionais: yankees, go home!
No cartaz postado acima, nas linhas pequenas abaixo você pode ler o seguinte: "importante: a fim de agilizar o seu acesso ao local do discurso, tenha em mãos somente sua carteira e documentos (bolsas e mochilas não serão permitidas)". Ou seja, se você conseguir passar pelo esquema de segurança num raio de 10 km, vai poder assistir esse momento histórico para o Brasil.
Alguns dirão que essa visita é simbólica, pode representar o reconhecimento dos EUA ao novo Brasil - mais forte economicamente e com sua política externa em dia - é, pode ser ou deve ser. Mas se fosse para optar, eu ainda preferirira mais uma semana atrás dos blocos de carnaval.

sábado, 5 de março de 2011

Nossa Fantasia

Bem, caros leitores, é Carnaval e embalada pela folia de Momo, saio de cena aqui no blog, e vou arrastar minha alegria por aí.

Deixo aqui a bela letra da Marchinha vencedora do Concurso Nacional de Marchinhas da Fundição Progresso e abaixo o vídeo.

Vou soltar umas serpentinas...

Nossa Fantasia
Eu quero a marcha mais bonita
Que toque em dias de folia
Quero eternas melodias
Embalando os blocos e seus foliões
Não quero a mera nostalgia
Que mora em carnavais de outrora
Quero é ser feliz agora
Com amor presente em nossos corações
Eu acredito que ainda exista espaço
Pra canção bonita que jamais morreu
Pois apesar de tantos descompassos
Posso ver palhaços loucos como eu
Vem, amor
Que hoje é carnaval
Vem cantar até raiar o dia
Vem, amor
Que hoje é carnaval
Ser feliz é nossa fantasia

quinta-feira, 3 de março de 2011

Quer ganhar uma eleição?

Na última eleição para a presidência ficou claro o que as posições conservadoras em relação ao aborto, religião e união civil entre casais homossexuais pesam na hora da escolha dos candidatos.
Algum candidato a uma eleição majoritária ganharia defendendo essas bandeiras hoje no Brasil?
O texto abaixo de Cynara Menezes  na Carta Capital analisa uma pesquisa feita pela Fundação Perseu Abramo, no ano passado.

Quer ganhar uma eleição?

Postado Por Cynara Menezes Em 2 de março de 2011 (17:02) Na Categoria Destaques CartaCapital


Então nunca defenda a descriminalização da maconha ou do aborto nem se declare ateu ou umbandista. Por Cynara Menezes. Foto: Istockphoto

O pesadelo do eleitor brasileiro é um candidato, homem ou mulher, que se declare a favor da legalização do aborto e da maconha, que diga não acreditar em Deus ou que professe religiões afro-brasileiras. Uma pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo e pelo Sesc, divulgada com exclusividade por CartaCapital, aponta para um perfil assustadoramente conservador do eleitorado, que se reflete sobretudo na corrida pelos cargos majoritários. A guinada conservadora de José Serra na última campanha teve seu cálculo: está comprovado que ser progressista, em termos morais, tira votos.

A pesquisa foi feita em agosto do ano passado, antes da disputa pela Presidência. Foram ouvidos 3.546 eleitores de ambos os sexos em todo o País. O lado bom da história foi descobrir que nos últimos dez anos aumentou o interesse das mulheres pela política e que passou a ser considerado importante que existam mais representantes do sexo feminino em cargos públicos – está aí a presidenta Dilma Rousseff para confirmar. Também se viu que, para o eleitor atual, praticamente não existe diferença no fato de o candidato ser homem ou mulher. E até que seja gay, desde que não defenda a união civil entre homossexuais, razão de rejeição de um candidato por 43% do eleitorado. A maioria (52%), respondeu que sim, poderia votar em um político com essa bandeira.

Eleito deputado federal pelo PSOL do Rio de Janeiro com pouco mais de 13 mil votos, Jean Wyllys se espanta com o resultado da pesquisa: “O bicho-papão dos eleitores sou eu”. Militante dos direitos LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros), defensor da descriminalização da maconha e do aborto e praticante do candomblé, mesmo tendo se tornado bastante conhecido no País ao vencer uma edição do reality show Big Brother, Wyllys só chegou ao Congresso graças ao desempenho de seu companheiro de partido, Chico Alencar, que recebeu 240 mil votos na disputa e foi o segundo mais votado no estado.

Com a senadora petista Marta Suplicy, Wyllys reúne assinaturas para compor a Frente Parlamentar pela Cidadania LGBT. O tabu é tal em torno do assunto que até agora ele só conseguiu 78 das 171 assinaturas necessárias para a criação da frente. E, mesmo assim, porque firmou o compromisso de não divulgar os nomes dos deputados, para não “contrariar as bases”. Sabe-se que tem gente do PT, do PMDB, do PSOL, do PPS, do PSDB e até do DEM, mas muitas vezes a questão religiosa supera a partidária. A petista Benedita da Silva, por exemplo, recusou-se a se unir ao grupo por ser evangélica.

No fim de janeiro, o portal de notícias G1 ouviu 414 dos 513 deputados para saber sobre sua opção religiosa. Quase 75% se disseram católicos, ou 309 parlamentares, enquanto 43 (10,4%) se declararam evangélicos, e 8 (1,93%) espíritas. Os possíveis praticantes de religiões afro-brasileiras – umbanda e candomblé – e os ateus ficaram ocultos entre os 41 parlamentares abrigados sob a nomenclatura “nenhuma religião, outras ou não respondeu”. Entre os deputados e senadores, existem pastores evangélicos e já houve ex-sacerdotes católicos. Nunca apareceu, porém, nenhum pai de santo.

“Muitos aqui devem praticar o candomblé ou a umbanda às escondidas, assim como devem ter levado companheiras para praticar o aborto às escondidas. Não têm coragem de vir a público nem para se dizerem praticantes de ritos afro-brasileiros nem para se manifestarem a favor da descriminalização do aborto. O mesmo ocorre com o eleitorado”, opina Wyllys.

Segundo o professor de Ciência Política da USP Gustavo Venturi, que coordenou a pesquisa, a discriminação das religiões de matriz africana já é velha conhecida no Brasil, principalmente pela demonização dos ritos feita por parte dos neopentecostais. O que não se sabia era como atingia o eleitor na hora de votar. “A pesquisa mostra que ainda existe um conservadorismo grande em termos de valores morais e comportamentais”, avalia Venturi. “São questões que não mudam mesmo com a inclusão no mercado de consumo das classes mais populares, porque são de maturação lenta.”

Um político, diz o pesquisador, que se apresentasse na campanha abertamente como praticante do candomblé e simpático à ideia de descriminalizar as drogas e o aborto, neste momento, jamais seria eleito para um cargo majoritário no Brasil. “Com a eleição em dois turnos, ter posições controversas deixa um candidato ainda mais longe da vitória.”

A solução estaria em promover discussões públicas. “Para chegar a uma liberalidade efetiva é necessário haver debates específicos, e fora do período eleitoral. Durante a campanha, é até melhor que esse debate nem aconteça, porque é superficial”, afirma Venturi.

E no Ibope… Nem 10% da população aceita que uma mulher aborte por vontade própria

Em novembro de 2010, A ONG Católicas pelo Direito de Decidir, favorável à descriminação do aborto, resolveu encomendar ao Ibope uma pesquisa para saber se, de fato, os brasileiros eram tão contrários à prática quanto pareciam, dado o interesse em explorar negativamente o tema na eleição presidencial. Os resultados foram ainda piores do que o esperado: apenas 9% dos 2002 entrevistados em 140 municípios do País se disseram favoráveis à realização do aborto no caso mais comum, quando o anticoncepcional falha. E só 8% quando a mulher diz não possuir condições econômicas para ter uma criança.

Os brasileiros demonstraram estar preparados para admitir o aborto somente em circunstâncias em que ele já é legal, como o risco de vida para a mãe e em casos de estupro, e na evidência de má-formação do feto, ainda sob apreciação do Supremo Tribunal Federal. “Tínhamos a expectativa de que a situação estivesse melhor, mas a posição conservadora se manteve”, diz Rosângela Talib, uma das coordenadoras da ONG. “Os setores mais conservadores colocaram a descriminação do aborto como se representasse assassinato de crianças. E, infelizmente, parece que esse discurso colou. Temos um caminho de discussão com a sociedade ainda longo pela frente.”

Os números da pesquisa indicam que o Brasil deverá demorar muito tempo até aprovar a descriminação do aborto, como aconteceu na Espanha, em Portugal e na Cidade do México. Lá, os temores de que, com a liberação, os casos de interrupção da gravidez aumentassem não se concretizaram. “O que ocorre num primeiro momento é que, como há uma demanda reprimida, o número de abortos cresce, mas logo se estabiliza”, defende Rosângela. “Ninguém em sã consciência é a favor do aborto, o ideal seria não precisar abortar. O fato é que, quando se descrimina a prática, amplia-se a conscientização e o uso de métodos contraceptivos, porque a mulher tem mais acesso à saúde pública. Este, sim, é o objetivo principal.”

Um dado positivo da pesquisa é que a maioria dos entrevistados opinou que a decisão de ter ou não um filho é exclusiva da mulher, não de uma igreja, do governo, do Judiciário ou do Congresso. Infelizmente, elas dependem dos legisladores para que essa decisão majoritariamente sua seja possível. Por ser a defesa do aborto um assunto proibitivo, do ponto de vista eleitoral, quem terá coragem de tomar a iniciativa de recolocá-lo em debate?

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Partido dos Trabalhadores "cumple años"


O aniversário de 31 anos do Partido dos Trabalhadores se faz oportuno não só para celebrarmos o projeto político-partidário de maior êxito da esquerda brasileira, como também para exercício dialético da reflexão (auto)crítica.

O acúmulo de experiências dessa já longeva história permite um balanço mais detalhado do seu papel na vida pública nacional. Um dos aspectos mais interessantes desse ator coletivo é o fato de ter construído (e se constituído) uma trajetória inovadora no campo de esquerda, pois ao contrário do modelo revolucionário predominante de linha leninista-vanguardista ("guerra de movimentos") com vistas à tomada do Estado, o PT sempre exerceu seu desejo de protagonismo atuando como um ator gramsciano espontâneo. Isto é, na ausência um plano a priori da ação estratégica, o PT fez do trabalho de mobilização, organização e articulação dos diferentes atores da sociedade civil sua razão de ser e com isso jogou um papel decisivo no processo de redemocratização do Brasil. A sua polifonia interna, além de representar tendências ideológicas demarcadas da tradição de esquerda, serviu de reflexo da pluralidade de vozes oprimidas, excluídas e minoritárias de nossa vida política. Portanto, além contribuir para o fim da ditaduta militar, nas últimas 3 décadas o PT foi decisivo para a organicidade dos interesses e das vontades da cidadania brasileira.

Esse "triunfo da vontade" democrática ganhou concretude na década de 90 com as primeiras gestões estaduais e municipais do partido nas quais, sob a égide do "modo petista de governar", não só invertemos prioridades administrativas e orçamentárias como desenvolvemos um conjunto inovador de políticas públicas (nas quais destaca-se a noção de orçamento participativo!).

Contudo, foi na participação permanente nas campanhas presidenciais desde 1989 que o PT fixou sua marca e consolidou a sua principal liderança. A eleição de Lula para Presidente em 2002 (como também da 2ª maior bancada da Câmara dos Deputados) pode ser considerado a feliz conclusão de um trabalho árduo de construção coletiva. Entretanto, tamanho crescimento não se faz sem custos e crises. A aquisição progressiva de competitividade eleitoral equivaleu tanto a um pragmatismo político ideológico como a um desencanto de um certo essencialismo ético do qual o partido e sua militância julgavam-se detentores monopolistas. Ou seja, o processo de profissionalização da atividade política-partidária (com o hegemonismo interno da articulação e do modus operandi seus operadores), fundamental para a eficiência organizativa e para os sucessos eleitorais consecutivos, equivaleu a um estranhamento progressivo com relação as tarefas de vocalização da sociedade civil (fonte de força originária e democrática do PT). Aliás, a macro estratégia político-eleitoral PT de 2010, fator decisivo para a vitória presidencial de Dilma e para a eleição da maior bancada de deputados federais e a 2ª de senadores, reforça e legitima essa tendência. Pois, ao mesmo tempo em que consolida o poder central do PT e cristaliza o governo de coalizão com o PMDB, o descredencia nas esferas estadual e municipal. Na verdade, tal condomínio de poder do PT e PMDB consagra uma espécie de divisão de trabalho entre eles: dividir o poder reforçando suas áreas especializadas de atuação e influência (nacional e local). O que é no mínimo problemático para consistência das políticas públicas! É só observar o quadro tétrico em que se encontra a educação pública no nosso estado e contrastar com as instituições federais de educação.

O elemento trágico desse enredo, uma espécie de "pacto mefistofélico" contemporâneo, encontrou no caso "mensalão" sua tradução plenamente kitsch: a adesão eficiente à realpolitik ordinária de nosso campo político transformou-se no "maior caso de corrupção de todos os tempos". O ridículo dessa ópera bufa não intimidou os arroubos golpistas tanto da velha mídia como dos partidos da oposição neoliberal. Pelo contrário, esse veneno contaminou toda cultura política e interditou o debate qualificado de nossa esfera pública: ao contrário de debatermos os grandes temas nacionais somos cativos de ciclos de denuncismo pseudomoralizador. O mais irônico é que a causa estrutural da corrupção política, nosso "sistema" de financiamento eleitoral, nunca é debatida à vera!

Um outro fenômeno colateral dessa "crise de crescimento", e reflexo do sucesso inegável dos dois Governos do PT sob a liderança de Lula, é o chamado Lulismo. O fato é que se "vontade geral" do povo brasileiro vem convergindo para a "vontade de todos" das votações do PT, o seu portador pessoal e intransferível é Lula. O governo Dilma, de perfil gerenciador e carente de discurso político, tem em Lula uma espécie de fiador institucional oculto (nada como a expectativa, mesmo que virtual, de poder!).

Pois bem, essa intensa e vitoriosa história parece qualificar o PT para os novos e crescentes desafios coletivos. Esperamos que o partido e suas principais lideranças estejam a altura deles.

O irônico dessa avaliação, da existência do espaço desse blog (para além do "recorte geracional"!) e do sui generis orgulho político implícito contido nela, é que ela ocorre num dos "elos mais fracos" dessa vida institucional. Com certeza o PT do estado do Rio e de Campos são daquelas esferas partidárias que menos contribuem para a luta pela hegemonia política em nossa sociedade. Para além da qualidade nossa virtú política e organizativa, essa parece ser uma daquelas situações adequadas ao velho e sábio argumento estóico:

"Há o que depende de nós; há o que não depende de nós. Dependem de nós a opinião, o impulso, o desejo, a aversão, numa palavra, tudo aquilo de que somos os próprios agentes. Não ependem de nós o corpo, a riqueza, a reputação, os altos postos, numa palavra tudo aquilo de que não somos os próprios agentes."

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lula no FSM




Deu no Blog do Rovai:

A grande atração de hoje no Fórum Social Mundial foi a mesa da qual participaram o ex-presidente Lula e o presidente do Senegal Abdulaye Wade. Lula falou antes do senegalês. Sorte do público, que teve a liberdade de ir embora depois da fala do brasileiro sem ter de ouvir uma empolgada defesa do liberalismo econômico.

Lula deu sinais no discurso de hoje que começou a desencarnar. Na entrevista concedida aos blogueiros em dezembro ele disse que precisa de um tempo fora da presidência para poder começar a falar alguma coisas. Seu discurso voltou a ser mais petista. E de um petismo fora do governo. O que pode ser muito interessante para puxar o partido para uma linha menos recuada.

Lula falou sem meias palavras que a crise financeira de 2008 comprovou que o consenso de Washington e a agenda neoliberal fracassaram. Que os países ricos sempre trataram a periferia do mundo como problemática e perigosa e que só quando a crise atingiu o centro do capitalismo mundial é que eles buscaram dialogar com esse setor pra tentar resolver o problema deles.

Também deu pau na direita européia e estadunidense “que aponta a imigração como responsável pela corrosão do sistema econômico dos seus países”.

Chamou a elite africana na chincha e deu recados explícitos ao presidente senegalês. “Não há soberania efetiva sem soberania alimentar. As savanas africanas têm 400 mil hectares e só 10% disso é aproveitado para agricultura. Mesmo assim, 1/ 4 de toda a produção de alimentos do continente vem dali. É preciso começar a mudar essa situação”.

O futuro presidente de honra do PT também afirmou que “é fundamental a criação do Estado Palestino que tenha condições de se desenvolver e que conviva em paz com Israel”.

E lembrou que, em 2005, quando visitou a Ilha de Gore, pediu perdão em nome de todos os brasileiros pelo período de escravidão no seu país. Mas acrescentou: “a melhor maneira que temos de fazer essa reparação não é só pedir perdão, mas lutar por uma África justa”.

No âmbito das organizações internacionais, Lula disse que o G20 não tem sensibilidade para o problema da fome e para outras questões que deveriam ser prioridades no mundo. E que enquanto presidente do Brasil nunca foi chamado para uma reunião dos países ricos. “Só fomos chamados quando eles entraram em crise.”

Ao final Lula provocou os presentes dizendo que não bastava ser militante só durante o FSM, mas que era preciso sê-lo durante os 365 dias do ano. Depois desse discurso forte e posicionado de Lula, traduzido pelo sociólogo Emir Sader para o francês, o presidente do Senegal iniciou sua fala também de forma forte e posicionada.

Mas dizendo que era partidário da economia de mercado, porque a economia de Estado havia sido um fracasso onde tinha sido implantada. Mas que achava que a economia de mercado precisava de um regulação do Estado liberal. Para na seqüência perguntar à platéia: “Por que o liberal que eu sou abre as portas do seu país para um evento como Fórum? Para responder em seguida que é porque ele acha importante o debate de idéias.

A intervenção de Abdulaye Wade só não foi mais constrangedora, porque o público do FSM deu mais uma demonstração de grandeza e sabedoria política e não o deixeou falando literalmente sozinho. Algumas pessoas saíram do auditório durante sua “aula de neoliberalismo”, mas a maioria respeitou o contraditório. E ficou até o final.

Um pouco antes de terminar, Abdulaye Waded decidiu fazer uma pergunta meio boba à platéia, até de forma deselegante, dizendo que achava que nesses 10 ano o FSM não tinha conseguido nada de concreto e se tinha o que era?

Teve de ouviu um grito em uníssono de Lula, Lula, Lula que ecoou por uns 3 minutos na sala. Lula estava no 1º FSM, em 2001, antes de ser eleito presidente da República. E veio ao FSM de Dacar para fazer a seu primeiro discurso político público após deixar a presidência.

A provocação de Abdulaye Wade serviu para muitos altermundistas reivindicarem o ex-presidente Lula também como um símbolo internacional deste processo.

Aliás, não seria nada mal que Lula assumisse bandeiras do FSM e saísse por aí como um mascate de um outro mundo possível.

No comando mas sem igualdade

Reproduzimos o texto da jornalista argentina Matilde Sánchez, publicado no New York Times.
Sánchez aborda a questão do aumento significativo da representação política das mulheres na América Latina e ainda a questão do controle de natalidade e do aborto, tabu na maioria dos países do continente.

Buenos Aires

A eleição de Dilma Rousseff como presidente do Brasil gerou uma onda de euforia e colocou a América Latina na linha de frente da representação feminina na política mundial. A onda de mulheres eleitas presidentes vem, na verdade, dos anos 1990: Nicarágua, Chile e Panamá, aos quais se somaram na década seguinte Costa Rica, Chile, Argentina e agora o Brasil. Otimistas dizem que tal ascensão demonstra que as mulheres romperam o "teto de vidro" nesta região, onde o machismo ainda é disseminado.

A ascensão das mulheres às posições de poder é uma consequência direta das "leis de quotas" hoje adotadas por vários países da região, que preveem um mínimo de 30% de mulheres nos cargos eletivos.

Segundo a mais recente pesquisa encomendada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento, o Equador lidera, em termos de participação feminina no Parlamento, com mais de 25%, seguido de perto por Costa Rica, Argentina e Peru.

Mas a ascensão das mulheres não se reflete em todos os setores da sociedade. Embora elas representem 53% da força de trabalho na América Latina, segundo o BID, poucas ocupam os altos escalões nas empresas e nas finanças, e os salários ainda são bem inferiores aos dos homens. E, em outros campos que afetam o bem estar feminino, como adolescentes grávidas e violência doméstica, a região também está bem atrás.

Uma das questões complicadas que os argentinos ouvem dos turistas que visitam Buenos Aires é por que o aborto só é legal para deficientes vítimas de abusos sexuais ou em gestações de alto risco, se a Argentina se tornou o primeiro país latino-americano a permitir casamentos homossexuais.

O casamento gay foi aprovado em 2010, e exatos seis países da região se preparam para seguir o exemplo.

Já a Cidade do México descriminalizou o aborto em 2007. No final de 2008, o então presidente uruguaio, Tabaré Vázquez, vetou uma lei sobre aborto que havia sido aprovada no Congresso.

Em agosto do ano passado, a Human Rights Watch relatou proporções alarmantes de abortos na Argentina: 4 em cada 10 gestações no país eram interrompidas, uma das maiores taxas na América do Sul, apesar de um novo programa governamental que oferece acesso gratuito ao controle de natalidade. Segundo as pesquisas mais recentes da Human Rights Watch, em média 20% de todas as gestações na América Latina terminam em aborto -dos quais 4,5 milhões são feitos ilegalmente, e a gestante morre em 21% desses casos.

Algumas presidentes tentaram liberalizar suas políticas de gênero, mas isso fez delas alvos políticos. No Chile, Michelle Bachelet enfrentou forte oposição em seus esforços para oferecer gratuitamente a pílula do dia seguinte. Acabou tendo sucesso, em 2009, após quatro anos de luta. No Brasil, Dilma retirou suas declarações em favor do casamento homossexual e da descriminalização do aborto após sofrer duras críticas dos bispos e do papa Bento 16.

Nem sempre é possível contar com as líderes femininas na busca por políticas para as mulheres, disse Marta Lamas, antropóloga da Universidade Nacional Autônoma do México. "A lei de quotas não garante que as funcionárias cumpram uma agenda feminista", disse ela.

Lamas acrescentou que governos esquerdistas na região relutam em se voltar contra forças poderosas. "A Igreja Católica transformou sua luta contra o aborto em sua doutrina e bandeira, enquanto está claramente perdendo a batalha contra a homossexualidade."

Marianne Mollmann, diretora de ativismo da Divisão de direitos femininos da Human Rights Watch, lembra que nem todas as mulheres são feministas, e nem todos os homens são misóginos. "Embora a representação política seja chave, ela nunca será suficiente para gerar igualdade", disse ela.

A verdadeira paridade de gênero na América Latina, ao que parece, não pode ser alcançada pelo voto. As razões históricas para isso são a cultura machista predominante na região, e suas poderosas estruturas patriarcais e familiares, aliadas à Igreja Católica.

Mas a influência do Vaticano não é total. Em toda a América Central, templos e púlpitos são fóruns para a difusão de mensagens políticas, e poucos candidatos correm o risco de se indispor com a Igreja. Mas, segundo Lamas, há sinais de "pseudorreligiosos".

No México, por exemplo, 80% das mulheres em idade sexualmente ativa usam o controle da natalidade, mas, ainda assim, não deixam de se considerar crentes.

Mesmo depois de fazerem abortos, disse ela, poucas se dispõem a falar publicamente a favor da descriminalização. "Não é dos padres que elas têm medo, é da condenação social. É claramente uma questão de dois pesos, duas medidas."

Em seu romance "El País de las Mujeres", a nicaraguense Gioconda Belli satiriza os papéis de poder em sociedades impregnadas pelo sexismo. Ela atribui o progresso a um forte arquétipo feminino: o da mãe em oposição à da mulher trabalhadora. "Paradoxalmente, esse machismo flagrante permitiu que as mulheres ascendessem a posições políticas relevantes", diz Belli. "A matrona latino-americana é poderosa, enquanto no mundo desenvolvido a dispersão e a disfuncionalidade das famílias diluiu o arquétipo materno."

O latino-americano pode estar preparado para ver suas mães como chefes de Estado, mas ainda não está pronto para vê-las como parceiras em pé de igualdade.

Matilde Sánchez, editora do "Clarín" também escreve ficção. Envie comentários para intelligence@nytimes.com